Corria o ano de 1850.
Bernardo Guimarães e seus amigos das
Arcadas de São Francisco precisavam de dinheiro para bebidas e mulheres, nessa
ordem.
Diante do estudante e poeta Manuel
Antônio Álvares de Azevedo, moço pálido e autor da Lembrança de Morrer,
Bernardo teve uma idéia.
-- Maneco, tu vais morrer!, disse
Bernardo ao poeta
Bernardo, Aureliano José Lessa
(1828-1861), Antônio Canedo, José Bonifácio (o moço), Antônio Suplício Sales
e outros rapazes colocaram Álvares de Azevedo deitado numa mesa, esticando-o em
postura de defunto. Enquanto Maneco protestava em vão, os rapazes
amarraram-lhe os sapatos, um ao outro, com fitinha branca. Cruzaram-lhe as
mãos, travaram queixo à cabeça com um lenço, e cobriram o corpo coberto
com um lençol, sobre o qual foram colocadas flores murchas roubadas de um
velório.
Aprontado o "defunto",
Bernardo Guimarães e sua turma saíram pelas ruas para espalhar a notícia que
deixou muitas pessoas abaladas.
-- Morreu Álvares de Azevedo!
Estudantes, professores e pessoas da
sociedade compareceram à República de Álvares de Azevedo para prestar
homenagem ao poeta de cuja saúde já se sabia que não era boa. A todos, o grupo
de Bernardo pedia dinheiro para o enterro do poeta.
Com os bolsos cheios, os rapazes
deixaram a casa do "defunto" e foram se banquetear na Rua das Casinhas e
na Rua de Baixo, onde moravam doceiras e assadeiras.
Lá pelas tantas da madruga, aparece
um furioso fantasma. Era Álvares de Azevedo.
-- "Eu faço o papel de morto
para vocês se banquetearem. Vou também regalar-me!"
Como Álvares de Azevedo não poderia
continuar como morto porque morto não pode ir à escola, a farsa foi logo
descoberta.
As pessoas que deram dinheiro para o
enterro e o jornalista, que publicou a morte de Azevedo, ficaram furiosos com a
brincadeira de B.G. e sua turma.
Por precaução, Bernardo Guimarães
ficou alguns dias sem sair de casa.
Nota: Álvares de Azevedo morreu
de verdade dois anos depois, de tuberculose, em 25 de abril de 1852, aos 21 anos
incompletos. |