folha de
s. paulo de 23 de fevereiro de 2008 Morre Rubens de Falco,
vilão de "Escrava
Isaura"
DA REPORTAGEM
LOCAL
Morreu ontem de manhã, em São Paulo,
aos 76 anos, o ator Rubens de Falco, que inscreveu o Leôncio Almeida da
novela "Escrava Isaura" (1976), da TV Globo, na galeria dos
grandes vilões da teledramaturgia brasileira. Internado havia quase
dois anos no Centro Integrado de Atendimento ao Idoso, no Morumbi (zona
sul), para se recuperar de um AVC (acidente vascular cerebral), ele
sofreu uma parada cardíaca.
O corpo foi velado no cemitério São Paulo, em Pinheiros (zona oeste),
e o enterro estava previsto para as 16h de ontem, no cemitério da
Consolação.
O último trabalho de Falco na televisão
foi no remake de "Escrava Isaura", exibido na Record em 2004.
Aqui, ele interpretou o comendador Almeida, pai de seu personagem na
versão original.
"Estou muito triste, chocada. Rubens
foi dos colegas mais admiráveis que encontrei na vida: era generoso,
talentoso, um grande ator. Aprendi muito com ele", disse Lucélia
Santos, que teve o papel-título na "Escrava Isaura" de 1976:
o da escrava branca que sofria nas mãos do filho de seus senhores, Leôncio
(Falco), obcecado por ela. Primeiro sucesso internacional da Globo, a
novela foi vendida para 40 países.
No cinema, a última aparição foi em
"Fim da Linha", de Gustavo Steinberg, que estréia no Rio e em
São Paulo no próximo dia 7. Na comédia, ele encarna o deputado
Ernesto Alves, que desaparece após ganhar na loteria 1.313 vezes.
O personagem é inspirado no ex-deputado
federal João Alves, um dos pivôs do escândalo dos Anões do Orçamento,
no início da década de 90, que atribuía sua riqueza a vitórias
sucessivas na loteria.
"Foi uma honra ter trabalhado com
ele. Rubens foi um dos ícones da minha infância. No começo [das
filmagens de "Fim da Linha", em 2005], fiquei intimidado pela
figura dele. Mas ele se mostrou supermodesto, disponível; entregou-se
de corpo e alma ao filme", afirmou Steinberg.
De Sófocles a Gorki
A atriz e diretora Nydia Licia, que
trabalhou com Falco e escreveu uma biografia dele para a Coleção
Aplauso (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo), conta que o ator
estreou no teatro em 1951, com "Ralé", de Máximo Gorki,
encenada pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Da mesma companhia,
atuou em "Antígona", de Sófocles, e "Os Ossos do Barão",
de Jorge Andrade.
Ainda na década de 50, passou pelo
Teatro Íntimo Nicette Bruno, pelo Arena ("O Prazer da
Honestidade", de Luigi Pirandello), pela companhia de Nydia e Sérgio
Cardoso ("Lampião", de Rachel de Queiroz) e pelo grupo Os
Jograis, com o qual fez turnês em Portugal e México. Em 58, fez
"Boca de Ouro", de Nelson Rodrigues.
Nos anos 60, Falco subiu ao palco em textos de Bertolt Brecht, Friedrich
Dürrenmatt e outros. Em 71, no Rio, atuou em "Casa de
Bonecas", de Henrik Ibsen.
Outros destaques da carreira teatral
foram "O Monta-Cargas" (82), de Harold Pinter, e "Péricles"
(96), de William Shakespeare. A despedida se deu em 2004, com
"Galeria Metrópole", de Mário Viana.
"Deixa, Amorzinho..."
No cinema, a carreira começou com "Apassionata",
em 1952, primeiro de três filmes nos estúdios Vera Cruz -o mais
bem-sucedido seria "Floradas na Serra", de Luciano Salce, dois
anos depois. Nos anos 70, apareceu em comédias eróticas como
"Deixa, Amorzinho...Deixa". Em 1981, fez uma participação no
premiado "Pixote: A Lei do Mais Fraco", de Hector Babenco.
Na televisão, além do Leôncio, criou
tipos marcantes nas novelas "A Sucessora" (1978),
"Gaivotas" (1979), "Gabriela" (1975) "Os
Imigrantes" (1981) e "Sinhá Moça" (1986).
Última entrevista à tv
Na entrevista abaixo, em um programa de
televisão, Rubens de Falco, que naquele dia estava completando 72 anos,
fala de sua carreira e do seu papel de vilão na Escrava Isaura. Na
época, ele fazia teatro.