Maso del Saggio, o Poeta, causa alarme na redação de revista eletrônica

    Como se não bastasse ser um filósofo e um homem de letras, amante das artes e erudito, o Poeta não descuidou de visitar o rigoroso universo das ciências exatas. Numa empreitada jamais vista, uniu a retórica ao árido mundo da computação: produziu um engenho capaz de confeccionar discursos tão prolixos quanto vazios. O fabuloso artefato, espécie de Fernando digital (na verdade, é equivalente à soma transgênica dos dois pulhas que ocuparam o planalto), pode fornecer qualquer quantidade de frases absolutamente corretas, mas que, em conjunto, não querem dizer nada.

    Após criar este tagarela artificial, Maso del Saggio confrontou-se com uma dúvida: o discurso insípido e vazio que era produzido por um trivial programa de computador poderia ser aceito por seres humanos? Após meditar em companhia de alguns vinhos raros, eis que veio a luz: ninguém melhor do que jornalistas profissionais para aquilatar a qualidade do texto.

    O Poeta, munido de um pseudônimo, e sem revelar a origem cibernética do material, enviou trinta páginas de um monólogo extremamente soporífero para certa revista eletrônica. O decoro o proíbe de revelar o nome desta revista. O que interessa é a reação ao gesto inédito: pessoas ditas jornalistas, experientes e tarimbadas, passaram a acusar o Poeta de neoliberal! Sem desconfiar que injuriavam uma máquina! (É esteticamente reprovável o uso abusivo de pontos de exclamação, porém os fatos o exigem!). Um leitor reputou o discurso a Roberto Campos, quando de sua posse na Academia Brasileira de Letras! O responsável pela seção de cartas julgou o texto correto, porém pouco objetivo!

    Essas e outras atitudes superlativas instalaram a polêmica na redação da revista. Avesso a diatribes, e mal podendo crer em suas fatigadas retinas, del Saggio se recolheu à sua propriedade campestre, onde distraiu seu espanto com generosas porções de fetuccini com trufas e aspic de línguas de cotovia. Após o almoço, repousando em uma chaise-longue, bebendo um cálice de Claret e contemplando as violetas no terraço, Maso chegou à conclusão inevitável: em se substituindo todos os demagogos (que proliferam como cogumelos em dejeções cavalares) por um reles computador, a União faria uma economia substancial. Claro que o dinheiro poupado iria parar em alguma tenda étnica milionária numa exposição Alemã, ou no modesto fundo de pensão particular de algum magistrado, mas fazer o quê?

    Neste ponto de sua meditação, o tédio cerrou as pálpebras do Poeta, que foi encontrado pelo mordomo cochilando calmamente na brisa morna da tarde.

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