Modos "in" pentatônica

Agradeço ao Márcio MM Meirelles e ao Matheus por mais esta lição.


O fato pelo qual levou o surgimento deste texto foi a motivação de um certo “camarada” em, com apenas o conhecimento de duas de escalas, pentatônica maior e a pentatônica menor, sofisticar o solo de improviso pensado em sistema modal, ou seja, diversificar as sonoridades modais fazendo uso apenas dos “shapes” de pentatônica, resultando, assim, em originalidade nas frases melódicas. Esse tipo de estudo é muito bom pra expansão de concepção musical, pois te expõem a sonoridades e não a clichês. Mas cuidado! Se a atenção no aspecto da percepção não estiver colada nesse estudo, não se aproveita tanto, virará mais um conjunto de fórmulas a aplicar.



POLITONALISMO

Por incrível que pareça, o mais simples é começar com POLITONALISMO. O politonalismo não somente é, como o nome sugere, a sobreposição de escalas completamente diferentes. Na verdade, tem-se contato com as suas formas mais "amenas" o tempo todo. É muito comum que as duas escalas superpostas tenham as mesmas notas. O que mais importa é as camadas de estruturação de fraseados ou até encadeamentos harmônicos, numa forma mais complexa.



No blues[1], por exemplo:

| A | % | % | A7 | D7/9 | % | % | % |


Analisando harmonia: Lá maior nos 4 primeiros compassos de I, indo pro IV, passando por um dominante secundário no terceiro compasso (A7). Esse foi o plano harmônico. Agora no plano do solista, politonalmente falando, improvisa, talvez, uma pequena melodia de 2 compassos, utilizando a escala penta-blues menor totalmente centrada no Lá (frase simples à BB King), quando se repete a mesma frase melódica pela terceira, a harmonia já está IV e a melodia continua no plano do I. Pode-se fazer testando-a na seqüência inteira de blues que dá para sentir claramente os planos tonais se desprendendo e voltando cada vez se retorna ao I grau.

Analisando:
Solista => Escala em Penta "Menor" de Lá, relativa de Dó "pentatônica".
Base => Campo Harmônico de Lá maior.


A penta menor de Lá e a penta maior têm EXATAMENTE as mesmas notas que penta de Dó maior, mas o que importa é se é considerada o repouso de cada uma delas, na menor tem-se F b3 4 5 b7 e na maior F 2 3 5 6. A relação com o repouso é totalmente diferente. O mesmo vale pra quaisquer modos que tenham as mesmas notas.

É a sobreposição de uma melodia sobre uma escala de formação harmônica diferente que, dependendo do repouso do fraseado, não Traz a sensação de errado por causa da politonalidade, porém, muito mais pelo nosso ouvido musical.

Agora, para acontecer o politonalismo precisaria de pelo menos dois planos harmônicos distintos caracterizados. Então, a pergunta é: O que caracteriza um plano harmônico?

A resposta será sempre: O seu repouso. Se for uma seqüência harmônica ou melodia, aonde é o seu repouso? Uma nota sozinha não é suficiente pra caracterizar muita coisa. Tanto harmônico quanto melodicamente é preciso uma estrutura.

Voltando aos usos das “pentas”. Exemplo:

||: C | % | C G | Am F | C G | Am :|| C ||


Vamos improvisar, experimentar e analisar o que a escala pentatônica de Dm pode causar aqui. (Re Fá Sol Lá Dó). Temos uma escala que em relação ao I grau plano harmônico seria a nona, a quarta, a quinta, a sexta e a fundamental. Seria uma escala jônica sem terça e sétima? Se o fizer em função de um repouso em Ré, com características e sonoridades próprias da penta de Dm, apesar das notas da escala também pertencerem à escala de C jônio, é a estruturação quem fala mais forte.

Um outro exemplo.




Analisando a harmonia: tom em Fá menor e uma seqüência de V7(#5) e Im7(9), sendo o V7 alterado e o Im um acorde com característica mais modal conta da sétima e nona.

Analisando o solo:

  1. Para cada acorde foi usada uma pentatônica diferente. No acorde de C7(#5) foi usado uma penta C#m.

    C7(#5) => C E G# Bb
    Penta de C#m => C#(b9)[2] E F#(#11) G#(#5) B(7M)**

    Colando a penta no acorde, resulta num acorde C7(b9)(#11)(#5). Sobre o Si** que aparece na escala eu não o considero parte estável da harmonia. Ela soará como algo no nível de uma apogiatura-blue-note. No mundo dos dominantes, dá pra fazer uma separação entre dominante "careta" e dominante alterado. Enquanto o “careta” traz em si uma instabilidade que pede de qualquer jeito pra resolver na tônica de um jeito bem definido e claro, o Dominante Alterado o faz de um jeito extremamente caótico. Em passagens que cabem um Dom Alt, geralmente aceitam, equivalentemente, as mais variadas extensões de acordes. É normal você ter b9 e #9 além da terça nessas passagens, é normal ter #11, #5 ou b13, ou seja, vale muita coisa aí.

  2. No acorede de Fm7(9) foi usada uma escala pentatônica de "Fá" menor. Esse não precisa dizer nada, pois, é o tom da música; pentatonica de fa menor. Traduzindo, penta menor como arpejo de acorde menor com setima e quarta adicionada.


Uma teoria para explicar a politonalidade neste caso seria que com 4 notas comuns entre o universo da escala e o universo do acorde já o caracteriza de forma tão estável sua interseção. Seriam, na verdade, dois planos harmônicos cruzados, com +ou-80% de interseção. Logo, a escapada para o Si natural é acolhida somente pela sensação de unidade da estrutura pentatônica. A nota sol neste caso não se pode dizer que é um Blues-note e sim nota de passagem, não valendo analisa-la no contexto fixo. Agora, muitas dúvidas são sanadas quando pensamos sobre quais notas serão utilizadas para passagem e quais nos servirão como notas de repouso ou de início.

Portanto pode-se concluir que a politonalidade pode existir de várias formas, podendo usar para cada compasso em que o acorde se repete, uma escala diferente.

Porém, cuidado. Não há uma regra rígida para usa-la, não! Toda esta analise foi apenas uma tentativa de entende-la de uma maneira tão redonda. Nem a beleza deve ser considerada regra, pois, às vezes o que é conceitualmente útil não é necessariamente bonito e sobre a intuição ao solar, não importa o limite e restrições colocadas (regras, escalas, padrões rítmicos, etc...) ao improvisar, se o fraseado não for baseado no processo de realização do intuitivo (tem-se de trabalhar pra isso), ele não convence nem mesmo a quem toca.


MODO E PENTATÔNICA

Há uma fórmula para se trabalhar a pentatônica modalmente?

Primeiramente, os modos são escalas independentes que devem ser estudadas uma a uma e aplicadas individualmente, pois, cada uma das escalas possui estrutura e intervalo característico que pode ser montado o campo harmônico a ser desenvolvido toda a melodia e demais cadências. Em outras palavras, é um jeito diferente de tocar as escalas maiores. Esta visão de modos deriva da idéia que cada formação modal tem a sua posição definida em um campo harmônico próprio, por exemplo, Lá mixolídio é no grau V do campo de Ré maior, logo escala de Ré maior, porém tocada de outro ponto de vista, direção, apoio, outra sonoridade.

A idéia é simples. Pensando da mesma forma como os modos da escala maior, cada nova escala é um novo mundo em matéria de harmonia e sonoridade. Agora em pentatônicas cada escala maior gera mais 3 escalas pentatônicas maiores (IV, V, I) e 3 (II, III e VI) menores (percebam que se exclui o sétimo grau da escala) seria o equivalente à pentatônica de cada modo da escala. Para Dó maior em jônio teríamos então uma penta de Dó maior Jônio, uma penta de Fá Maior Lídio e uma penta de Sol maior Mixolídio. E assim segue. Desta maneira pode-se tirar uma sonoridade rock/blues, digamos diferenciadas e interessantes.

Bibliografia

http://hps.infolink.com.br/mmeirelles/MMtranscricao.jpg

http://www.infolink.com.br/mmeirelles/Pentatonicas%20-%20Marcio%20MM%20Meirelles\ .mp3

http://br.groups.yahoo.com/group/mrguitar


Notas

[1]A politonalidade do blues se resume a uns dois planos principais para resumir bem: a) Harmonia com empréstimo de mixolídio (I grau Maior com sétima) e várias passagens com empréstimo de acordes dominantes; b)Melodia em modo menor.

[2] Atenção pro caso de enarmonia aplicada: na escala chamei de C# e em relação ao acorde o mais aplicado seria Db por ser visto como b9. Tem de ter mesmo um bom jogo de cintura pra transitar entre os diferentes pontos de vista e principalmente pra escolher o melhor ponto pra cada ocasião.


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