Jeff

FILLING THE FACE

O Jeff era da Nova Zelândia e dava aulas particulares de inglês em São Paulo. Um dos seus alunos, por acaso, foi meu colega em uma consultoria, e recebia as aulas lá mesmo, antes do início do expediente, que era às dez da manhã. Um dia, cheguei mais cedo e o Jeff estava lá, esperando o meu colega.
 
Comecei a conversar com o cara e percebi que era bem mais fácil desistir de entender aquela mistura de espanhol e português que ele falava e partir direto para o inglês. Aí ele me contou da Nova Zelândia e dos vários lugares do mundo que conhecia. Acabamos ficando amigos.

Numa noite, no meu apartamento da rua Augusta (palco para muitas atividades que beiravam a ficção científica), eu estava calmamente bebendo o meu uísque quando tocam a campainha. Era o Jeff. Ofereci o uísque, um honesto Johnny Walker Black Label, e ele torceu o nariz:
    - Don't you have cat-tchaça? For cay-pirina? Cinquentsa e uno?

Vejam só: além de gringo, cachaceiro. Bem, para ele isso deveria ser uma bebida exótica. Falei que não tinha pinga em casa, mas certamente haveria no boteco em frente ao prédio. Descemos os dois. O dono do boteco era um turco que mal falava português, mas que conhecia algumas palavras-chave, como "pinga 51". Compramos também uns três limões e estávamos para sair quando surgiu um outro amigo meu, o Sabiá - igualmente cachaceiro e notório mentiroso. Ele já estava bem bêbado. Quando eu o informei que o Jeff era Neozelandês, me perguntou que religião era aquela. Aí expliquei que não era religião, era uma ilha mais ou menos perto da Austrália e o pessoal falava inglês lá.

Então o Sabiá principiou a conversar com o Jeff em algo que, na concepção dele, era inglês. Atenção para o papo:
    - Mister Jeff, excuse me but I am tall! (querendo se desculpar porque estava bêbado, alto)
    - What do you mean? Non compreendo! (claro que não compreendeu, pois meu amigo era um nanico)
    - Não esquenta, mister! Let's fill the face! Understand? En-cher a ca-ra!
    - Fill the face?, perguntou Jeff, olhando para mim como quem pede ajuda.
    - It means 'get drunk', expliquei.
    - Ahh... but he's already drunk!

Neste momento, tarde da noite, uma das putas de calçada se aproximou. A Daiane, uma mestiça de dezessete anos que era, de longe, a mais apetitosa da rua. Tinha um corpo que era só tetas, bunda e coxas, e ainda assim um corpo esguio - tudo no lugar certo, do tamanho certo. O diálogo em pseudo-inglês tinha chamado a sua atenção. Como eu já a conhecia, apresentei ela pro pessoal e pedi duas cervejas para a pequena roda que se formou. Ela me abraçou e perguntou:
    - O seu amigo é gringo?
    - É sim. É da Nova Zelândia.
    - O que é isso?
De novo, esclareci a questão.
Jeff não conseguia tirar os olhos da menina, que sorria para ele. Daiane me largou e, sem cerimônia, encostou uma boa quantidade de coxa e peito nele. Começaram a conversar do jeito que dava, ela tentando entender o portunhol do gringo. Aí o Sabiá chegou pra mim e disse:
    - Vamo pegá um canarinho hoje?
    - Olha, já que é Sexta, pode ser. Cê busca?
    - Xá cumigo.
    - Quanto?
    - Quatro, quarenta.
    - Ei, quem te convidou? E tem outra, tá caro prá caralho! O índio faz uma por sete.
    - Mas meu serviço é diprimêra. Xá cumigo.

Passei discretamente quatro notas de dez para o Sabiá, e ele desceu a rua. Pensei: "Adeus quarenta pratas!".
À essas alturas, o Jeff e a Daiane estavam se entendendo muito bem. Ela estava passando a mão no pau dele por cima das calças e ele cheirava o pescoço dela, enquanto segurava um dos peitos. Bebi mais um gole de cerveja e apreciei o movimento nas calçadas, cheias de carne à venda.

Depois de um tempo, a Daiane deu o preço pro Jeff: setenta por uma hora, fora o motel. O problema é que ele só tinha os 70 mangos, e eu não podia emprestar, estava liso depois da grana que dei pro Sabiá. Pedi pra Daiane fazer fiado pro gringo, mas necas, ela precisava do dinheiro pra comprar um remédio para a avó.

Nisso volta o Sabiá. Vinha sorridente, sinal que tinha conseguido a mercadoria:
    - Fechado, tô indo no banheiro pro futebol!
Eu segurei o braço dele:
    - Aqui não. Espera um pouco.
Me virei pro Jeff e falei:
    - I will do you a favor. You can fuck in my room.
    - Great, man!
Expliquei então para a Daiane e o Sabiá. Subimos todos para o meu apartamento, com a garrafa de 51, três limões, uma morena belíssima e quatro gramas de talco colombiano. Perfeito.

A Daiane foi para a cozinha, preparar a caipirinha pois o Jeff já estava com o fígado roncando. O Sabiá pediu um prato, um isqueiro e um cartão de crédito. Ficou na sala com o Jeff, preparando as carreiras. Fui para a cozinha.
A Daiane estava cortando um limão quando eu cheguei por trás e agarrei aquelas jovens e enormes tetas. Ela deu um gritinho de susto mas depois riu, eu mordi a sua orelha e perguntei:
    - Qual o teu signo?
    - Capricórnio.
    - Olha, bem que tu podia andar pelada aqui dentro. Afinal, eu já te conheço, e o Jeff vai te conhecer daqui a pouco...
    - Mas aí vai pra cem.
    - Qui quiéisso, Daiane? Tamos dando farinha, trago e um ambiente familiar! Vai dizer que não é melhor que andar na calçada pra cima e pra baixo, com aquele bando de idiotas gritando 'bucetuda!'? E ainda tamos te dando um dinheiro!
Minha argumentação sensibilizou a moça. Eu mesmo tirei o top que embalava aquelas tetas enormes, desafiando a lei da gravidade. Depois tirei a micro-saia e a calcinha dela. Deixei apenas a sandália, para que a moça não ficasse totalmente nua. Mordi de leve a bunda dela, que prosseguiu no preparo da caipirinha, e voltei para a sala.

Jeff tinha pego uma página do meu bloco de anotações que ficava junto do telefone e feito um canudinho com ela. Aspirava a segunda das muitas carreiras dispostas no prato. Sabiá já tinha cheirado a primeira, com uma nota de 1 enrolada. O filho da puta tinha pego o meu copo e se servido do meu uísque sem nenhuma cerimônia. O gringo me passou o prato e o canudinho. Raspei a terceira carreira e bateu forte, nítida, transparente. Sabiá percebeu e riu:
    - Quero ver o índio conseguir uma dessas.
Aí a Daiane apareceu, nua, trazendo dois copos de caipirinha. Jeff quase caiu da poltrona.
    - Holy shit! A goddess!
Deixamos os copos em cima da mesa e permanecemos sentados, hipnotizados, enquanto ela circulava pela sala com aquele rabo magnífico e um par de tetas perfeitas. Ela sorria, sabendo instintivamente que era uma deusa mesmo - pelo menos na questão estética.
Jeff, nervoso, bebeu um grande gole de caipirinha. Aí ela se sentou no colo dele. Percebi que era o momento de levá-los ao quarto:
    - C'mon, man, go fuck in the room, not here!
Indiquei o quarto para os dois, que saíram correndo para lá. Fiquei na sala com o Sabiá, TV a cabo, um prato cheio de polvilho medicinal, dois copos de caipirinha e meia garrafa de Johnny Walker.
Na TV rolava um dos programas do Discovery Channel. Algo sobre moluscos. O Sabiá cheirou uma gorda carreira, depois foi a minha vez. Tudo ficava cada vez mais nítido e doido. Bebi mais um gole de uísque.

O tempo, como sempre costuma fazer, passou. A Daiane saiu do quarto, sorridente, catou as roupas na cozinha e deu tchauzinho para todo mundo. Me beijou no rosto e caiu fora. 
Aí veio o Jeff, com uma cara meio que decepcionada. Perguntei pra ele:
    - So, how does Brazilian meat taste?
    - Taste was all I had... The monkey... Limp...
O Sabiá não entendeu nada: o gringo tinha brochado. Muito provavelmente devido à perigosa mistura de farinha com álcool.
De fato, a tapioca estava de primeira.
Bem, creio que foi uma das poucas vezes que um estrangeiro não conseguiu foder com alguém aqui no Brasil.

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