Poesia de Albino
José Alves Filho, genro de BG
Paradoxo
Muito luto, dor tristeza
O misto inverno anuncia
Pois sem vida a natureza
É soluço de agonia.
As folhas secas, mirradas,
Estalam-nos sob as plantas;
Do passaredo as gargantas
Sonoras, estão fechadas.
Os murmurosos regatos
Não cantam por falta d’água
Os colibris, rosas, cactos
Morrem de tédio e de mágoa.
Melros ledos, joviais,
Chilreantes andorinhas
E canoras avezinhas.
Pelos ares, soltam "ais"
No lírio já não saltita
Do orvalho a gota — diamante —
E a borboleta catita
Morreu co’a flor — sua amante.
Não desabrocha suave
Trincante riso nos lábios
Porquanto, sente os ressábios
Do inverno, tristonho e grave.
Vero contraste, no entanto,
Em todo meu ser se gera...
Na natura, inverno, pranto...
No meu peito, primavera.
É que tenho olhar radioso
É primavera no inverno.
Quando tão doce e tão terno
Nos alucina de gozo...
No meu peito abrir-se vejo
Num dilúvio de fulgor
O céu azul do teu beijo
A rubra aurora do Amor.
E, alucinado, portanto,
Vejo o contraste que impera
Na Natura, inverno pranto,
No meu peito , primavera.
1892
Publicado em "A Verdade" em 29 de outubro de 1892
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