Manifesto Curvilinista
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"Não é o
meu costume falar dos meus trabalhos e, no entanto, desta vez, por
sair dos moldes
tradicionais da minha pintura, sinto que devo dizer alguma coisa
sobre esta, a qual chamo de
"pintura curvilinista" pelo predomínio da linha
curva, embora o crítico de arte poderá defini-la
com outro 'ismo'.
Uma obra de arte, seja boa ou má, surge espontaneamente pela
necessidade de expressão de
quem a executa, mas existem factores subconscenciosos que a
determinam. Factores de
ambiente, de estado de espírito, de épocas e regiões. Existe
uma fonte de inspiração concreta
ou abstracta.
A minha fonte neste caso, foi a VIDA.
A vida animal surge do ovo, apareça ou não exteriormente. Dai
o predomínio desta forma nas
minhas composições curvilinistas.
Não surge o ser humano do ovo que, por sua vez, e fecundado
pelo espermatozóide de cabeça
oval e cauda curvilinea ? E não é dentro do ovário onde se
processa o desenvolvimento do ser
vivo que, com o contar dos dias, vai aumentando o seu raio de acção
como uma espiral ? Não
têm os testículos do homem a mesma forma ovóide ? E estes não
são o simbolo da vida ? E já
nascido, a curva e a contra curva vai seguir acompanhando o neófito
em quase todos os
momentos da sua vida. A própria cabeça do homem sugere como
figura geométrica o óvulo.
No ventre, surge a mesma imagem.
A figura humana é uma constância de curvas e contra curvas,
ora interrompidas, ora ligadas
umas às outras. O complexo sistema de veias que alimentam a
nossa vida é formado por
contínuas linhas curvas. O bebé agarra-se ao peito da mãe,
que não é quadrado. Se queremos
vencer a serra, seguímos por uma estrada cheia de curvas.
A própria vida na sociedade é uma constante curva onde atrás
da curva está o perigo e atrás
desta está o amor.
A curva é meiguice, é suavidade.
A Terra segue o seu movimento em curva. O Sol, a Lua e a Terra,
motivos de vida, não são
quadrados. Os rios serpenteiam no seu caminhar. As ondas do mar
movimentam-se seguindo a
linha curva. O vento produz curvas nas velas dos navios e estes
descobriram novos mundos.
Servindo-me da linha curva pretendi escrever em linha recta a razão de ser do curvilinismo, que
nasceu em 1973, mas que apenas agora posso apresentar ao público,
como uma oposição ao
cubismo com atracção ao mesmo.
Paradoxo ? Não é a vida assim, tão cheia de contradições ? ISTO É O CURVILINISMO. " Covilhã, 10 de Junho de 1988 Rodolfo Passaporte
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