Vida e Obra de Bernardo Guimarães
  poeta e romancista brasileiro [1825-1884 - biografia]

 
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Gente que BG conheceu
Fagundes Varela

Do site do BG e da ABL.
 
Bernardo Guimarães escreveu um poema (ver ao lado) em homenagem a Fagundes Varela em Ouro Preto, no ano de 1878, portanto após três anos da morte deste poeta fluminense.

Não se tem informação sobre o primeiro encontro entre os dois, mas é possível que ele se tenha dado em Catalão, no sul de Goiás, para onde BG -- então recém-formado pela Faculdade de Direito de São Paulo --  foi em 1852, como juiz municipal e delegado da cidade.

O pai de Varela -- Emiliano Fagundes Varela --, outro magistrado, foi com toda a família para a Catalão em 1851, um ano antes portanto da chegada de BG. Os dois poetas teriam se cruzado na região.

Fagundes Varela (Luís Nicolau F.V.) nasceu em Rio Claro, RJ, em 18 de agosto de 1841, e morreu  em Niterói, RJ, em 17 de fevereiro de 1875. 

Ele era da "pá virada", como diriam hoje (e também naquele época) , os moralistas de plantão. Boêmio -- a exemplo de Bernardo Guimarães, era seguidor de Byron -- matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo em 1862, mas não terminou o curso.  

Para desgosto de sua família, ele casou-se com a artista de circo Alice Guilhermina Luande, de Sorocaba. Passou a viver na penúria. 

O  seu primeiro filho, Emiliano, morreu aos três meses de idade, inspirou-lhe um dos mais belos poemas, "Cântico do Calvário". A partir daí, acentuam-se nele a tendência ao alcoolismo, mas também a inspiração criadora.

Publicou "Vozes da América" em 1864 e a sua obra-prima "Cantos e fantasias", em 1865. Nesse ano, ou em 66, durante uma viagem prolongada a Recife, faleceu-lhe a mulher, que não o acompanhara ao Norte.

 Ele voltou a São Paulo, matriculando-se em 1867 no 4o ano do curso de Direito. Abandonou de vez o curso e recolheu-se à casa paterna, na fazenda onde nascera, em Rio Claro, onde permanece até 1870, poetando e vagando pelos campos.

Deixou-se sempre ficar na vida indefinível de boêmio, sem rumo, sem destino determinado. Casou-se pela segunda vez com a prima Maria Belisária de Brito Lambert, com quem teve duas filhas e um filho, este também falecido prematuramente.

Em 1870, mudou-se com o pai para Niterói, onde viveu até o fim da vida, com largas estadas nas fazendas dos parentes e certa freqüência nas rodas da boêmia intelectual do Rio.

Obras: "Noturnas" (1861); "Vozes da América" (1864); "Cantos e fantasias" (1865); "Cantos meridionais" e os "Cantos do ermo e da cidade (1869)".

Deixou inédito o "Anchieta ou Evangelho na selva" (1875), "O diário de Lázaro" (1880) e outras poesias.

Otaviano Hudson, amigo fiel, reuniu os "Cantos religiosos" (1878), com o fim de auxiliar a viúva e filhos do poeta. "As Poesias completas", organizadas por Frederico José da Silva Ramos, saíram em 1956.



Casa em Catalão de BG e depois de Varela


Fagundes Varela (1841-1875),
 na foto, teria conhecido
BG em
Catalão (Goiás)

Fagundes Varela

Bernardo Guimarães

Olha, ó poeta! pelo ocidente
Que oceano luminoso!...
Que painel sedutor o sol poente
Esboça pelo espaço vaporoso!...

E o sol é já sumido além dos montes
Buscando outro hemisfério,
E ainda nos dourados horizontes
De seus fulgores alardeia o império.

Em suntuosa campa ei-lo deitado
Sobre imenso coxim!...
Vasto sudário o cobre recamado
De ouro e de carmim;
E um anjo do Senhor com mão oculta
Entre luzes e flores o sepulta.

A selva, o rio, a viração sonora
Lhe manda um triste adeus;
O passarinho, que o saudou na aurora,
Sagra-lhe agora os ternos cantos seus,
E toda a terra, cheia de saudade,
Lhe entoa o hino da imortalidade.

***

Mas no zenith que nuvem tormentosa
Seu brilho escureceu...
E o despenhou por senda tenebrosa
Na campa, que o escondeu!?...
Quanto bulcão sinistro e temeroso
O precedeu no ocaso glorioso!?...

De vil poeira e sórdidos vapores
Espessos turbilhões ao céu remontam;
E querendo apagar-lhe os esplendores
Ao astro, que descamba, a face afrontam;
Mas não consegue tétrico negrume
Extinguir o farol de eterno lume.

Ei-lo se esconde belo e grandioso,
Qual foi em sua aurora;
Com hino alegre, ou canto suspiroso
A natureza o rei da luz adora.

***

Tal foi, tal é, poeta, o teu destino.
Sorriu-te o céu pela manhã da vida,
E gorjeando o arpejo matutino
Na selva florescida
Cantaste o amor, a glória, e a flor tão bela,
Que os sagrados mistérios nos revela.

Depois, mais alto erguendo o pensamento,
Buscaste a solidão,
Para escutar os místicos acentos
Das harpas de Sião,
E na forma de um hino encantador
Nos ensinaste o Verbo do Senhor.

Pairou-te então por certo sobre a fronte
A chama do Sinai,
E te mostrando a sacrossanta fonte
Dos hinos de Adona
Na mente te acendeu santo delírio,
Para cantar do Gólgota o martírio.

Foi assim, que na verde Galiléia,
Pela voz de Jesus
Se propagou a generosa idéia,
Que ele selou com sangue em uma cruz;
E a voz, que ouviram nazarenas relvas,
Ecoa agora nas brasílias selvas.

Foi a tua manhã serena e pura,
Foi teu zenith brilhante;
Porém ao declinar, tormenta escura
Pairou-te sobre a mente, como ao Dante,
E te inspirou, sublime anacoreta,
Esse imortal poema, - o Anchieta

***

Mas já da noite o véu silencioso
Se estende sobre o mundo,
E mil estrelas tremulas fulguram
Do céu no azul profundo.
Volve ainda, ó poeta, os olhos teus
Ao pálido ocidente;
Por onde o sol se foi, não vês surgindo
Estrela refulgente?...

Que suave clarão fagueira entorna
Por montes e por vales!...
Gota a diríeis de celeste orvalho
De flor azul a cintilar no cálix.

E Vésper, que lá mostra a meiga face
Qual cândida açucena,
Por céus e terra a frouxo derramando
Luz plácida e serena.

O sol sumiu-se, ardente e luminoso
Entre canções, envolto em resplendores;
E ela sozinha vem velar-lhe a campa
Com seus meigos fulgores.

É assim a glória, traz sempre na vida
Um travo de amargura;
E só sobre o silêncio dos jazigos
Resplende calma e pura.

***

Varela, como o sol tu te sumiste,
Envolto em luzes no horizonte  extremo:
Em um hino imortal, formoso, imenso
Deste o clarão supremo.

Hoje da glória a lâmpada perene
Resplende sobre tua humilde lousa,
Aos séculos dizendo:
- O cantor de Anchieta aqui repousa. -

Ouro Preto, maio de 1878

 
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