Bernardo Guimarães (B. Joaquim da Silva G.), magistrado, jornalista, professor,
romancista e poeta, nasceu em Ouro Preto, MG, em 15 de agosto de 1825, e faleceu na mesma
cidade, em 10 de março de 1884. É o patrono da Cadeira n. 5 da Academia Brasileira de
Letras, por escolha de Raimundo Correia.
Era filho de Joaquim da Silva Guimarães e Constança Beatriz de Oliveira. Dos 4 aos 16
anos viveu em Uberaba e Campo Belo, impregnando-se das paisagens que mais tarde
descreveria em seus romances e em alguns poemas. Antes dos 17 estava de volta a Ouro
Preto, onde terminou os preparatórios. Tem-se como certa a sua participação, em 1842,
na revolução liberal. (Seu biógrafo Basílio de Magalhães deduziu, de informações
que obteve da viúva Bernardo Guimarães, que ele não servira aos rebeldes e sim aos
legalistas.) Matriculou-se, em 47, na Faculdade de Direito de São Paulo, onde se tornou
amigo íntimo e inseparável de Álvares de Azevedo e Aureliano Lessa, com os quais chegou
Bernardo Guimarães a projetar a publicação de uma obra que se chamaria Três liras.
Fundaram os três, com outros estudantes, a Sociedade Epicuréia, a que se
atribuíram coisas fantásticas, que ganharam fama no meio paulistano.
Bacharelou-se, em 2a época, no começo de 1852. Nesse ano publicou Cantos da solidão,
poesia. Exerceu o cargo de juiz municipal e de órfãos de Catalão, em Goiás, por duas
vezes, em 1852-54 e 1861-64. De permeio, fez jornalismo e crítica literária no Rio de
Janeiro. Magistrado rigoroso mas humano, promoveu, no segundo período de judicatura, um
júri sumário para libertar os presos, pessimamente instalados e, intervindo motivos de
conflito com o presidente da província, sofreu processo, do qual saiu triunfante. Em
1864-65, de novo o poeta viveu na Corte, onde publicou o volume Poesias, contendo
Cantos da solidão, Inspirações da tarde, Poesias
diversas, Evocações e A baía de Botafogo. Fixou-se, a
partir de 1866, em Ouro Preto, onde foi nomeado professor de retórica e poética no Liceu
Mineiro. Casou-se no ano seguinte com Teresa Maria Gomes. Teve o casal oito filhos. Uma
das duas filhas foi Constança, falecida aos 17 anos, quando noiva de seu primo, o poeta
Alphonsus de Guimaraens, que a imortalizou na literatura como a que se morreu
fulgente e fria.
Extinta a cadeira, Bernardo Guimarães viu-se, já casado, sem colocação. Entre 1869
e 72 escreveu várias obras. Em 73, foi nomeado professor de latim e francês em Queluz,
atual Lafayette, MG. Também esta cadeira foi extinta. Basílio de Magalhães sugere que o
motivo deve ter sido, em ambos os casos, ineficácia e pouca assiduidade do poeta. Em 1875
publicou o romance que melhor o situaria na campanha abolicionista e viria a ser a mais
popular das suas obras: A escrava Isaura. Dedicando-se inteiramente à literatura,
escreveu ainda quatro romances e mais duas coletâneas de versos. A visita de Dom Pedro II
a Minas Gerais, em 1881, deu motivo a que o Imperador prestasse expressiva homenagem a
Bernardo Guimarães, a quem admirava.
Embora tenha começado a escrever ficção nos fins do decênio de 50, e tenha feito
poesias até os últimos anos, a sua melhor produção poética vai até o decênio de 60;
a partir daí, realizou-se de preferência na ficção. Estreando com os Cantos da
solidão em 1852, reuniu-se com outros, em 1865, nas Poesias. Na ficção, distinguem-se:
O ermitão de Muquém (escrito em 1858 e publicado em 69); Lendas e romances (1871); O
seminarista e Histórias e tradições de Minas Gerais (1872); O índio Afonso (1873); A
escrava Isaura (1875); Maurício (1877); Rosaura, a enjeitada (1883). Publicou mais duas
coletâneas de versos: Novas poesias (1876) e Folhas de outono (1883). Postumamente
apareceram O bandido do Rio das Mortes (1905) e o drama A voz do Pajé. Deve-se registrar,
além disso, a sua produção de poesias obscenas. A sua produção poética conhecida foi
reunida em Poesias completas de Bernardo Guimarães. Organização, introdução,
cronologia e notas de Alphonsus de Guimaraens Filho, edição do Ministério da Educação
e Cultura/Instituto Nacional do Livro (1959). |