OS
OPERADORES COGNITIVOS DO PENSAMENTO COMPLEXO
Humberto
Mariotti
A
verdadeira viagem da descoberta não é achar novas terras, mas ver o território
com novos olhos.
(Marcel
Proust)
Este capítulo é intencionalmente didático, pois não devemos perder de vista que ele faz parte de um livro escrito para não-especialistas. Contudo, convém lembrar mais uma vez a frase de Einstein: é importante tornar tudo tão simples quanto possível, porém não mais simples. Não poderia ser de outro modo, aliás, quando se procura resposta para a pergunta tantas vezes formulada: afinal, como pôr em prática o pensamento complexo? É o que procurarei fazer em seguida.
De
saída, esclareçamos a diferença entre cognição e conhecimento. A cognição
é o ato de adquirir o conhecimento. O conhecimento é o resultado da cognição:
é a tomada de consciência. Os operadores cognitivos facilitam a colocação em
prática do pensamento complexo. Fazem com que raciocinemos de outro modo e, com
isso, permitem que cheguemos a resultados diferentes dos habituais. Sua utilização
permite estabelecer o diálogo entre os pensamentos linear e sistêmico, isto é,
facilitam a religação de saberes oriundos desses dois modos de pensar. Por
isso, são também chamados de operadores de religação.
Os
operadores foram desenvolvidos ao longo do tempo por autores oriundos de várias
disciplinas. A idéia de apresentá-los e utilizá-los em conjunto como
instrumentos cognitivos se deve a Edgar Morin e está presente em vários de
seus textos. Trata-se de meios de ampliação de consciência, sobre os quais já
falei em um livro anterior[i].
Agora os retomo de maneira mais detalhada. Com
isso, procuro seguir, com Morin, a já mencionada recomendação de
Pascal:
“Trabalhar para
pensar bem”.[ii]
Morin não opõe binariamente o
pensamento linear (que nessa hipótese seria visto como “pensar mal”) ao
pensamento sistêmico (que seria “pensar bem”). “Trabalhar para pensar
bem” não é, necessariamente, o oposto simétrico de “pensar mal”: é um movimento mental
que ultrapassa o pensamento linear mas não o exclui. Significa utilizar o
pensamento complexo, que, como já sabemos, não é o oposto do pensamento
linear mas o inclui e complementa.
Ao longo deste livro falei mais de
uma vez sobre as pessoas integradoras, isto é, as que são capazes
de utilizar o pensamento complexo. Assinalei que essas pessoas não pensam
melhor nem pior do que as não-integradoras, as quais constituem a maioria da população:
apenas pensam de modo diferente. Se partirmos do princípio de que é importante
conservar as individualidades, a diversidade e a complexidade dos mundos natural
e cultural, concluiremos que a necessidade da existência de pessoas não-integradoras
e integradoras é importante e não deve desaparecer.
Vejamos algumas das características
do “trabalhar para pensar bem”, isto é, da prática do pensamento complexo
segundo Morin:
- religa saberes separados e
dispersos;
- desfaz o fechamento dos
conhecimentos em disciplinas estanques;
- procura reunir as disciplinas que foram separadas
(interdisciplinaridade, transdisciplinaridade);
- inclui um método para lidar com a
complexidade;
-
busca a circularidade entre a análise (a disjunção) e a síntese (a religação);
- reconhece que existe
multiplicidade na unidade e vice-versa;
- ultrapassa o reducionismo e o
“holismo” e reconhece a circularidade entre as partes e o todo;
-
reconhece que o cálculo, a quantificação e a mensuração são indispensáveis
como meios de conhecimento;
-
admite e procura lidar com a incerteza, a aleatoriedade, a imprevisibilidade e
as contradições;
- concebe e aceita a dialógica, que
inclui e ultrapassa lógica clássica;
-
compreende a autonomia, a individualidade, a idéia de sujeito e a consciência
humana;
-
chega às suas conclusões e diagnósticos tendo em conta o contexto e a relação
entre o local e o global;
- busca sempre a consciência de
solidariedade e responsabilidade;
- tem sempre em mente a necessidade de
aprender a lidar com o auto-engano, os esquecimentos seletivos, a autojustificação
e
a auto-indulgência.[iii]
Os
operadores cognitivos têm sido apresentados de vários formas. As que mostrarei
a seguir resultam do meu trabalho de exposição, interpretação, adaptação e
complementação das idéias de Morin. Não se deve imaginá-los isolados uns
dos outros. Também não se deve pensar que um deles seja mais ou menos eficaz.
Ao contrário, todos estão interligados e atuam de modo sinérgico, embora em
determinadas circunstâncias seja preferível utilizar um ou outro.
O
aprendizado do uso desses conceitos pode ser comparado ao da música. No início,
é como tocar um instrumento lendo a partitura. Com a prática, porém, a
partitura se torna dispensável e a peça e sua execução passam a fazer parte
da própria natureza do executante.
Vistos
por esse ângulo, os operadores são também instrumentos de autoconhecimento:
capacitam-nos a pensar, a refletir, a considerar os múltiplos aspectos de uma
mesma realidade. Permitem sobretudo a busca e o estabelecimento das ligações
entre objetos, fatos, dados ou situações que parecem não ter conexões
entre si. Possibilitam que entendamos como as coisas podem influenciar umas às
outras e que propriedades ou idéias novas podem emergir dessas interações.
Trata-se, pois, de instrumentos de articulação, que nos ajudam a sair da
linearidade habitual e enriquecem nossa capacidade de encontrar soluções,
desenhar cenários e tomar decisões. Devolvem-nos uma visão que havíamos
perdido ao longo de pelo menos três séculos de pensamento fragmentado.
Os
operadores cognitivos do pensamento complexo são os seguintes: 1) circularidade;
2) autoprodução; 3) dialógica (ou operador dialógico); 4)
o operador hologramático; 5) integração sujeito-objeto 6) ecologia da ação.
Examinemos cada um deles.
CIRCULARIDADE
Enunciado
Não há fenômeno de causa única no mundo natural nem no cultural. Onde houver
seres vivos as relações serão sempre circulares. Por mais que pareçam
lineares, elas são não-lineares: os efeitos retroagem sobre as causas e as realimentam. Com isso são corrigidos desvios, o
que faz com que os ciclos se mantenham em funcionamento e os sistemas se
conservem vivos. O mesmo raciocínio
se aplica a sistemas não-vivos. Vimos que a esse mecanismo Wiener chamou de feedback
(retro-alimentação). À disciplina criada com esse conceito ele denominou de
cibernética, que pode ser definida como a ciência que estuda os sistemas de
controle. Aqui a palavra “controle” deve ser entendida no sentido de
“manutenção de um rumo”.
Os
sistemas cibernéticos são circulares e auto-reguladores. Seu funcionamento se
dá pela constante adaptação ao ambiente, que por sua vez (no caso de seres
vivos) se adapta a eles. A circularidade, ou feedback,
traduz a capacidade de um sistema para manter-se em equilíbrio diante das variações
do meio. Permite comparar sempre os resultados de uma ação com um
modelo pré-estabelecido. É, pois, indispensável ao controle de processos. Em
casos de desvios ou imprevistos, o sistema de regulação entra em jogo e faz
com que o padrão funcional desejado seja mantido. No caso das relações interpessoais, o feedback tem um papel essencial. Para que tais relações
se mantenham harmoniosas, é necessário que as pessoas troquem informações
entre si. Esse intercâmbio define e estabiliza os comportamentos e com eles o
clima grupal. Se a conduta de alguém fugir ao modelo consensual de convivência,
seus companheiros podem dar-lhe feedbacks sob a forma de críticas,
aconselhamento ou atitudes semelhantes.
O
feedback é um fator de equilíbrio dinâmico. Quando negativo, ele é
contrário ao modo atual de funcionamento de um determinado sistema. Quando é
positivo, tende a manter esse funcionamento. Nesse sentido, o feedback
negativo procura corrigir e o positivo visa a conservar. Neste último caso,
muitas vezes as coisas tendem a continuar como estão, o que pode levar à
improdutividade e falta de adaptabilidade do sistema. Em termos de relações
humanas, na primeira hipótese fica evidente a necessidade de intervenções críticas,
do debate e do diálogo para a manutenção da circularidade produtiva. Para
tanto é indispensável manter a pluralidade e a diversidade. Mas é preciso
evitar que a crítica seja transformada em atitude freqüente demais ou única,
pois nesses casos ela pode gerar comportamentos defensivos e, assim, produzir
efeitos opostos aos pretendidos.
Exemplos
1. O funcionamento do cérebro faz emergir os processos mentais. Por meio da linguagem e de outras formas de comunicação eles chegam à sociedade sob a forma de idéias e ações, e lá interagem com os processos de outras mentes. Desse modo constrói-se a mente social, que por sua vez retroage sobre as mentes individuais. Estabelece-se uma recursividade, isto é, uma circularidade por meio da qual é produzida a cultura. As sociedades, os indivíduos e as culturas são fenômenos que emergem dessa circularidade. Mudanças nos indivíduos mudam a sociedade e mudam a cultura. O caminho inverso também é verdadeiro.
Se
o indivíduo vive numa sociedade ou trabalha numa empresa que respeitam as
diferenças e a diversidade, o convívio social gerará comportamentos
diferenciados. O debate e o diálogo serão estimulados e tudo isso será uma
fonte de idéias novas e mudanças positivas. Trata-se de uma sociedade ou
empresa auto-produtoras. Se o indivíduo vive numa sociedade ou trabalha numa
empresa autoritária e, portanto, avessas às diferenças e à diversidade, o convívio
social gerará comportamentos padronizados e o diálogo será desestimulado. O
resultado será um grande aumento da resistência natural à mudança, com a
conseqüente diminuição da criatividade e escassez de idéias novas. Trata-se
de uma sociedade ou empresa que se
limitam a reproduzir modelos prévios. Sua improdutividade as condena à
desagregação, porque elas não conseguem se auto-organizar.
2.
Tomemos o conceito de liderança desenvolvido por Dave Ulrich, Jack Zenger e
Norm Smallwood.[iv]
Esses autores o apresentam por meio de uma fórmula:
Liderança
eficaz = atributos x
resultados
Segundo
essa concepção, os resultados existem por causa dos atributos dos líderes.
Por sua vez, a existência dos atributos gera os resultados. Os atributos da
liderança produzem resultados e os resultados existem por causa dos atributos
da liderança. As polaridades “resultados” e “atributos” interagem e
compõem um círculo virtuoso. Estamos, pois, diante de uma recursividade, uma
circularidade produtiva.
3.
Outro exemplo interessante, que já havia sido notado por Douglas
McGregor[v]
é a relação entre os líderes e os liderados. Ela não é linear,
no sentido de que o líder só influencia e os liderados só são influenciados.
É circular: os líderes influenciam os liderados e os liderados influenciam os
líderes. Não se trata de uma relação em que um age e os outros recebem
passivamente a ação, mas sim de uma circularidade complexa, na qual intervêm
variáveis que estão num lado, no outro e no ambiente. Pode-se dizer que o
relacionamento entre líderes e liderados é congruente. O líder se ajusta aos
liderados, que se ajustam aos líderes.
Cabe
então a pergunta: onde ocorre o fenômeno da liderança? Para respondê-la,
costumo recorrer a um exercício
baseado numa idéia do filósofo irlandês George Berkeley.[vi]
O exercício consiste em fazer a um grupo a seguinte pergunta: onde está o
gosto da maçã, na fruta ou na boca de quem a come? A resposta de Berkeley é
muito simples, e antecipou em três séculos uma das características essenciais
da teoria dos sistemas: o gosto não
está na boca, pois esta por si só não pode ter paladar algum; também não
pode estar na maçã, pois ela quando isolada também não pode ter sabor algum.
O gosto surge no contato entre a boca e a maçã. Ele é sentido por quem come,
mas é produzido na relação. É uma propriedade ou fenômeno emergente.
No
entanto, no exercício poucos participantes conseguem chegar com facilidade a
essa conclusão. Em geral, as pessoas têm essa dificuldade porque estão mais
preocupadas com as partes do sistema (a
boca ou a maçã) e não pensam na
relação entre elas. Do mesmo modo a liderança é um fenômeno emergente, que
surge da interação de líderes e liderados. Essa é uma das principais
características de um sistema: a produção de fenômenos novos (os fenômenos
emergentes) por meio da articulação e da interação de seus componentes.
4.
A idéia de circularidade produtiva foi aplicada à pesquisa motivacional nas
empresas pelo psicólogo social Rensis Likert.[vii]
Seu raciocínio pode ser assim descrito: a motivação produz
comportamentos; os comportamentos produzem variáveis; as variáveis são
mensuradas; os resultados das mensurações levam à redefinição das condições
de trabalho; estas levam a melhorias de comportamento, as quais levam a um reforço
da motivação.
5.
A idéia de circularidade pode ampliar a noção de resultados. Vejamos como.
Como se sabe, muitas das atividades humanas podem ser expressas por meio da seqüência:
Conceitos
-> Técnicas -> Resultados[viii]
Num
primeiro instante, o modo linear como ela é apresentada nos leva a vê-la como
um processo que tem começo, meio e fim. Ou, com mais freqüência, leva-nos a
considerar seus termos em separado: é como se conceitos, técnicas e resultados
nada tivessem em comum.
De
fato, há os que se preocupam só com os conceitos. Ao adotar essa orientação,
não levam em conta as técnicas nem os resultados. Reduzir tudo a conceitos é
limitar-se a uma visão de mundo teórica e especulativa. Há também quem se
limite a utilizar técnicas, sem se preocupar com os conceitos que as
produziram e sem tomar o cuidado de verificar seus resultados. São pessoas
operacionais. Em geral, elas não têm a capacidade reflexiva que só
a familiaridade com as teorias e os conceitos pode proporcionar. Por outro lado,
o desinteresse pelos resultados faz com que a execução das técnicas não seja
motivadora. Por isso, é pouco provável que haja um grau significativo de
comprometimento ou responsabilidade em relação a eles.
Existe
ainda um terceiro grupo, composto por aqueles que só se interessam pelos
resultados. São pessoas para quem os fins justificam os meios. Não se pode
esperar que elas tenham muitas idéias sobre como melhorar os resultados, pois sua excessiva preocupação com os fins faz com que desconsiderem
os conceitos e as técnicas. Isto é: perdem a noção de começo e de meio.
Costumam imaginar que tudo já vem pronto, e por isso não têm como avaliar os
esforços dos que participam do processo. Mesmo no caso de pessoas que se
preocupam com a seqüência inteira, o fato de elas a verem como algo que tem
começo meio e fim dificulta ou impede que tenham novas idéias sobre como
melhorá-la. Por isso, limitam-se a repetir sempre a mesma linearidade. No
entanto, se formarmos um sistema com os seus componentes, as coisas se modificam
muito, como se vê no diagrama abaixo:
Conceitos
D
Técnicas
D
Resultados
Agora,
a visão circular e sistêmica da mesma seqüência permite que notemos que cada
um dos seus termos retroage sobre os demais e os realimenta. A idéia de
circularidade amplia a percepção da relação entre os conceitos, as técnicas
e os resultados. Revela como esses três elementos se fertilizam mutuamente, o
que faz com que o sistema se auto-avalie e se auto-organize sem cessar. Mostra-nos que tudo está ligado a tudo, e
que a intervenção sobre cada uma das partes repercutirá nas demais, isto é,
no todo. Por exemplo, se melhorarmos os conceitos, deles poderão se originar
melhores técnicas. Se melhorarmos as técnicas, não só teremos melhores
resultados, mas essa melhoria retroagirá sobre os conceitos e estimulará os
que os elaboram a melhorá-los. Da mesma maneira, se avaliarmos os resultados à
luz dos conceitos e das técnicas, logo descobriremos que para aperfeiçoá-los
é preciso bem mais do que críticas e atitudes simplistas.
Mas
isso não é tudo. Como mostra o segundo diagrama, já não estamos diante de
uma seqüência linear, mas sim da circularidade e das conexões de um sistema.
Por isso, torna-se claro que além de intervir na elaboração dos conceitos, na
execução das técnicas e na obtenção e avaliação dos resultados, podemos
também intervir nos pontos em que esses três elementos se articulam. A experiência
mostra que quando se atua nessas interligações o sistema inteiro pode ser
modificado. Para fazer essas intervenções, é preciso desenvolver a habilidade
de lidar com a totalidade sem perder de vista as partes, que é típica do
pensamento complexo. É o que se consegue por meio dos operadores cognitivos.
“Os
seres vivos produzem, eles próprios, os elementos que os constituem e se
auto-organizam por meio desse processo.”
Os sistemas vivos produzem e organizam a si próprios. São portanto autoprodutores e auto-organizadores. De fato, sabe-se que ao longo da vida as células de nossos organismos morrem e logo são substituídas por outras. É o que se observa de forma espontânea e também na cicatrização de ferimentos e na consolidação de fraturas. Por isso, diz-se que somos ao mesmo tempo produtores e produtos. Esse princípio vale para todos os seres vivos e seus ambientes. Os grupos, as organizações e as instituições humanas não são exceção.
Assim,
pode-se dizer que os sistemas vivos são autônomos. No entanto, como vimos
antes, para manter essa condição eles dependem de elementos que estão no meio
ambiente: ar, água, alimentos, informação e a convivência com mais seres
vivos de sua própria espécie e de outras. Em vista disso, é possível dizer
que o seres vivos são autônomos mas não independentes. De modo paradoxal, são
ao mesmo tempo autônomos e dependentes. A essa condição, Morin deu o nome de
paradoxo autonomia-dependência.
Em
outros termos, os seres vivos são autônomos (autoprodutores,
auto-organizadores), mas dependem do ambiente em que vivem. A relação entre
eles e o ambiente é de dependência mútua. No século 6o. a. C.,
Heráclito de Éfeso já se referia a esse fenômeno. Lembremos um de seus
fragmentos: “Para os ventos, morte vem a ser água; para a água, morte vem a
ser terra; mas da terra nasce água, da água vento”.[ix]
O filósofo neoplatônico Plotino, nascido em 205 d.C., acrescenta que aquilo
que os corpos produzem é uma reprodução de si mesmos.[x]
Bem depois de Heráclito e Plotino, a autoprodução e
a auto-organização surgem nas idéias de vários pensadores importantes como Espinosa e Kant.
Assim,
a realidade não é uma coisa: é um processo que se autoproduz. Com base em
observações como essa, já no século 19 Claude Bernard havia concluído que
as condições da vida não estão nem no organismo nem no meio exterior, mas
nos dois ao mesmo tempo. O meio produz alterações contínuas
na estrutura dos sistemas e estes, por sua vez, atuam sobre o meio e o modificam
também de modo incessante. Trata-se de um caminho de duas vias ou, melhor
dizendo, de uma relação circular.
Exemplos
1.
A convivência dos indivíduos constitui a sociedade. A convivência das
empresas compõe o mercado. A sociedade e o mercado, por sua vez, proporcionam
aos indivíduos e às empresas uma série de condições que lhes possibilitam
viver e produzir. Por outro lado, impõem-lhes restrições, regras,
regulamentos, que se traduzem na legislação, na cobrança de impostos e assim
por diante.
O
indivíduo depende da sociedade, mas ela também depende do indivíduo. As
empresas dependem do mercado, mas este também depende das empresas. Em conseqüência,
um excesso de desordem (a escassez ou falta de regulamentos, indicadores, regras
claras) resultará em baixa produtividade das organizações e em também em má
qualidade de vida para as pessoas. Por outro lado, um excesso de ordem, de
regras rígidas e o cerceamento das liberdades resultarão em baixa
criatividade, pouca produtividade e, por fim, levarão à implosão do sistema.
Foi o que aconteceu na União Soviética e em outros sistemas ditatoriais.
2.
Na condição de sistemas autônomos, os seres vivos determinam o seu
comportamento com base em seus referenciais internos, isto é, com base em sua
estrutura e no modo como interagem com o ambiente. Como indivíduos autônomos,
precisamos competir para manter a nossa autonomia; como indivíduos dependentes,
é necessário que cooperemos para conservar essa mesma autonomia. Como autônomos-dependentes,
precisamos competir e cooperar. Há momentos em que é necessário competir e
momentos em que é necessário cooperar. Como as empresas são compostas de
pessoas, é claro que esse raciocínio se aplica ao âmbito organizacional.
Vista dessa maneira, a competitividade passa a ser uma manifestação de
competência e não de competição predatória.
Enunciado
“Há
contradições que não podem ser resolvidas. Isso significa que existem opostos
que são ao mesmo tempo antagônicos e complementares.”
A
palavra “dialética” significa conversação, diálogo entre posições
contrárias. Para Hegel, toda idéia é uma tese, que provoca o surgimento de
outra que lhe é oposta – uma antítese. Do embate entre as duas surge a síntese,
que é a resolução da contradição. A síntese é o resultado da superação
da tensão entre os opostos tese e antítese. Na concepção hegeliana, as
contradições sempre encontram solução: não são insuperáveis e cedo ou
tarde se conciliam numa unidade que lhes é superior. As oposições vistas como
insuperáveis (os paradoxos) seriam estados de transição, que cedo ou tarde se
resolveriam em sínteses.
A
palavra “dialógica” significa que há contradições que não se resolvem.
Nelas, a tensão do antagonismo é persistente. Tais casos fazem parte da
complexidade natural do mundo e de seus fenômenos. Morin observa que nem sempre
é possível nem necessário resolver todas as contradições. Há muitos casos
em que é preciso conviver com elas. São estados paradoxais, inerentes à
natureza dos sistemas vivos, e tentar resolvê-los por eliminação além de inútil
seria um desperdício de energia mental. São, enfim, opostos ao mesmo tempo
antagônicos e complementares..
Um
exemplo óbvio é a concorrência. Como mostra a prática,
os concorrentes que mais nos antagonizam, que mais nos incomodam, são
aqueles que não devem ser eliminados, pois sua existência é uma
fonte constante de estímulo e ensinamentos. Afastá-los produziria um desequilíbrio
que mais cedo ou mais tarde diminuiria nossa criatividade e, portanto, nossa
competência. Pretender superar as contradições que não podem ser superadas
além de ingênuo é inútil e pode ser prejudicial. Como diz Morin, nos lugares
e momentos em que não é possível superar as contradições, vencer os
antagonismos e ultrapassar os paradoxos, lá é que está a complexidade.
Para
reconhecer essas situações e aprender a lidar com elas, é necessário usar o
modo dialógico de pensar, o operador dialógico. É claro que ele não pretende
substituir a dialética: seu objetivo é lidar com contradições que não podem
ser superadas dialeticamente.
Em
tais circunstâncias, o operador dialógico procura trabalhar com posições
opostas e inconciliáveis sem tentar negá-las ou racionalizá-las. Se há
impasses que não podem ser resolvidos após um número razoável de tentativas,
isso não significa que devamos fingir que eles não existem. Compreendê-los e
incorporar essa compreensão às nossas táticas, estratégias e práticas é
antes de mais nada uma demonstração de bom senso.
Como
se sabe, nos grupos, organizações e instituições humanos a diversidade, em
especial a de opiniões, costuma produzir um certo grau de conflituosidade. Seja
manifesta ou latente, a diversidade não deve ser ocultada ou negada. O entrechoque de idéias, opiniões e comportamentos
é uma das principais fontes de inspiração para a criatividade e a resolução
dos problemas de convivência. Esse grau aceitável e desejável de
conflituosidade nada mais é do que o resultado de oposições que não podem
ser resolvidas em sínteses. Ele traduz a capacidade que têm os grupos,
organizações ou instituições de buscar soluções para suas dificuldades,
sem que para tanto necessitem sempre de diretivas vindas de fora.
Vários
dos fragmentos deixados pelo já citado Heráclito são exemplos do operador
dialógico. Lembremos mais um: “O antagonismo em tensão é convergente; da
divergência dos contrários, surge a mais bela harmonia”.[xi]
Para Plotino, a alma é ao mesmo tempo divisível e indivísível: é ao mesmo tempo una e múltipla.[xii]
Assim, as soluções podem vir não apenas da resolução dos conflitos, mas
da tensão criativa produzida pelas contradições que não podem ser
solucionadas.
Porém,
muito antes de Heráclito e Plotino já existia uma noção muito clara do modo
dialógico de pensar. Na filosofia taoísta, o símbolo yin/yang exprime a dialógica.
O yin é o princípio feminino, lunar. O yang é o princípio masculino, solar.
Os dois estão sempre juntos e sempre em oposição. Estão sempre em tensão,
mas são inseparáveis. Não há síntese possível entre eles, pois a manutenção
das características de cada um é indispensável à manutenção
da ordem natural das coisas e da integridade dos sistemas vivos. A
simultaneidade do antagonismo e da complementaridade yin/yang traduz o equilíbrio
entre a cooperação e a competição,
a harmonia entre a autonomia e a dependência.
Exemplos
1.
Morin observa que qualquer sociedade humana é ao mesmo tempo complementar (isto
é, cooperativa) e antagônica (inclui rivalidades). Nossas sociedades são
comunidades de cooperação: as pessoas se ajudam mutuamente, colaboram,
associam-se. As empresas fazem parcerias, joint ventures, consórcios. Ao
mesmo tempo elas são competitivas: as pessoas muitas vezes são rivais, as
empresas competem no mercado.
2.
O progresso produz ordem, mas também produz desordem. Não é possível aumentar a
ordem sem aumentar também a possibilidade de desordem e vice-versa, uma vez que
uma polaridade contém a outra em estado latente. Um grande petroleiro
transporta o resultado de muitos estudos e pesquisas que culminaram com a produção
do petróleo. Transporta, portanto, o progresso e mais possibilidades dele, pois
os derivados do petróleo têm inúmeras aplicações. Mas transporta também a
possibilidade de acidentes pelo rompimento de seus tanques, com a poluição de
amplas áreas e grandes prejuízos ao mundo natural. Para não falar no
efeito-estufa, que ocorre mesmo quando o petróleo chega sem problemas às
refinarias e é transformado em vários produtos, entre eles combustíveis a partir do quais são
geradas emissões de gases poluentes. Dessa forma, ao lado do progresso, de
soluções, de ordem, os petroleiros também transportam o retrocesso, os
problemas, a desordem.
3.
Uma sociedade que fosse só competitiva se autodestruiria. Uma sociedade que
fosse só cooperativa tenderia a acomodar-se. Não haveria diversidade, oposições,
debates. Não haveria conflituosidade, concorrência, e por isso mesmo não
haveria renovação. Não haveria produção, só reprodução. Não existiriam
diferenças e diversidade, só repetição, mesmice. O resultado seria a
desagregação.
4. Outro exemplo, também lembrado por Morin, é a relação entre o indivíduo e a sociedade, que é ao mesmo tempo
complementar e antagônica. Não há sociedade sem indivíduos. Do mesmo modo,
para realizar a sua condição humana, em especial por meio da cultura e da
linguagem, o indivíduo precisa da sociedade. No entanto, o antagonismo entre a
sociedade e o indivíduo é inevitável. Para se constituir e continuar
existindo, a sociedade precisa reprimir certos desejos do indivíduo. Para viver
em sociedade, o individuo precisa respeitar as normas, leis e tabus sociais.
Contudo, ao obedecer a essas imposições ele colabora para a manutenção da
estrutura e da ordem social. Portanto, ao querer liberdade para exercer todos os
seus desejos, o indivíduo antagoniza a sociedade. Mas ao se submeter às normas
que restringem parte desses desejos ele a complementa. É, portanto, ao mesmo
tempo
livre e controlado. Ao mesmo tempo em que afirma o indivíduo a sociedade o
nega. Ou, como diz o filósofo Theodor Adorno, “a sociedade é um conjunto de sujeitos e
a negação deles”.[xiii]
Entre a sociedade e o indivíduo existem ao mesmo tempo antagonismo e
complementaridade. Eis a essência do operador dialógico.
5.
Os neurocientistas também já compreenderam a importância do operador dialógico.
O pesquisador V.S. Ramachandran, da Universidade da Califórnia,
diz que o potencial humano só é visível se levarmos em consideração todas
as possibilidades e, também, se resistirmos à tentação de ficar em campos polarizados
(presos à lógica do “ou/ou”) ou de indagar se uma dada função cerebral é
localizada ou não. Para Ramachandran, há muitas provas de que no cérebro
existem partes ou módulos especializados em várias capacidades mentais. O
melhor meio de entender a fisiologia cerebral é não apenas investigar a
estrutura e a função de cada módulo, mas também descobrir como eles
interagem uns com os outros para produzir o conjunto a que
denominamos de natureza humana.[xiv]
A
dialógica procura lidar com as variáveis e as incertezas que não podem ser
eliminadas. Ao ensinar-nos a viver com os paradoxos, o operador dialógico nos
mostra também como identificar as possibilidades e as limitações da
objetividade, da lógica linear e da quantificação. Nossa pretensão de
controlar tudo, inclusive o que não é controlável, é uma tentativa de
diminuir a ansiedade e a insegurança. No entanto, ao querer controlar o incontrolável
conseguimos apenas negá-lo temporariamente. É como manter pressionada uma
mola. Quanto mais energia gastamos para mantê-la tensa, mais cansados ficamos e
mais ela se torna difícil de pressionar. Saber distinguir quando empregar a
dialética e quando usar a dialógica é uma habilidade de alto valor estratégico.
Para definir o operador hologramático Morin usa a metáfora do holograma, a fotografia obtida pelo processo holográfico. Nesse tipo de imagem, cada ponto contém quase a totalidade do objeto reproduzido. Isto é, as partes estão contidas no todo, mas o todo também está contido em cada uma das partes que o constituem. O pensamento complexo, tal como desenvolvido por Morin, conceitua a relação entre o todo e as partes por meio de quatro princípios: a) o da emergência; b) o da imposição; c) o da complexidade do todo; c) o da distinção mas não-separação entre o objeto (ou o ser) de seu ambiente.
O
princípio da emergência diz que o todo é superior à soma das
partes. É o que mostra o fenômeno das propriedades emergentes. Um bom exemplo são
as ligas metálicas, que têm propriedades que não existem em cada um dos
metais que as constituem. Outro é o que ocorre quando um grupo se reúne para
discutir um determinado assunto ou problema. Das interações que se estabelecem
costumam surgir idéias novas, que antes não haviam ocorrido aos participantes.
A sabedoria de um grupo é maior do que a soma das sabedorias de seus
componentes.
O princípio da imposição
diz que o todo é inferior à soma de suas partes. Isso significa que as
qualidades ou propriedades das partes, quando consideradas em separado,
diluem-se no sistema. Tornam-se latentes, virtuais. É o que ocorre, por
exemplo, em um coral. Por mais destacadas que sejam as qualidades da voz de um
ou de vários de seus participantes, eles têm de restringi-las ao que a
totalidade do coral exige. Num time de futebol, por mais hábil que seja um
determinado jogador quase sempre ele precisa jogar com e para o conjunto.
O
fato de determinadas propriedades ou qualidades das partes serem tornadas
virtuais em benefício do todo caracteriza uma restrição ou inibição deste
sobre elas. Esse fenômeno ocorre em toda relação organizacional: para que uma
empresa possa existir, é preciso que ela se imponha aos seus membros, que dessa
maneira ficam impedidos de exercer algumas ou várias de suas qualidades e
potencialidades. Com isso essas qualidades e potencialidades se tornam virtualizadas, entram em estado latente. É o que também ocorre quando os indivíduos,
em troca do acolhimento e proteção da sociedade, se submetem às suas regras e
normas.
O
princípio da complexidade dos sistemas reconhece que os dois princípios
anteriores são ao mesmo tempo antagônicos e complementares. Por isso, ele
estabelece que o todo é ao mesmo tempo maior e menor que a soma de suas partes,
pois a relação entre (a) e (b) é circular e não linear.
O
principio da distinção, mas não-separação entre o objeto (ou
ser) e o seu ambiente diz que o conhecimento de qualquer organização física
exige o conhecimento das interações dessa organização com o seu ambiente. Em
termos biológicos, o conhecimento dos seres vivos requer o conhecimento de suas
interações com seus ecossistemas. Em termos organizacionais, o conhecimento
das empresas exige o conhecimento de suas interações com o mercado.
A
parte pode ser identificada como parte, mas não pode ser desligada do todo. O
que percebemos por meio dos nossos cinco sentidos são coisas separadas, mas na
realidade essa separação não significa desligamento. Tudo está ligado a
tudo. A essa conclusão já haviam chegado vários grandes pensadores. Montaigne
dizia que “todo homem traz consigo a inteira humana condição”.
Goethe afirmava: a) “os homens trazem dentro de si não apenas a sua
individualidade mas a humanidade inteira, com todas as suas possibilidades”;
b) “o universal e o particular coincidem: o particular é o universal
que se manifesta sob diversas condições”.
O
pensamento cartesiano-binário nos leva a ver tudo sempre em separado e a achar natural a
divisão e a separação, mesmo quando há evidências que apontam para o contrário.
Ver as coisas separadas revela apenas a limitação dos nossos
meios de percepção. Mas isso não significa que elas estejam
desligadas. No mundo natural existe afastamento, mas não desligamento. Como diz Morin, o indivíduo é o ponto do holograma que contém a totalidade da
sociedade e da espécie, mas mesmo assim continua singular e não pode ser
reduzido essa totalidade.
Exemplos
1.
A diversidade humana é visível com facilidade. No entanto, aquilo que os seres
humanos têm em comum (a unidade humana) não é perceptível com facilidade.
Essa unidade também não pode ser concebida com facilidade por nosso modo
predominante de pensar que, como já sabemos, é fragmentador. Por isso, Morin
sugere que é preciso conceber a unidade múltipla, a unitas
multiplex. Trata-se da unidade que comporta a pluralidade. Existe unidade na
diversidade humana e diversidade na unidade humana. O mesmo, é claro, ocorre em
todo o mundo natural.
A
esse respeito, há um belo texto de Ortega y Gasset[xvii]
que também é um exemplo de pensamento complexo. Ortega cita um antigo provérbio
alemão: a altura das árvores impede a visão do bosque. Se vejo algumas árvores
do bosque, não consigo vê-lo em sua totalidade. O bosque real é o conjunto
formado pelas árvores que não posso ver. Se percorro o bosque, também não o
vejo: tudo o que posso ver são algumas das árvores que o formam. O bosque está
sempre um pouco mais além de onde estamos, diz Ortega. Ainda assim ele existe
como possibilidade: é “uma soma de atos nossos”, nós o construímos ao
andar nele, ao interagir com ele.
As
árvores não nos deixam ver o bosque, mas é por isso mesmo que ele existe. A
missão das árvores que se manifestam, que se tornam patentes, é manter
latentes (ocultas) as demais. O que se vê esconde mas também inclui o que não
se vê, assim como a ordem inclui a desordem e vice-versa. O bosque está
latente nas árvores e estas estão latentes no bosque. A possibilidade da existência
do bosque está nas árvores e a possibilidade de existência das árvores está
no bosque. Na metáfora de Morin, os fios possibilitam a existência do tapete e
este, ao ser desfeito, possibilita a existência dos fios separados. “O mundo
profundo é tão claro quanto o real, só que exige mais de nós”, diz Ortega.
Também é possível entrar no
bosque sem sentir-se parte dele. Nesse caso ele não terá nada para me mostrar
nem terei nada para mostrar-lhe: eu o verei como um âmbito ao qual sou estranho
e que me é estranho. No máximo, será um campo de caça ou um esconderijo. Assim, se me convencer de que nada me liga ao bosque,
imaginarei que posso destruí-lo sem que isso também me autodestrua. Como
mostra a experiência, esse equívoco é muitas vezes fatal para os que nele
incorrem.
A
unidade é compreensível em termos abstratos, mas nem sempre fácil de entender
na prática. Já vimos que essa dificuldade se deve à nossa incapacidade de
perceber interligações. No entanto, é a existência da unidade humana que
torna possível procedimentos como campanhas de vacinação, transfusões de
sangue, controle de epidemias com medicamentos de ampla aplicação e outras ações
de medicina de massa, providências políticas e econômicas de amplo alcance e até a
própria existência do marketing.
2.
Aqui se inclui, é claro, a possibilidade de transplantar órgãos. Esse caso é
também um exemplo do operador dialógico: a diversidade faz com que, por meio
de seu sistema imunológico, os organismos individuais reajam aos órgãos
transplantados. Mas a unidade humana faz com que seja possível aplicar a todos
os indivíduos as técnicas dos transplantes e os medicamentos que se opõem à
rejeição.
Sabemos
que a unidade contém a multiplicidade e vice-versa. A unidade do organismo
humano facilita os transplantes, pois com exceção das diferenças genitais
todos temos os mesmos órgãos. A diversidade dificulta os transplantes, pois
facilita a rejeição. Os transplantes de órgãos são ao mesmo tempo possíveis
e impossíveis, pois pertencer à condição humana os facilita. Entretanto, as
peculiaridades dos organismos individuais facilitam a rejeição, o que também
mostra que o indivíduo pode se destacar do todo mas nem por isso perde a sua
individualidade. Os medicamentos imunossupressores, que diminuem a possibilidade
de rejeição dos órgãos transplantados (a possibilidade de desordem),
facilitam a aceitação desses órgãos pelo organismo receptor (a ordem). Ao
fazer esse papel, eles atuam na relação
ordem-desordem-organização.
3.
Outro exemplo do operador hologramático é o já mencionado efeito-borboleta.
Na área financeira, sabe-se que fatos localizados (que muitas vezes não passam
de simples boatos) podem levar a grandes oscilações nas bolsas do mundo
inteiro. Hoje, com a Internet e a globalização dos mercados, esse fenômeno se
tornou ainda mais evidente.
4.
Na cultura das organizações, os princípios básicos elaborados pelos
fundadores (as chamadas crenças ou certezas fundamentais) sustentam e motivam
corporações transnacionais de muitos milhares de funcionários e um número
muitas vezes maior de acionistas e outros participantes. A missão e a visão de
futuro são formas de reforçar as ligações entre as pessoas. Ligações geram
confiança e o sentimento de pertencer a uma totalidade. Pensar de modo
fragmentador produz medo e desconfiança. No primeiro caso, o resultado é
solidariedade, finalidade, sentido. No segundo caso, gera-se a competição
predatória, o “cada um por si”, o “salve-se quem puder”.
5. Em cada célula do nosso organismo está contido, em potencial,
todo o nosso patrimônio genético. Há também o caso das células-tronco. Elas têm
duas características importantes: a) não são especializadas e produzem a si
próprias por meio de divisão; b) podem ser levadas a se transformar em células
diferenciadas, como as que compõem o músculo cardíaco e as do pâncreas que
produzem a insulina. Pensava-se que as células-tronco desaparecessem no adulto.
No entanto, hoje se sabe que elas permanecem em certos órgãos como a medula óssea,
os músculos e o cérebro. Nesses tecidos, as células-tronco, ou células-matrizes,
podem ser “despertadas” e induzidas a produzir outras, que por sua vez podem
substituir células que se perderam, seja por doença, desgaste normal ou
traumatismos. Essa possibilidade abre novos e importantes caminhos para a
medicina, e também são mais uma evidência de que o todo está nas partes e
vice-versa.
Por
todas essas razões, a noção de que tudo está ligado a tudo, embora as aparências
pareçam mostrar o contrário, é fundamental. Essa idéia deve ser
entendida e levada à prática não no sentido mágico ou místico,
mas sim com o grau de pragmatismo necessário às ações e às mudanças eficazes. Não
se trata de pensar em termos de uma totalidade à qual nos devemos submeter, mas sim em um sistema complexo, do qual fazemos parte e que
podemos influenciar com nossos comportamentos individuais.
INTERAÇÃO SUJEITO-OBJETO
Enunciado.
“ O observador faz parte daquilo que observa.”
Francisco
Varela assinalou que estudos sobre a visão de cores revelaram fatos importantes.
Lembremos alguns: a) os seres humanos vêem o mundo em quatro cores; b) os
pombos vêem o mundo em cinco cores; c) as abelhas vêem o mundo em
ultravioleta; d) os morcegos não vêem o mundo: interagem espacialmente com ele
por meio de um mecanismo semelhante ao sonar. Cabe, portanto,a pergunta: afinal
de contas, de que cor é o mundo? É razoável imaginar que ele deve ter uma ou
muitas cores. Mas também é razoável deduzir que o vemos segundo a nossa
estrutura, isto é, de acordo com o modo como estamos equipados para vê-lo.
Dessa
maneira, o mundo que percebemos é o que podemos perceber. Já aprendemos, com o
operador hologramático, que há evidências de que tudo está ligado a tudo.
Distanciamento físico não quer dizer desligamento real. O observador não está
separado daquilo que observa, embora possa estar macroscopicamente distanciado.
Portanto, não podemos viver no mundo como se não fizéssemos parte dele. Por estar todos no mesmo mundo somos ao mesmo tempo sujeitos e objetos, percebedores e percebidos. Se a consciência é sempre a consciência de alguma
coisa, as coisas são sempre coisas para alguma consciência.
A
realidade é aquilo que percebemos objetiva e subjetivamente. É o que
observamos e o que sentimos e pensamos em relação ao que observamos. A
postura objetiva é real, mas a pretensão de que seu resultado final seja só
objetivo não é real, pois não existe conhecimento em que não entrem ao mesmo
tempo a objetividade do que se conhece e a subjetividade do conhecedor. A percepção
é um diálogo, uma transação entre o observador e o observado, entre o percebedor e o percebido. Por meio apenas da objetividade não se pode conhecer
o mundo real. Por meio apenas da subjetividade também não se pode conhecê-lo.
Para conhecer a realidade, é preciso estabelecer uma relação com ela,
interagir, trocar, conviver.
É
das relações que emergem as percepções. No encontro do observador com o
observado, a ênfase não pode ser posta apenas no primeiro nem só no
segundo. Em qualquer das hipóteses, desviaríamos o foco daquilo que na realidade
conta: o fenômeno da observação, que é uma relação. A ciência e o
conhecimento não existem apenas na “subjetividade” das teorias dos
cientistas nem na “objetividade” do mundo. Nasce da relação entre elas. O
conhecimento, seja o científico, seja o do cotidiano, é um “relato” dessa
relação. É uma tentativa de “contar a história” dela, de falar sobre as
propriedades novas que daí emergem.
As
ciências e as artes são modos também válidos de contar a história dessas
propriedades e cada uma o faz a seu modo. A percepção da realidade que não
incluir a subjetividade será incompleta. Quando determinadas ciências
negam a subjetividade, com isso estão negando também a realidade. A realidade
não está só nas partes nem só no todo. Está no relacionamento entre
as partes e o todo.
Numa
determinada sociedade, “objetivo” é o que se convencionou chamar de
objetivo, isto é, a definição do que é objetivo resulta de consensos. Se a
objetividade é uma construção cultural, histórica e intelectual, ela contém
a subjetividade, por mais que queira excluí-la. Portanto, pode-se dizer que
existe a atitude objetiva, mas não a objetividade em si, vista como um absoluto.
Vivemos
numa cultura para a qual os resultados são dissociados das pessoas que os
produzem. O sujeito é visto como separado do objeto. É como se o ser humano não fizesse
parte do mundo, de sua própria vida e, em conseqüência, de suas ações.
Nessa cultura, aquilo que chamamos de resultados “práticos” são quase que
só os econômicos, e as pessoas costumam se associar tanto a eles
que muitas perdem suas identidades humanas. Por isso uma cultura de resultados
é desumanizadora e alienante. As conseqüências desse fenômeno em termos de
responsabilidade sócio-ambiental são óbvios, pois levam à autojustificação
de que temos pouco ou nada a ver com as conseqüências de nossas ações ou
omissões.
Exemplos
1. Se de um lado o ser humano pensa, lida com conceitos abstratos, de outra parte ele tem um corpo que está muito ligado ao mundo natural. Essa posição pode ser ampliada. Se a mente faz parte do cérebro, que faz parte do corpo, que faz parte do mundo, na verdade nem mesmo a nossa dimensão mental é separada da natureza.
2. Nossa pretensão de que a percepção é só objetiva tem
conseqüências práticas, muitas delas desagradáveis. Lembremos duas delas: a)
muitas vezes, tratamos as pessoas como coisas com as quais nada temos a ver, e
por isso recebemos delas o mesmo tratamento; b) o hábito de pensar apenas
“para fora”, de modo objetivo, faz com que tenhamos dificuldades de pensar em nós
mesmos e também de questionar nossos próprios processos de pensamento. A falta
ou deficiência de auto-observação dificulta a autocrítica. Se não nos autocriticamos, julgamo-nos mais capacitados para criticar sempre os outros e
estes, é claro, nos pagam na mesma moeda.
3.
Julgarmo-nos separados daquilo que observamos traz pelo menos
duas conseqüências problemáticas: a) temos mais dificuldade de avaliar as
repercussões do que dizemos e fazemos; b) temos mais dificuldade de
responsabilizar-nos pelo que dizemos ou fazemos. Ao dificultar a assunção de
responsabilidades, a separação sujeito-objeto nos leva a buscar a causa de
nossos problemas apenas em fatores externos, o que pode significar que no fundo
não queremos ou não podemos resolvê-los.
4.
O observador modifica e é modificado por aquilo que observa. Vejamos alguns
exemplos corriqueiros.
- A divulgação jornalística e publicitária de ações e idéias estimula o aparecimento e a multiplicação de fatos e idéias semelhantes, como ocorreu no caso dos seqüestros de mães de jogadores de futebol ocorridos no Brasil há algum tempo.
- “Fatos novos” trazidos à luz em meio a crises políticas, ou mesmo simples boatos, podem influir na economia e em outros setores da sociedade.
- Difundir a popularidade de uma de uma pessoa, idéia ou instituição torna-as ainda mais notórias (ou ainda mais impopulares). É dessa maneira que se manipula a mente coletiva e se constroem ou se destroem “imagens públicas”. Entre muitos outros, Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, valeu-se desse artifício.
- Nas campanhas eleitorais, as pesquisas de intenção de voto muitas vezes são utilizadas para manipular a opinião pública a favor ou contra esse ou aquele candidato. Servem também para reverter impressões favoráveis ou desfavoráveis, ou como balão de ensaio para o lançamento de produtos, serviços e candidaturas políticas.
A
tendência de separar e manter separados o sujeito (observador) e o objeto (o
observado) implica o pressuposto de que o sujeito não faz parte do sistema
observador/observado. Quanto mais o observador (o sujeito) insistir em não
participar, menos pensará em si próprio. Em conseqüência, menos conhecerá a
si próprio e menores serão suas possibilidades de desenvolver suas habilidades
e potencialidades. Se quisermos perceber o mundo real com um mínimo de
confiabilidade, é importante, antes de examinar uma situação ou tentar
resolver um problema, verificar nossas pretensas “certezas” em relação ao
que pretendemos apreciar. Se nossa mente está formatada por um determinado modo
de pensar, ela só será capaz de perceber o mundo e tentar entendê-lo por meio
desse padrão. A questão básica, portanto, é esta: com base em que modelo
mental vou pensar sobre uma dada situação ou problema?
ECOLOGIA
DA AÇÃO
Enunciado
“As
ações com freqüência escapam ao controle de seus autores e produzem efeitos
inesperados e às vezes até opostos aos esperados.”
A
ecologia da ação é um fenômeno bem conhecido. Para
a elaboração desse conceito, Morin partiu de idéias anteriores e as modificou
e ampliou. É claro que o conceito de ecologia da ação está ligado ao da
ecologia das idéias. Uma vez desencadeadas, nossas ações e idéias passam a
fazer parte da aleatoriedade, da incerteza e da imprevisibilidade do ambiente
natural e cultural. Os poetas e os ficcionistas percebem
isso com facilidade. O escritor Mario Vargas Llosa, por exemplo, observa que
“os efeitos da literatura são imprevisíveis e nunca governáveis por quem a
escreve”.[xviii]
E o poeta Fernando Pessoa escreveu:
Da
mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a Humanidade.
E não estou alegre nem triste,
Esse é o destino dos versos.
(...)
Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?[xix]
O
fato de uma ação ou idéia poder passar por tantas modificações e desvios
faz com que ela possa até mesmo voltar-se contra o seu autor. Há muito que a
sabedoria popular já havia
detectado esse fato: “O feitiço virou contra o feiticeiro”.
Passado
o momento inicial, a ação deixa de “pertencer” a seu autor. É como se
adquirisse vida própria. Não só pode antagonizá-lo, conforme já foi dito,
como pode tornar-se incompreensível para ele. Esse fenômeno decorre de outro,
que pode ser assim descrito: uma ação pode produzir sinergias; as sinergias
produzem outras sinergias, e assim o número de variáveis se torna tão grande
que leva à imprevisibilidade. Essa é uma das múltiplas manifestações da
complexidade. Os efeitos retroagem sobre as causas e as modificam. Além disso,
eles também se influenciam mutuamente e dessas múltiplas interações surgem
novos efeitos, que retroagem sobre suas causas e assim por diante.
Morin
propôs dois princípios para a ecologia da ação, que Lise Laférière ampliou
para três: a) O nível de eficácia ótima de uma ação se situa no início do
seu desenvolvimento; b) a ação não depende só da intenção ou intenções
de seu autor: depende também das condições peculiares do ambiente no qual ela
acontece; c) a longo prazo, os efeitos das ações são imprevisíveis. Tudo
isso significa que, ao interagir com os múltiplos fatores do ambiente, uma ação
está sujeita à aleatoriedade, à imprevisibilidade e à incerteza próprias
desse ambiente. Em outras palavras, ela está sujeita a múltiplas variáveis.
A
ecologia da ação se baseia na observação de que o curso da história não é
linear. A não-linearidade histórica é uma manifestação da
complexidade, que inclui a ordem, a desordem e a organização. Isso significa
que, como observa Morin, toda ação está sujeita ao determinismo mas também
está sujeita ao acaso. Como disse o historiador Fernand Braudel, os homens
fazem a Historia, a História os arrasta.
A
ecologia da ação inclui riscos, estes por sua vez derivados da
imprevisibilidade a da aleatoriedade inerentes ao mundo natural. Hannah Arendt
escreveu que muitas ações implicam “riscos enormes”[xx],
e o poeta Vinícius de Moraes acrescentou que “é preciso que estejamos íntegros,
e acontece / que os perigos são máximos”.[xxi]
O risco é tanto maior quando nos lembramos de que, como diz Morin, uma ação
pode inverter seu propósito sem que seu autor tenha consciência desse fenômeno.
E isso o faz continuar a agir até mesmo contra os seus próprios projetos ou
desejos.
Exemplos
1. As leis gerais da ecologia se aplicam ao pensamento complexo e, é claro, à ecologia da ação. Ei-las: a) todas as coisas estão interligadas; b) tudo vai para algum lugar; c) todas as escolhas envolvem custos; d) a natureza revida.[xxii] Comentemos cada uma. De saída, é importante notar que em todas está presente de modo implícito ou explícito um princípio fundamental: a idéia de que são importantes não apenas as partes isoladas, mas também as relações entre elas. No mundo natural, as coisas, os seres vivos e o ambiente se acolhem mutuamente e de modo incessante. Portanto, é crucial pensar em termos de relações.
“Tudo
vai para algum lugar” significa que, por exemplo, a embalagem de plástico
usada que jogamos na rua ou numa estrada, pela janela do carro pensando que
assim nos livraremos dela, passa a fazer parte da complexidade do todo. E faz
isso de maneira poluidora: prejudica equilíbrios delicados, de tal forma que um
dia nós mesmos ou nossos descendentes sofreremos as conseqüências dessa
agressão.
A
terceira lei estabelece que nada é gratuito: tudo tem um preço, a ser pago por
nós mesmos ou por nossos sucessores. Pois, como diz com clareza a quarta lei, a
natureza sempre dá o troco, revida às agressões a que a submetemos (mas
retribui positivamente aos cuidados que lhe proporcionamos). O revide às agressões
pode acontecer de modo violento, tanto em relação às catástrofes naturais
quanto às desavenças entre pessoas.
Seja
como for, é fundamental não esquecer o óbvio: ignorar as conseqüências
dos nossos atos não significa que deixaremos de ser responsáveis por eles.
Quer dizer apenas que fugimos a essas responsabilidades, que estamos alienados
de nós mesmos, dos outros e do mundo. Portanto, é indispensável que tomemos
consciência do como e do porquê dessa alienação. Esse é o primeiro passo de
qualquer iniciativa de mudança.
2.
De acordo com Morin, as idéias, teorias e mitologias são criados e nutridos
pela mente humana: os deuses são criados pelos homens e terminam por ditar-lhes
as vontades. De fato, seres míticos criados pelos homens adquirem vida própria
em todos os setores da experiência humana. Por exemplo, Romeu e Julieta e
Otelo, de Shakespeare, e Dom Quixote e Sancho, de Cervantes, são figuras
conhecidas e influentes, mesmo por quem nunca leu seus autores.
Esse fenômeno é típico da ecologia das idéias. Com muita freqüência, as
ideologias levam as pessoas ao fanatismo e ao desvario. Vive-se e morre-se por
causa delas e ao sabor de seus embates com outras ideologias. As idéias são o
fiel da balança entre a concórdia e a discórdia, a guerra e a paz. São possuídas
pelas pessoas e as possuem, como diz Morin.
3. Outro exemplo da ecologia da ação
está expresso no chamado princípio de Pareto: 20% das ações
resultam em 80% dos resultados ou, ao contrário, 80% dos resultados decorrem de
20% das ações. Isso significa que a maioria das ações que foram iniciadas
com o objetivo de produzir determinados resultados se perdem na aleatoriedade,
na imprevisibilidade e na incerteza do ambiente. Se assim não fosse, 100%
das ações resultariam em 100% de resultados.
4.
Na retórica de muitos dos líderes da época, a Primeira Guerra Mundial
seria a “guerra que acabaria com todas as guerras”. As ações da Perestroika,
de Gorbatchev, tinham como objetivo reformar a União Soviética, mas levaram à
sua implosão. No Brasil, vários “planos econômicos” tiveram como objetivo
acabar com a inflação, mas fizeram com que ela aumentasse.
4.
Muitas vezes, a correção dos cursos indesejáveis de uma ação pode ser
influenciada pelo excesso de otimismo e pelo voluntarismo de seu autor. Essas
interferências podem dificultar ou mesmo impedir que o autor da ação perceba
que ela já se transformou e se desdobrou, e que essas modificações por sua
vez estão sujeitas à influência de inúmeras variáveis. Como se sabe, muitas
vezes os líderes, mesmo os mais esclarecidos, são influenciados por seus
assessores e por outras pessoas, grupos e instituições. Isso acaba fazendo com
que eles vejam algo diferente do que na realidade acontece. Em casos assim, a
ecologia da ação se relaciona com outro fenômeno, a que Morin chama de percepção
alucinatória do real.
5.
O consultor João Bosco Lodi[xxiii]
faz uma observação que é um bom exemplo da influência do ambiente sobre as ações
das pessoas. Ao falar sobre a presidência de empresas ele observa que,
à medida que um presidente chega perto da solução de um determinado problema,
percebe que cada nova ação sua cria novos problemas. “Os problemas estão
nas soluções”.
Ao
longo desse processo os presidentes, como aliás todos os líderes, aprendem que
as variáveis do ambiente surgem e atuam sobre suas ações: os recursos disponíveis,
o tempo, as reações dos que têm seus interesses satisfeitos ou contrariados,
a abundância ou escassez de informações necessárias, as limitações
oriundas de compromissos antes assumidos e assim por diante. Em suma,
eles aprendem que toda ação acontece num determinado ambiente e tem de interagir com as variáveis desse ambiente. Esse exemplo também
deixa claro que a ecologia da ação é, em essência, um fator que limita os
poderes de um indivíduo, por mais amplos que eles sejam.
Tudo
isso visto, pode-se concluir que: a) conhecer a ecologia da ação e saber lidar
com ela ajuda a tomar decisões; b) uma ação, por mais simples que seja, não
deve ser deixada à sua própria sorte. Uma vez iniciada ela se defronta com inúmeros
desvios, acidentes, imprevistos e outras variáveis, as quais precisam ser corrigidas ou pelo menos atenuadas. Para tanto, seu autor deve
aprender a reconhecer e acompanhar esses fatores, e estar alerta em relação a
tudo o que possa interferir de maneira negativa nesse reconhecimento e acompanhamento.
Notas
[i]
HUMBERTO MARIOTTI. As paixões do ego:complexidade, política e solidariedade. São
Paulo: Palas Athena, 2000, pág. 89 e segs.
[ii]
EDGAR MORIN. La méthode 6.
Éthique.
Paris; Seuil, 2004,
pág. 63.
[iii]
Id., ibid., págs. 65-66,
com modificações.
[iv]
DAVE ULRICH,
JACK ZENGER, NORM SMALLWOOD. Results-based leadership. Boston,
Massachusetts: Harvard Business School Press, 1999, pág.3.
[v] DOUGLAS McGREGOR, Leadership and motivation: essays by Douglas Mc Gregor. Cambridge, Massachusetts: Massachusetts Institute of Technology Press, 1966.
[vi]
Ver JORGE LUÍS BORGES Esse ofício do verso,
São Paulo: Companhia das Letras, 2000, pág.12.
[vii] RENSIS LIKERT. The human organization. New York: McGraw Hill, 1967.
[viii]
Agradeço ao professor Hamilton Villela, da Business School São Paulo, por
me ter sugerido o uso dessa seqüência.
[ix] EMMANUEL CARNEIRO LEÃO, ed., Heráclito: fragmentos, origem do pensamento. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1980, pág. 69.
[x] PLOTINO. Enéadas, III,8/30.
[xi]
Id., ibid., pág.
xx.
[xii]
PLOTINO. Enéadas, III,2,2.
[xiii]
Ver EDGAR MORIN. La méthode 5.
L’humanité de l’humanité. L’identité humaine. Paris: Seuil,
2001, pág. 155.
[xiv]
V.S. RAMACHANDRAN e SANDRA BLAKESLEE. Fantasmas
no cérebro: uma investigação dos mistérios da mente humana. Rio de
Janeiro: Record, 2002, pp. 34, 35.
[xv] EDWARD LORENZ. Conferência na reunião anual da Sociedade Americana para o Progresso da Ciência, Washington DC, 29/12/1979.
[xvi]
Ver WOLFGANG
RINDLER. Essential relativity. Nova York, Springer-Verlag, 1977.
[xvii] JOSÉ ORTEGA Y GASSET. Meditações do Quixote. São Paulo: Livro Ibero-Americano, 1967, pág. 67 e segs.
[xviii] MARIO VARGAS LLOSA. A verdade das mentiras. São Paulo: ARX, 2004, pág. 359.
[xix]
FERNANDO PESSOA. “O guardador de rebanhos”. In
Obra poética. Rio de Janeiro:Nova
Aguilar, 1999, pág. 227.
[xx]
HANNAH ARENDT. Condition de l’homme moderne. Paris:
Calmann-Lévy, 1961.
[xxi] VINÍCIUS DE MORAES. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, pág. 320.
[xxii] ERNEST CALLENBACH, Ecologia: um guia de Bolso, São Paulo: Peirópolis, 2001 (epígrafe).
[xxiii]
JOÃO B. LODI. Governança corporativa.
Rio de Janeiro: Campus/Elsevier,
2000, pág.162.
(Este
texto corresponde a um dos capítulos do livro do autor
Pensamento complexo: suas aplicações à liderança, à aprendizagem e ao
desenvolvimento sustentável.
©
Humberto Mariotti, 2007
*HUMBERTO MARIOTTI. Consultor em desenvolvimento pessoal e organizacional. Professor e Coordenador do Centro de Desenvolvimento de Lideranças da Business School São Paulo. Coordenador do Núcleo de Estudos de Gestão da Complexidade da Business School São Paulo.
E-mail: [email protected]