Vida e Obra de Bernardo Guimarães
  poeta e romancista brasileiro [1825-1884 - biografia]

 
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Carta a Fernando Saldanha Moreira, em 6 de fevereiro de 1882
(a ortografia foi atualizada)

"Algum tanto reservada" ................................... (nota galhofeira do autor às margens da carta)

Saúde e Benção apostólica, Frei d. Saldanha Moreira [1]

"Cai-me a cara em terra, a pena no chão, os óculos no nariz .. quero dizer... na testa etc. etc., quando considero os 21 mil setecentos pecados mortais, que tenho cometido para com V. Revdma., olvidando responder conscienciosamente as múltiplas e incisivas missivas, com que V. Revdma. me tem honrado. É isto devido a circunstâncias de cataclismas horríficos.

Em primeiro lugar recebi um autógrafo, manuscrito, ou como melhor nome em direito tenha, do sr. Washington Badaró, que li com alguma dificuldade, e que tenho na gaveta para restituir ao dono sem lhe faltar uma vírgula. Estrear assim uma carreira qualquer não é bom. Queime esse romanc e faça outro. Assim fazia eu.

Pouco tempo depois recebemos de vossas sagradas mãos um mimo preciosíssimo para meus pequenos filhotes __ três cromos, mas muito de defeituosos. O cão nunca mais levanta a perdiz, e eu de arma feita! Oh ! isto é desesperador!... E a Constança [2] com tanta vontade de comer perdiz! E os dois coelhos, coitadinhos! tão medrosos, tão descuidosos, sem poder serem comidos nem pelo lobo, nem pelo Horacio! [3] E eu com tanto desejo de comer lombo de veado! Mas um maldito cão, que lá está de sentinela nem me deixa encostar a mão no chifre do veado! ... O são as coisas desse mundo!?! Com o bico n’água e morrendo à sede!

As páginas do álbum que V. Revdma. enviou me estão guardadas cautelosamente para serem enchidas de um modo digno de nós ambos. São tantas as incumbências, as encomendas de que me encarregam, meu confrade, que vejo-me atordoado para acudir a tudo e, por isso, não tenho remédio senão adiar algumas que não são sangria desatada. Desejava bem que V. Revdma. aparecesse por cá para conversarmos mais de espaço, mas...

Junta, inclusa e autuada, vai a recomendação que reclama e dirá V. Revdma. de viva voz ao meu antigo colega, amigo e co-provinciano F. Aurélio [4], que logo que aparecer a Enjeitada [5], não me esquecerei de enviar-lhe um exemplar pois é uma recordação dos velhos tempos da antiga Paulicéia. No mais, meu Reverendo, envia-lhe um abraço na paz do Senhor.

Este seu humilde confrade,
Bernardo Guimarães

Ermitão do Muquém, 6 de fevereiro de 1882. Dia de Santa Dorotéa e do B. Antônio de Amândula, e da Lua no Equador.

 

 

  1. Saldanha Moreira __ Fernando Saldanha Moreira, nascido em Juiz de Fora, MG, advogado que à época dessa carta ainda era estudante de Direito em São Paulo.
  2. Constança __ Constança Beatriz da Silva Guimarães, a Constancinha, era filha de B.G. Morreu aos 17 anos, vítima da tuberculose, tendo sido noiva e musa inspiradora de seu primo, o poeta simbolista Alphonsus de Guimaraens.
  3. Horácio __ Horácio Silva Guimarães era filho de B.G. (o mais velho depois da morte de João Nabor). Jornalista, escritor, poeta, funcionário público e professor, foi homem de sólida cultura. Em 1901 foi co-fundador da primeira revista literária em MG: Minas Artística. Morreu em 1959, com quase 90 anos. Não deixou descendentes.
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