Luís Sérgio Carvalho
"O poema é como um filho. Após gerado, pertence à humanidade. (...)"

Sobre...

Luís Sérgio Carvalho, conheço-o há pouco tempo, mas talvez o suficiente pra poder descrevê-lo como poeta. Principalmente na maneira como ele nega a condição de ser um deles. Um dia, conversando com o Giovanni Guimarães - um grande amigo em comum -  ele me disse que ninguém faz poesia. Elas já existem por si só. Alguns conseguem sentí-las e escrevê-las.

 Luís Sérgio é um desses privilegiados.  E mais poeta ainda ele se torna, pela maneira humilde em que mostra seus trabalhos. Como se o autor das poesias fosse uma alma vagante que o dominava, e não ele mesmo. Como se a "culpa" não fosse sua.
Pedralva? Pedralva está encalacrada em suas veias. É neto, marido, genro e amigo de Pedralva! Com certeza ele também é Pedralva

Daniel    Outubro/2002

ÀS VEZES
 
Perdoem-me a ousadia
das coisas que escrevo.
Sei, enche
ou esvazia
a paciência
de quem as lê.
Paciência!
A gente se enche mesmo;
às vezes.
 
Não sou poeta.
sigo somente o rumo,
a vontade
que assumo,
a apontar
o peito.
 
Jeito apenas
de esgotar o rio
que me enche;
às vezes.

TENHO 

Eu tenho o dom
de me embriagar
das pessoas lindas.
 
Eu tenho o fraco
de me encantar
com as pessoas fortes.
 
eu tenho a dúvida
de me encontrar
com a pessoa certa.
 
Eu tenho medo
de me revelar
na dor desperta.
 
Eu nada tenho
que o sonho é maior
que o maior empenho.
 
É claro,
eu tenho a morte
de me ter em vida,
tendo a sorte
de a ter querida.

APRENDER
 
Quando inocentes,
do amor,
somos apenas poesia.
 
Queremos urgentes,
da flor,
despetalar a magia.
Ao descobrir o penar,
como sorrir,
como chorar,
como comer,
como lançar,
já é tarde então;
endureceu-se o coração.
 
Já se sabe demais
para ser simples.
 
Mente
um canto, um verso
de uma canção.
 
poesia é partitura.
o que resta,
são pedaços de emoção.

INSÔNIA
 
A noite é velha.
Já adormeceu as casas
e os homens de boa vontade.

Os de outras vontades,
como eu,
em que sonhos estarão ainda
acordados?

SIMPLES

Invejo as pessoas simples.
Não as crianças,
que simplesmente são.
Nem as crianças que
fugazmente somos.
Mas, os não-eternos,
os simples.
 
Objetivos e insones
da prática honesta de viver.
Que quando se cita
ou se evita
a filosofia mais antiga
na solução do eterno enigma,
eles dizem:
é só cobrir com telhas
e não se molha.
São felizes.
Se me entendem,
eles entendem de tudo,
feira, novelas,
filmes, mazelas,
vozes de passarinhos,
brigas de vizinhos,
rezas, quebrantos,
fitas e todos os santos;
e até
de psicologia,
na mais exata questão,
ambos, marido e paixão.
 
São felizes.
Qual é o tesouro,
onde está o ouro,
do universo seu?
Ou é engano meu?

A VOLTA

A certeza do fato consumado.
A precisão da data marcada.
Os sonhos viram planos numa
expectativa definida.
 
Vou voltar.
Voltar
a andar pelas ruas
mais intimas da memória.
Reconhecer
Nos traços apagados das esquinas,
Os rumos que tomei.
 
Vou voltar.
Voltar
a ser menino alegre,
adolescente apaixonado,
pássaro errante e errado,
na profissão de ser homem.
 
E vou tomar sorvete.
E vou sentar na praça.
E vou chamar um engraxate.
Olhar sem pressa
A moça que passa.
E ter vontade de comer
Um doce com gosto de infância
De antigamente,
Da casa de minha mãe.
 
Vou voltar.
E voltar
a ter vontade
de nunca mais
ter de voltar.

AMOR PERFEITO

Tenho petúnias no quintal;
de cores róseas e lilases.
Nunca deixam de florir.

Uma beleza.
E nada me pedem.
Deviam chamar
amores-perfeitos.

 

(Só pra polemizar;
ou polinizar,
quem sabe...
A diferença é pequena)

luis_sergio_livro.jpg (27575 bytes)
Capa de seu Livro

Essas e muitas outras poesias, foram extraídas de seu Livro "Necessário" publicado em 1994.

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