Vida e Obra de Bernardo Guimarães
  poeta e romancista brasileiro [1825-1884 - biografia]

 
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O poeta
por Alphonsus de Guimaraens Filho

Bernardo Guimarães, que estreou como poeta, com "Cantos da Solidão", em 1852, foi considerado em vida mais pelas suas qualidades de romancista, tornando-se mesmo, através de suas obras de ficção, um dos escritores populares do seu tempo. Manteve-se, porém, fiel à poesia, tanto que no ano anterior à sua morte, 1883, ainda editor uma coletânea de versos, "Folhas de Outono"

Foi José Veríssimo (nos seus "Estudos de Literatura Brasileira", edição de 1901 da Casa Garnier, pág. 254) quem, ao comentar o aparecimento, em 1890, de nova edição das "Poesias" de Bernardo Guimarães, sugeriu pela primeira vez a hipótese de ser o poeta superior ao romancista: "Não é muita, não é talvez tanto quanto merecia, a reputação de Bernardo Guimarães como poeta. Sobrelevou-a a de romancista, que foi dos mais fecundos das nossas letras. Não creio que este juízo seja bom, e talvez nós possamos sem impertinência começar a revê-lo". 

A mesma opinião foi repetida pelo crítico na sua "História da Literatura Brasileira", onde se lê à página 261 da 3ª edição, feita em 1954 pela Livraria José Olympio Editora: "Bernardo Guimarães teve em seu tempo, e não sei se continuará a ter, mais nome como romancista do que como poeta. Não me parece de todo acertado este modo de ver".

O julgamento de José Veríssimo veio a ser reforçado por outros, e estes mais importantes ainda por vierem de poetas: perfilharam tal opinião, entre outros, Ronald de Carvalho, quando afirma à página 286 da 3ª edição de 1925, de sua "Pequena História da Literatura Brasileira", F. Briguiet & Com., Editores; que, "poeta antes de tudo, Bernardo Guimarães sentiu, mais do que observou, as cousas do mundo"; e Manuel Bandeira, ao dizer na sua "Antologia dos poetas Brasileiros da Fase Romântica", onde inclui Bernardo Guimarães, juntamente com Laurinho Rabelo, logo depois de Gonçalves Dias, Castro Alves, Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Casimiro de Abreu e Fagundes Varela, como "os que deixaram obra que, em bloco, testemunha forte e decidida vocação poética: "Teve em seu tempo mais nomeada com romancista do que como poeta. Estamos com José Veríssimo, que, em sua "História da Literatura Brasileira", não considera "de todo acertado esse modo de ver".

Ainda Manuel Bandeira, à página 16 de sua "Antologia" deixaria inscrito: "Por mim, reclamaria maior atenção para Bernardo Guimarães, cujo "Devanear do Céptico" é um dos poemas mais importantes do romantismo". 

Maior atenção: a verdade é que os romances e contos de Bernardo Guimarães vieram tendo sucessivas edições, algumas graficamente lamentáveis, enquanto a sua poesia caiu em olvido quase completo. Tão grande se fez esse olvido que a inclusão de poemas seus na excelente antologia organizada por Manuel Bandeiras veio revelar o poeta às gerações mais jovens e representou mesmo uma reparação. Homenagem de vulto significou também o número consagrado ao poeta por "Autores de Livros", dirigido pelo escritor Múcio Leão, em 14 de março de 1943.

Da mesma opinião de José Veríssimo, Ronald de Carvalho e Manuel Bandeira, já não é outro crítico dos nossos dias, Agripiano Grieco. Na sua "Evolução da Poesia Brasileira", à página 36 da 2ª edição, de 1944, da Livraria H. Antunes, Rio de Janeiro, manifesta-se ele: "Quanto ao Bernardo Guimarães poeta, é autor de vários volumes rimados que não merecem o quase total esquecimento em que jazem, embora -- e aí o povo acerta -- o romancista valha muito mais".

Por sua vez, João Alphonsus, no seu estudo "Bernardo Guimarães, romancista regionalista", feito para a edição de maio de 1939 da "Revista do Brasil" e mais tarde reproduzido no volume "O Romance Brasileiro (Editora O Cruzeiro, 1952, com coordenação, notas e revisão por Aurélio Buarque de Holanda), viu, na opinião dos que declararam o poeta maior que o romancista, "um critério intelectual exigente", acrescentando: "No que concerne a Minas, nenhum outro escritor de sua época foi mais admirado, lido e conhecido, e as velhas bibliotecas do interior ainda contêm cuidadosamente os seus romances. A nomeada se prolonga até hoje e nas velhas fazendas mineiras os serões, conservando uma tradição de proprietários letrados, costumam se encher com suas histórias repetidas oralmente, ou lida nas antigas edições. Aliás, esgotadas as edições Garnier, prova de sobrevivência  -- seus livros têm aparecido em forma popular, em volumes materialmente infames, que desaparecem logo para satisfazer a curiosidade do leitor comum, que continua a admirá-lo". 

Ainda João Alphonsus estudaria "A posição moderna de Bernardo Guimarães", no ensaio com esse título que publicou em "Autores e Livros, nº de 14.III.1943, e para o qual chamamos a atenção do leitor, por se tratar de um trabalho que melhor o ajudará a conhecer Bernardo Guimarães e sobretudo por conter detida análise da posição do escritor mineiro diante da crítica.

Bernardo Guimarães deu forma e expressão, em grande parte de seus poemas, a sentimentos de sua geração e do seu tempo. Como em "O Devanear do Céptico", em que Manuel Bandeira viu "certamente a produção mais característica do estado de espírito de sua geração", em diversos poemas traduziu ele emoções ou estados de alma não apenas seus, mas de todas uma época.

Talvez se possa dizer que a sua obra poética proporciona, em conjunto, a sensação de que estamos diante de um romântico em que o famoso "mal do século", atingindo-o embora, não pôde dominar a capacidade de reagir à tristeza mórbida, ou ao clima de angústia irreparável em que viveram os poetas seus contemporâneos, pelo humorismo, às vezes também amargo, inerente à sua natureza. E romântico que, com certos traços que o distinguem dos demais ("o que, acho eu, distingue exteriormente, se assim posso dizer, Bernardo Guimarães como poeta, é que, seja qual for o seu mérito, ele tem como tal, personalidade à parte da dos poetas de seu tempo", escreveu José Veríssimo) como os demais padeceu o tormento da dúvida, a obsessão da morte, e longamente celebrou o sentimento amoroso.  Paradoxalmente, o sentimento amoroso só não apareceu no seu primeiro livro, "Cantos da Solidão", onde Basílio de Magalhães viu não "o livro de um poeta de 27 anos", mas que lhe pareceu, isto sim, "obra de um qüinquagenário", por não vislumbrar nas suas páginas "o enlevo da mulher, a que o homem, na fecunda primavera da vida, principalmente quando bafejado pelas musas, entoa com todas as veras e com todas as gamas da sentimentalidade, os seus mais sinceros, mais cálidos e mais efusivos descantes". Mas romântico em meio a cujas notas não raro desalentadas surgia freqüentemente o humorista, com a facécia habitual, como no poema "A meus primeiros cabelos brancos"; nele, as lamentações do poeta se interrompem com esta quadra em que, para aliviar talvez a pressão inferior, se descreve ele assim pitorescamente:

Agora apenas, de óculos nas ventas,
Em tosco rabecão,
Poderei desferir algumas notas
Em tom de cantochão.

Em tom de cantochão: aí está, nessa quadra, a essência da poesia joco-séria que Bernardo Guimarães tanto afeiçoava. Sucede porém que, não raro, se dava o contrário, isto é, o poeta se preparava para fazer um poema joco-sério e de repente percebia que a sua ingênita melancolia acabava por dominar os versos e se impor. É o que anota ele, por exemplo, no poema em que, como neste citado acima, também se detém, a analisar a devastação e estragos causados pelo tempo: "Ao meu aniversário". Fora a sua intenção inicial debicar, num tom muito seu. Mas eis que se surpreende ele a constatar que:

E esta?! -- comecei sobre esse assunto
Um canto joco-sério:
Eis senão quando vejo-me envolvido
No pó do cemitério...

Foi Bernardo Guimarães um poeta em cuja personalidade coexistiram habitualmente o lírico e a humorista, mas que tem como a sua principal nota a visão pessimista, e dolorida da existência. 

  

 Este texto e do livro "Poesias Completas de Bernardo Guimarães", de Alphonsus de Guimaraens Filho, editado pelo Instituto Nacional do Livro, do Ministério da Educação e Cultura, no ano de 1959. A reprodução acima é da lombada do livro que tem 543 páginas.

 

 
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