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Pablo Alu�sio


Depois do Vendaval




John Wayne Home Page - "Depois do Vendaval"

"Depois do Vendaval, que lhe valeu em 52 seu quarto Oscar de dire��o, chega �s locadoras. No elenco, os mais fordianos dos atores: John Wayne e Maureen O�Hara"

Embora tenha nascido no Maine (em 1895, justamente o ano em que surgiu oficialmente o cinema), John Ford foi o mais irland�s dos cineastas americanos. Nunca foi mais ligado a essa Irlanda m�tica que alimentou alguns de seus melhores trabalhos do que em Depois do Vendaval. O filme de 1952 valeu ao grande diretor seu quarto Oscar de dire��o, ap�s os de O Delator (em 1935), Vinhas da Ira (1940) e Como Era Verde o Meu Vale (1941). S� por um deles, o �ltimo, Ford e seus produtores receberam tamb�m o de melhor filme. Nos demais, foi sempre derrotado na categoria: por O Grande Motim, em 1935, Rebecca, a Mulher Inesquec�vel, em 1940, e O Maior Espet�culo da Terra, em 1952.

Depois do Vendaval est� nas locadoras e lojas especializadas, num lan�amento em DVD da New Line. Para a import�ncia da obra, esse lan�amento deixa um pouco a desejar. Oferece, como extras, apenas trailer, biografia e sele��o de fotos. Poderia trazer muito mais. Afinal, � uma das obras-primas de John Ford e esse � um daqueles cineastas a quem voc� pode, tranq�ilamente, rotular de "essencial". Ford costuma ser chamado de Homero de Hollywood. Fez filmes de guerra, mas � meio dif�cil descobrir neles a sua Il�ada. Em compensa��o, n�o h� nada mais fordiano do que as odiss�ias de grupos - �ndios, pioneiros - que percorrem sua obra.

Se a odiss�ia foi o tema primeiro de Ford, outra preocupa��o do artista foi sempre mostrar o pre�o que se paga para construir uma civiliza��o. O conceito de na��o � muito importante em sua obra - valendo citar a li��o de democracia que � um dos mais belos momentos de outra obra-prima, O Homem Que Matou o Fac�nora, de 1962, quando Ford, depois de haver lan�ado os fundamentos e elevado o western � condi��o de uma das mais belas artes, antecipou-se na amostragem de sua decad�ncia e morte, pela via da desmistifica��o, que seria dominante naquela d�cada. At� em rela��o com esse outro tema - a constru��o do conceito de nacionalidade - s�o muitos os filmes de Ford que reconstituem, com amorosa aten��o, a vida de comunidades primitivas.

Pode ser que a Tombstone real n�o tenha sido como aquela que ele mostrou em Paix�o dos Fortes, o sublime My Darling Clementine, de 1946, quando contou a hist�ria do tiroteio do OK Corral como afirmava hav�-la ouvido do pr�prio Wyatt Earp. Mais tarde, descobriu-se - ap�s o c�lebre artigo em Life - que Earp n�o havia sido nada daquilo que Ford mostrou. Surgiram diversos filmes para acabar com o mito do her�i, mas que n�o acabaram com o mito de Paix�o dos Fortes como um dos grandes filmes do autor. O curioso � que o maior filme de Ford, aquele que vale colocar no altar das grandes obras-primas do cinema, n�o narra a odiss�ia de um grupo e sim a de um individualista. � Rastros de �dio, o genial The Searchers, de 1956, centrado na figura de Ethan Edwards e sua busca incans�vel da sobrinha que foi seq�estrada pelos �ndios.

Rastros de �dio pode ser, e �, o maior Ford, mas Depois do Vendaval est� ali grudadinho, no mesmo patamar. E, desta vez, n�o se trata de um western, mas de uma Irlanda meio de sonho, cujas tradi��es e virtudes o diretor celebra na cidadezinha de Innisfree. � onde chega Sean Thornton, interpretado, como Ethan Edwards, pelo mais fordiano dos atores, John Wayne. Ele chega fugitivo da cidade, onde - um flash-back nos revela - foi pugilista e matou um homem no ringue. Thornton tenta fugir a essa lembran�a. Decide estabelecer-se na velha casa, em ru�nas, de sua fam�lia. Precisa de uma mulher e a� entra em cena a mais fordiana das atrizes, Maureen O�Hara, com sua sexualidade que Ford definia como "franca e sadia".

Dote - Maureen, que se chama Mary Kate Danaher, quer casar-se com esse estranho, mas quer tamb�m o seu dote - que o brutamontes, seu irm�o, recusa-se a dar. O marido n�o quer saber do dinheiro, mas ela se recusa a consumar o casamento sem seu dote. A situa��o evolui para o que Thornton n�o quer: o confronto com Danaher. O filme termina com uma briga a socos que � um dos grandes momentos do cinema. Quer dizer: n�o termina a�. O que vem depois celebra uma certa concep��o id�lica do homem e do mundo, segundo Ford, que se reconcilia totalmente com a Irlanda de seus antepassados.

Tudo, neste filme, � maravilhoso - a fotografia (de Winton C. Hoch e Archie Sout), a m�sica (de Victor Young), a dire��o de arte, os cen�rios, as interpreta��es. N�o apenas John Wayne e Maureen O�Hara eram atores fordianos t�picos. O brutamontes � Victor McLaglen, que ganhou O Oscar por O Delator e, depois, passeou como bruto de bom cora��o por outros filmes do mestre. Mas h� outras figuras que voc� n�o vai esquecer: Barry Fitzgerald, Mildred Natwick, Ward Bond (outro ator 100% fordiano). Acima de tudo, o que encanta � a hist�ria de Depois do Vendaval, perfeita como evoca��o do mundo m�tico e que remete, como um de seus momentos m�ximos, a um cinema "cl�ssico" que n�o seria mais o mesmo ap�s as transforma��es dos anos 1960.

Um momento: Thornton entra na velha casa dos pais. Encontra Mary Kate, por quem se sentiu atra�do, logo ao chegar a Innisfree. Ela tenta fugir, o vento ondula sua cabeleira ruiva - o filme chama-se Depois do Vendaval, n�o? Big John, pois agora j� � o ator, tamb�m lend�rio, que pega Maureen em seus bra�os, d�-lhe "aquele" beijo de sugar at� a alma, ela fraqueja, mas como mo�a distinta reage e lhe aplica um tapa sonoro na cara. O vento, o beijo, a bofetada comp�em o momento talvez mais famoso de Depois do Vendaval. � uma cena t�o emblem�tica - por mais que a palavra esteja em desuso - que foi recriada por Steven Spielberg em E.T., de 1982, quando o alien�gena fica de pileque em casa e o garotinho, Elliott, reproduz com uma colega a imagem que o outro v� na televis�o. Esse � um daqueles filmes que se pode tomar como refer�ncia, mas que n�o se fazem mais. O cinema mudou, Depois do Vendaval permanece. � um filme "perene". Voc� j� pode come�ar a pensar nele como alternativa de presente de Natal para aquele ou aquela que voc� gosta muito. Se for cin�filo ou cin�fila, ent�o, ser� perfeito.

Depois do Vendaval (The Quiet Man). EUA, 1952. Dire��o de John Ford, com John Wayne e Maureen O�Hara. DVD da New Line, nas lojas por R$ 34,80.

(Luiz Carlos Merten)


JOHN WAYNE E MAUREEN O'HARA


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