Bestialógico significa discurso sem
nenhum sentido, de asno, disparatado, despropositado, coisa de maluco.
Bernardo Guimarães foi um dos
introdutores no Brasil do bestialógico, em prosa e verso.
Quando estudante em São Paulo, na
Faculdade de Direito, B.G. promovia em sua República, às quartas-feiras,
noitadas de farras onde não faltavam bebidas, mulheres e poesias bestialógicas.
O historiador Basílio de Magalhães
(1874-1957) informa que, entre os estudantes, era o próprio Bernardo que se
destacava na declamação de poesias bestialógicas (ou pantagruélicas, como eram
chamadas naquela época).
Numa ocasião, trepado na cadeira,
como sempre fazia, "improvisou uma célebre poesia em que vinha toda sorte de
extravagância, e que fez tal impressão que tem sido conservada na memória dos
estudantes", escreve Magalhães.
A poesia é a seguinte:
Com grandes desgostos dos povos da
Arábia,
Vieram os bonzos da parte de além,
Comendo presunto e empadas de trigo,
Sem ter um vintém.
E os ratos vieram, trotando depressa,
De espada na cinta, barrete na mão;
Prostravam-se ante eles fazendo caretas
Com grã devoção
E o filho dos ermos, do monte rolando,
Puxou pela faca, de grande extensão;
Caiu como o cisne, que toca trombeta,
De ventas no chão.
E lá pelos pólos, de gelo abrasados,
Eu vi Napoleão
Puxando as orelhas ao fero Sansão,
É um lindo mancebo de nobre feição
Brincando entre as pernas do rei Salomão |