Vida e Obra de Bernardo Guimarães
  poeta e romancista brasileiro [1825-1884 - biografia]

 
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O dramaturgo
por Basílio de Magalhães  (1874-1957)
(do livro "Bernardo Guimarães - esboço biográfico e crítico)

O drama "A Voz do Pajé" revela que Bernardo Guimarães, mesmo para o teatro, cogitava somente assuntos brasileiros. As suas outras peças, uma totalmente perdida, "Os dois recrutas",e a outra sobre "Os inconfidentes", que deixou truncada, confirmam esse constante pender do seu belo espírito.

No único que se imprimiu, graças a Dilermano Cruz, vê-se que ele conhecia os segredos da encenação e da dialogação, correndo todo o entrecho com visível naturalidade e hábil aproveitamento das disposições do espaço tempo.

Tomou ele por tema o episódio da conquista do Paraíba pelos colonizadores portugueses, no último quartel do século XVI, e delineou bem a figura do chefe tabajara Piragibe, a quem se devem a pacificação de toda aquela tribo.

É evidente que o autor não se preocupou com o rigor das circunstâncias históricas que envolveram aquele acontecimento. Dá como capitão-mor da Paraíba, então, a Coelho de Sousa, quando era Fructuoso Barbosa, nomeado em 1580 e cujo governo se estendeu até 1592, data em que foi substituído por Feliciano Coelho de Carvalho. Além disso, atribui a Piragibe o acaudilhamento da cabilda dos potiguaras, quando o era da dos tabajaras.

Gira o drama em torno do amor entre Henrique (nome cristão de Jurupema, filho de Piragibe) e Elvira, filha do capitão-mor, já prometida pelo pai ao fidalgo lusitano Diogo de Mendonça. É precisamente a mesma situação de "Maurício", entre este, Leonor e Fernando. Também, como neste romance, o protagonista do drama não sabe se decidir-se entre o violento impulso do coração para a mulher amada e o sagrado dever para a pátria. Em Julião, o mameluco do drama, vêem-se traços de Tiago, o mameluco do romance, assim como entre o pajé daquele e o Irabussú deste.

Esforçou-se Bernardo Guimarães por adequar bem às personagens a forma de expressão, pois se manifesta claramente a diferença entre o que dizem portugueses e o que falam índios. É nos lábios destes ou do mestiço que abundam comparações como estas:

- "Belo e grande como o jequitibá, ágil e robusto como o haguar", "veloz e lésto, como um saguí"; "fronte branca e pura, como as penas do guará". Só uma vez põe na boca portuguesa uma frase impropriada: "Estes marabás são velhacos e fino, como cobras".

A nítida compreensão, que teve o escritor mineiro, no tocante à melhor solução do nosso problema indígena - sugerida pelo patriarca da Independência e ora posta em eficiente prática pelo benemérito Rondon e seus dignos auxiliar - decorre dos períodos seguintes, notando-se que são filhos de além mar que os proferem: "Somos demasiadamente cruéis em nosso modo de tratar os naturais do país.Quem sabe que povo generoso e forte surgiria dessa raça proscrita e perseguida, se, em vez de algemas, lhe estendêssemos mão amiga e protetora, e se, em vez de guerra de extermínio, lhe oferecêssemos aliança e amizade? "E é talvez esse rigor, esse extermínio e perseguição, a que os condenamos, que os tornam cada vez mais indomáveis, mais desconfiados e ferozes, e que provocam as suas contínuas e fatais revoltas. Não é assim que utilizaremos o seu trabalho: seria talvez mais conforme aos nossos interesses chamá-los a nós por meios pacíficos, alicia-los pouco a pouco para o grêmio da sociedade e da religião. Quantos e quão importante serviços não deveriam assim esperar dessas tribos errantes, que, entretanto, só servem para nos perturbar e opor insuperáveis tropeços às nossas tentativas de colonização nestas paragens!"

A 5 de agosto do corrente ano, realizou o diretor do Arquivo Nacional, dr. Alcides Bezerra, uma exposição, ali, de livros, gravuras e documentos relativos ao importante sucesso da aliança dos portugueses com os tabajaras, acaudilhados por Piragibe, e que permitiu, naquela ano de 1585, o início do povoamento regular da Paraíba. Não figurou, porém, em tal comemoração, o drama de Bernardo Guimarães, que, filho da generosa terra mineira, onde há tantas lendas e tradições dignas da luz da ribalta, foi buscar na região do nordeste brasileiro um feito histórico, para com ele ornar o ainda tão pouco opulento escrínio do teatro nacional.      

 


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