Vida e Obra de Bernardo Guimarães
  poeta e romancista brasileiro [1825-1884 - biografia]

 
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A Escola de Minas muda a dinâmica dos Silva Guimarães: Gorceix e Ferrand, Calógeras e Medrado

por Maria Fernanda Alves Guimarães (*)

Entre maio de 1871 a março de 1872, d.  Pedro II foi a Europa. Como membro estrangeiro da Academia de Ciências de Paris, solicitou ao naturalista e mineralogista Auguste Daubrée  uma pequena   «Notícia sobre o modo de chegar ao conhecimento mais completo do solo do Brasil e de desenvolver a exploração de suas Riquesas Minerais». Além desse estudo, o Imperador pediu a Auguste Daubrée que viesse especialmente ao Brasil. Como diretor do Museu de Escola Natural, o sábio não pôde vir, mas prometeu de arranjar para d. Pedro II “um mineralogista e um geólogo para organizar o ensino da mineralogia” no Brasil.  Dois anos depois, Daubrée indicou Claude-Henri Gorceix. A vinda de Gorceix (pronuncia-se Gorrrcéx) e a abertura da  Escola de Minas de Ouro Preto mudaria profundamente os rumos da família Silva Guimarães. 

Monsieur Gorceix —  dizia Daubrée a dom Pedro II, em carta datada do início de 1874 —  não é apenas um sábio possuindo conhecimentos gerais muito sólidos. Possui ele o gosto pelas viagens e sabe viajar. Aliás, já mostrou em várias circunstâncias energia e intrepidez. Suas qualidades pessoais, principalmente sua retidão, lhe proporcionaram a estima de seus antigos mestres. Além disso, o ardor que põe em suas pesquisas científicas se traduz externamente por uma grande vivacidade». 

Alguns dias mais tarde, Claude-Henri Gorceix  era apresentado ao Visconde de Itajubá, conselheiro Marcos Antônio de Araújo,  enviado extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Brasil na França,  assinando  um contrato provisório, em 1874 comprometendo-se a ir ao Rio de Janeiro a serviço do Governo Imperial, para aí organizar o ensino da Mineralogia e da Geologia, com vencimentos de 8:000$000 anuais  (oito mil contos).  

GORCEIX não se demorou em optar por Ouro Preto, não apenas por se tratar da capital da Província, mas após as  considerações sobre as vantagens por ela apresentadas: «Em muito pequena extensão de terreno pode-se acompanhar a série quase completa das rochas metamórficas que constituem grande parte do território brasileiro e todos os arredores da cidade se prestam a excursões mineralógicas proveitosas e interessantes. A este respeito considero a cidade de Ouro Preto como apresentando notáveis vantagens sobre as outras e se achando em uma situação relativamente favorável ao estabelecimento da Escola de Minas.» 

Essa escolha de Gorceix e os 17 anos em que ele viveu no Brasil  iriam  alterar profundamente a vida de Ouro Preto, a dele própria e a da família Silva Guimarães. 

Bernardo Guimarães contava  entre seus irmãos Joaquim Caetano da Silva Guimarães, ministro do Supremo Tribunal Federal, cujo apelido familiar era Joaquim Careta.  O desembargador  e sua esposa,  Maria, tiveram um único filho  varão,  Luiz Caetano da Silva Guimarães, e sete filhas: 

  • Constança da Silva Guimarães, (Essa Constança não pode ser confundida com Constancinha, filha de BG, que foi noiva de Alphonsus de Guimaraens), daí a importância dos apelidos familiares.  

  • Fanny da Silva Guimarães

  • Maria Canuta da Silva Guimarães, que como escritora assinava-se Paula Nelle

  • Elisa da Silva Guimarães, Sinhoca

  • Eleonora da Silva Guimarães, Nurica

  • Anna da Silva Guimarães, Niquita

  • Júlia da Silva Guimarães, Julica

A notícia de abertura de uma escola de engenharia na própria  Ouro Preto com certeza entusiasmou as sete mocinhas. 

E elas não estavam erradas!   

Constança, chamada por Iá,   iria se casar com  Claude-Henri  Gorceix em 25 de junho de 1885, tendo este um dos motivos que o fez ficar no Brasil mais um tempo, conforme atesta carta para o Imperador datada de abril de 1884.  Deixaram descendência, que vive hoje na França.

Maria Canuta
, a sobrinha preferida de B.G.,  casou-se com o geólogo francês Paul Ferrand, aluno brilhante da Escola de Minas de Paris,  contratado por Gorceix como professor da Escola, em 1882, sob os auspícios do Imperador. 

Fanny
casou-se com Alcides Medrado, que era parente de Archias E. da Rocha Medrado,  professor de Matemática contratado por Gorceix e depois seu sucessor como diretor da Escola.

Elisa, Sinhoca, casou-se com João Pandiá Calógeras, aluno de Gorceix, e depois Ministro da Agricultura, Comércio e Indústria no Governo Venceslau Brás quando pioneiramente estuda a substituição da gasolina pelo álcool; Ministro da Fazenda e Minisitro da Guerra no governo Epitácio Pessoa, quando institui  o Código de Organização Judiciária e do Processo Militar, organiza as esquadrilhas de aviões de observação, bombardeio e caça e intensifica a construção de quartéis pelo país.Foi o único ministro da Guerra Civil em toda a história republicana do Brasil. Não deixaram descendentes. 

Eleonora, Nurica e Anna, Niquita nunca se casaram. Júlia, Julica casou-se com seu primo Afonso da Silva Guimarães, tamém escritor, autor de Ossa mea e Os Borrachos, filho de Bernardo, mas não tiveram filhos. 

O único varão de Joaquim Caetano, Luiz, casou-se com Maria Evangelina Teixeira de Magalhães e deixou grande descendência pelos filhos Jaques, Maurício e Djalma. 

Djalma Guimarães seguiu os passos de Gorceix, o tio por afinidade. Formado pela Escola de Minas de Ouro Preto, turma de 1.919, é reconhecido como um dos maiores geocientistas do Brasil. Descobriu  uma variedade de microlita uranífera denominada mais tarde a djalmaíta, em sua homenagem. Existe um museu de minerologia com o nome dele, em Belo Horizonte.

Os dois grandes Museus de Mineralogia do Brasil, o Henri Gorceix, de Ouro Preto, e o Djalma Guimarães, de Belo Horizonte, estão profundamente ligados à família de Bernardo Guimarães, que tem entre suas obras mais populares  justamente O Garimpeiro.   

 

Claude-Henri Gorceix, um francês que se destacou no Brasil

 

Claude-Henru Gorceix (foto) nasceu em 19 de outubro de 1842 em ST. Denis Des Murs, França, filho de Antoine Gorceix e Cécile-Valérie Beaurel La Mareille. Sua vida intelectual sempre se destacou por realizações.

Seu avô parteno, Jean-Baptiste Gorceix,  fora casado,  em segundas núpcias,  com a irmã do célebre físico e químico Joseph Gay-Lussac. 

Aos 12 anos, ingressou como bolsista  no Liceu de Limoges, onde, durante os 5 anos em que lá esteve, tinha seu nome  constantemente afixado no quadro de honra. Em 1863 entra na Escola Normal Superior de Paris, seção de Ciências, concluindo em 1866 o curso de Ciências Físicas e Matemáticas.

Professor de Ciências Físicas e Naturais no Liceu de Angoulême em outubro de 1866, tem no  ano seguinte sua nomeação na Escola Normal Superior de Paris, como agregé-préparateur  para Mineralogia, Geologia e Botânica,  por proposta do famoso cientista  Achile Délesse, que mais tarde contribuiria com seu saber para a serviços prestados à Escola de Minas de Ouro Preto.


Em 1º de junho de 1869 é nomeado professor do Curso de Ciências da Escola Francesa de Atenas. Esta escola que tradicionalmente só acolhia  normaliens  literatos, teve em Claude Henri Gorceix como seu único membro cientista.

Voluntariamente se alista no exército Francês , na guerra franco-prussiana (1870)  como  sous-lieutenant  (subtenente) do 9º Regimento de Artilharia. Firmada a paz, volta à Grécia e realiza numerosas excursões científicas, concentrando mais sua atenção nos estudos de fenômenos decorrentes de erupções vulcânicas.

Como Delegado da Academia de Ciências, continua suas pesquisas nas ilhas, então turcas, de Kos e Nysirus, no Mar Egeu, e depois segue para a Itália estudar o Vesúvio. 

Volta a Paris no início de 1874 para  retomar suas funções na Escola Normal Superior. Tinha a idéia de se à carreira universitária na França. Porém, mal reassume   seu post,  recebe o convite do  Imperador D. Pedro II, através de Daubrée, para  fundar uma Escola de Minas no Brasil. Tinha 31 anos e 9 meses de idade. 

Dotado de rigorosa consciência cultural, de dedicação ao trabalho científico  e de profunda ética intelectual,  enfrenta já no Brasil  muitos percalços para o funcionamento da escola.  Essas dificuldades iam da burocracia nos Ministérios ao desinteresse de alunos, passando pela crônica falta de recursos e  pelas tentativas de ingerência dos políticos locais no destino da escola superior.  Nada muito diferente do que acontece na Universidade até mesmo neste início do século XXI. 

Gorceix, entretanto, contava com um grande aliado na superação dessas dificuldades: o próprio Pedro II. A obra D. Pedro II e Gorceix, da historiadora Margarida Rosa de Lima aponta rica e farta correspondência entre o monarca e o cientista francês, que muitas vezes reclama mesmo a Pedro II dos entraves que encontra à frente.

A intimidade entre Gorceix e Pedro II era tal que em abril de 1884  o cientista praticamente pede a bênção do Imperador para se casar com "a sobrinha de Bernardo Guimarães".

Em 25 de junho de 1885, Claude-Henri Gorceix dá conhecimento ao monarca do seu casamento. 

Em dezembro de 1886, Gorceix comunica ao Imperador o nascimento de sua filha, Thérèse Pierrete Cécile Valery (1886-1974), nascida em 27 de novembro,  e convida Pedro II e a Imperatriz Teresa Cristina  para padrinhos. E o casal imperial realmente aceitou-se como padrinhos da menina, tendo sido seus procuradores os avós, Joaquim Caetano e Maria da Silva Guimarães.

(*) Maria Fernanda Alves Guimarães é jornalista, pesquisadora de História e de Genealogia, com base na obra D. Pedro II e Gorceix, de Margarida Rosa de Lima. 

Fonte:  LIMA, Margarida Rosa de “D. Pedro II e Gorceix — a Fundação da Escola de Minas de Ouro Preto”,  dissertação de Mestrado da Universidade de Poitiers, França, 1972 –  obra publicada pela Fundação Gorceix em 1977, como Edição Comemorativa do Primeiro Centenário da Escola de Minas de Ouro Preto, hoje Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) 

Excertos da obra publicados (em verde) e transcrição da  correspondência citada na obra com  concordância da autora Margarida Rosa de Lima.  As grafias da época foram mantidas nas transcrições, quer em francês, quer em português.  

 

 

 

 
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