A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

COSTA ANDRADE

Biografia

AngolaAngola

 

Poesias Eternas

Autobiografia

Já não é

Dádiva

 

 

 

 

 

 

 

 

Autobiografia

 

Não existe mais

a casa onde nasci

nem meu Pai

nem a mulembeira

da primeira sombra.

 

Não existe o pátio

o forno a lenha

nem os vasos e a casota do leão.

 

Nada existe

nem sequer ruínas

entulho de adobes e telhas

calcinadas.

 

Alguém varreu o fogo

a minha infância

e na fogueira arderam todos os ancestres.

 

Palavra de Poeta, Cabo Verde e Angola, de Denira Rozário, Bertrand Brasil, 1999)

topo

 

 

 

 

Já Não É...

 

Já não é a noite que promete algum desejo

e o amanhecer não reflecte mais quimeras

no olhar.

 

Aquilo que era sol em cada verso

são os caídos,

é a queda

de cada pedra companheira

movida ainda sabe-se lá por que impulsão

após a morte!

 

As palavras que prometem

vêm depois que silvam balas

e a decisão dos homens.

 

Restamos nós rochedos brutos da montanha

face voltada ao amanhã que sempre nos guiou.

 

Cairemos não importa.

 

Nós somos o carvão da luz futura.

 

Poesia com armas, Costa Andrade, Sá da Costa, Lisboa, 1975

topo

Dádiva




Sou mais forte que o silêncio dos muxitos

mas sou igual ao silêncio dos muxitos

nas noites de luar e sem trovões.





Tenho o segredo dos capinzais

soltando ais

ao fogo das queimadas de setembro

tenho a carícia das folhas novas

cantando novas

que antecedem as chuvadas

tenho a sede das plantas e dos rios

quando frios

crestam o ramos das mulembas.





...e quando chega o canto das perdizes

e nas anharas revive a terra em cor

sinto em cada flor

nos seus matizes

que és tudo o que a vida me ofereceu.

 

topo

Angola Voltar para Poetas de Angola

 

 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

1