Vida e Obra de Bernardo Guimarães
  poeta e romancista brasileiro [1825-1884 - biografia]

 
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Tributo da saudade
À memória do meu jovem amigo Dr. Antônio Augusto do Amaral,
falecido a 22 de março de 1883

Tão cedo, ainda na flor da mocidade,
Desta vida mortal transpondo as raias
Soltaste a vela ao mar da eternidade,
Ao mar que não tem praias!...

Do mundo no caminho insidioso
Bem depressa cansaste,
E perdido por trilho tenebroso
Na campa tropeçaste.

Por mortífero sopro despencadas
Na quadra mais gentil da humana vida,
As puras rosas de um porvir risonho
Caíram-te da fronte esmorecida
Em lutuosos goivos transformadas
No túmulo medonho.

Mas por entre estas lágrimas, que verto
Ao pé do teu jazigo,
Do pai, e dos irmãos ao desalento,
Em lúgubre concerto,
Prantos mesclando de saudoso amigo,
Eu diviso no azul do firmamento
A consolar-me uma visão celeste,
Que vem a ti baixando
E entre coros angélicos pairando
De divinais fulgores se reveste.

De uma mulher a veneranda imagem
Simpática resplende.
E dentre os véus da mística roupagem
Os alvos braços com fervor te estende.

Nadam-lhe os olhos em celeste brilho
De inefável, dulcíssima alegria,
Como da mãe que ao abraçar o filho
Em suaves transportes se extasia.

Ah! sim! é tua mãe, que ao céu te chama
Nos meigos lábios poisa-lhe um sorriso,
Que traduz a ventura em que se inflama
Quem já tem por morada o paraíso.

É ela! da eterna! felicidade
A radiosa auréola fulgura
Por sobre a fronte pura
Em que transluz a angélica bondade
Daquele coração; piedoso ninho
De mansidão, de amor e de carinho.

A ti se chega com fagueiro aspeito,
E com aquela voz suave e calma,
Com que outrora acalentou-te ao peito
Assim te fala: "Ó filho de minha alma,
Primeira flor da minha primavera,
Meu filho, eu bem quisera
Não te deixar tão cedo neste mundo
De tredas ilusões pego profundo,
Onde tudo que é belo, degenera.

Tu eras meu prazer, minha ventura,
Tu eras no porvir meu sonho de ouro,
No passado lembrança terna e pura
Eras minha esperança, e meu tesouro.

Ah! Bem cedo deixei-te entre os abrolhos
Dessa escabrosa vida,
Fraco lutando entre milhares de escolhos.
Em afanosa lida.

Talvez jamais verás realizados
Teus sonhos de criança...
Quem sabe?! do porvir aos céus nublados
Não acharás ventura nem bonança.

Teu nobre coração não mais laceres
Desse mundo nos ásperos espinhos;
A mão te estendo; vem, se assim o queres,
Gozar no céu dos maternais carinhos;
Vem, ó meu filho, vem, ó meu amigo,
A par dos anjos vem gozar comigo".

E tu, meu bom amigo, aqui dormindo
Da existência mortal quebraste os laços
E foste despertar além sorrindo
De tua mãe nos braços.

Ouro Preto, 22 de abril de 1883.

 

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