Clint Eastwood

Pablo Alu�sio




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Clint Eastwood
- Clint Eastwood � o leg�timo sucessor de John Wayne, isso � �bvio pelo simples fato de que nenhum ator possui as credenciais para se colocar em uma posi��o de herdeiro de Wayne, s� Clint as possui...Clint Eastwood talvez seja o �ltimo representante dos grandes her�is do cinema, possui o mesmo pedigree dos pioneiros e desbravadores do western, terra onde apenas os verdadeiros homens venciam, talvez Hollywood tenha ficado por demais civilizada ou infatilizada em sua ess�ncia, n�o sei, mas parece que h� cada vez menos espa�o para atores como Clint hoje, talvez Dirty Harry, se fosse apresentado ao p�blico hoje, fosse considerado um "radical de direita" ou algo parecido... se bem que o atual presidente pode ser considerado ele pr�prio um "radical de direita com menos c�rebro", mas enfim, comparar George W Bush com Clint seria uma maldade com Eastwood e eu n�o vou aqui cometer uma barbaridade dessas com ele. Mas fica a� o recado: se Wayne tivesse que deixar sua dinastia e seu legado a algu�m, essa pessoa seria sem d�vida Clint Eastwood. Em pesquisa realizada em 1995 pela revista "Hollywood Reporter" para saber quais os atores mais poderosos da ind�stria cinematogr�fica, Clinton Eastwood Jr. conquistou um honroso sexto lugar. Quatro anos antes, j� havia sido considerado pelo "Variety" como o astro de cinema mais visto em todo o mundo nos �ltimos 40 anos. Depois de John Wayne, � o ator que mais apareceu na lista anual dos dez astros mais bem pagos dos EUA: 21 vezes. Natural de S�o Francisco, Clint iniciou sua carreira no cinema com "Francis na Marinha" (55), tornando-se conhecido atrav�s do seriado de TV "Rawhide" (59-66). Em 1966, foi convidado pelo diretor italiano Sergio Leone para fazer "Por Um Punhado de D�lares" (66), o primeiro de tr�s filmes rodados na Espanha que lan�aram a moda do spaghetti-western e obtiveram extraordin�rio sucesso de bilheteria. De volta aos EUA, fundou sua pr�pria produtora a conselho do diretor Don Siegel, com quem faria, entre outros, "Meu Nome � Coogan" (68) e "Perseguidor Implac�vel" (71), que inaugurou a s�rie com o inspetor Harry "Dirty" Callahan e consagrou seu estilo seco de interpreta��o. Tem se dedicado tamb�m, e com igual sucesso, � dire��o de filmes desde "Perversa Paix�o" (71). A consagra��o veio com os Oscar de melhor filme e dire��o por "Os Imperdoaveis" (92). A Academia de Hollywood tamb�m entregou-lhe, em 1995, o pr�mio honor�rio Irving Thalberg. Clint foi casado duas vezes - com Maggie Johnson, m�e de seus dois filhos, e com a atriz Sondra Locke - e vive em Carmel, pequena cidade da Calif�rnia que j� o elegeu prefeito. S�nia Braga inclui-se entre suas ex-namoradas.

Filmografia
2002 - D�vida de Sangue 2000 - Cowboys do espa�o� 1999 - Crime verdadeiro� 1997 - Poder absoluto 1996 - Wild Bill: Hollywood Maverick 1995 - Gasparzinho, o fantasminha camarada� 1995 - As pontes de Madison� 1994 - Don't Pave Main Street: Carmel's Heritage (voz - narrador) 1993 - Um mundo perfeito� 1993 - Na linha de fogo� 1992 - Os imperdo�veis� 1990 - Rookie - Um profissional do perigo 1990 - Cora��o de ca�ador 1989 - O cadillac cor-de-rosa� 1988 - Dirty Harry na lista negra� 1986 - O destemido senhor da guerra� 1985 - O cavaleiro solit�rio� 1984 - Um agente na corda bamba� 1984 - Cidade ardente� 1983 - Impacto fulminante� 1982 - Raposa de fogo� 1982 - Honkytonk man� 1980 - Bronco Billy� 1980 - Punhos de A�o - Um lutador de rua� 1979 - Alcatraz - Fuga imposs�vel� 1978 - Doido para brigar, louco para amar� 1977 - Rota suicida� 1976 - Josey Wales, o fora-da-lei� 1976 - Sem medo da morte� 1975 - Eiger sanction, The 1974 - Thunderbolt and Lightfoot 1973 - Magnum 44� 1972 - Joe Kidd 1972 - O estranho sem nome� 1971 - Perversa paix�o 1971 - Beguiled, The 1971 - Perseguidor implac�vel� 1970 - Os guerreiros pilantras� 1969 - Os aventureiros do ouro� 1969 - O desafio das �guias� 1969 - Os abutres t�m fome� 1968 - Meu nome � Coogan� 1967 - A marca da forca� 1966 - Tr�s homens em conflito� 1966 - The Witches 1965 - Por uns d�lares a mais� 1964 - Por um punhado de d�lares 1958 - Lafayette escadrille 1958 - Ambush at Cimarron Pash 1957 - Escapade in Japan 1956 - Away all boats 1956 - Never say goodbye 1956 - The First traveling saleslady 1956 - Star in the dust 1955 - Francis in the Navy 1955 - Revenge of the creature 1955 - Lady Godiva 1955 - Tarantula

Clint Eastwood, poeta do discreto
A primeira coisa que podemos ver � o dinheiro voando. Depois dele, vemos uma figura deitada na grama, de �culos escuros, sorrindo. A c�mara lenta embala essa figura, que entendemos ser Kevin Costner. Essa cena ser� retomada apenas no final do filme, onde compreenderemos que na verdade ele est� morto e ri porque est� realizado pelo sentimento do dever cumprido. Essa figura de anjo ca�do, de cavaleiro solit�rio jamais p�de encontrar referencial mais belo: uma crian�a abandonada pelo pai e mais tarde pelas autoridades torna-se bandido profissional a partir da primeira pris�o; depois da �ltima pris�o, sua fuga desesperada ser� o motivo de consertar na Terra todo o mal que foi feito a ele. Ele toma de ref�m um menino infeliz, filho de uma religiosa fan�tica, e de uma hora para outra transforma-se no pai que o menino nunca teve. Que mais bela par�bola de paternidade poderia um filme ser? A paternidade (e com ela a responsabilidade) se desdobra no fim do filme: o delegado, interpretado por Clint Eastwood, responsabiliza-se pelo passado do criminoso, a personagem de Laura Dern est� o tempo todo presente como �cone do Poder Central (ela � de inst�ncia federal), e o pr�prio criminoso s� est� livre para morrer quando negocia uma verdadeira vida feliz para seu amigo-filho. O filme � Um Mundo Perfeito, t�tulo tirado de um dos di�logos do filme. "Num mundo perfeito, isso n�o estaria acontecendo", diz Laura Dern. Nos filmes de Clint Eastwood o mundo nunca � perfeito, muito menos os personagens. Antiidealismo militante, profiss�o de f� na liberdade individual: todos os seus personagens s�o fendidos por abismos insuper�veis, mas mesmo assim partem para rumos honrados, v�o at� o fim naquilo que fazem. � impressionante essa const�ncia. Nesse quesito, a figura �mpar � Charlie Parker, imortalizado na pele de Forest Whitaker em Bird. Nunca o olhar de Eastwood � paternalista ou moralizador. N�o que ele n�o tenha uma moral cinematogr�fica. Ela existe e ocupa um lugar central em seus filmes: de Perversa Paix�o/Play Misty For Me at� Crime Verdadeiro/True Crime � a irredutibilidade do personagem � moral comum, � a inalien�vel liberdade que em �ltima inst�ncia cada um tem de fazer o que bem quer, incusive o que desrespeita "a lei". Como funciona essa irredutibilidade no cinema? � isso que tentaremos ver. Seu cinema n�o funciona com as mesmas caracter�sticas do cinema de autor. Neste, a figura do diretor � sempre elevada ao primeiro plano, seja pelo modo diferenciado com que ele trata os atores (Fuller, Truffaut), pela rigorosa constru��o dos enquadramentos (Hitchcock, Lang), pelos recursos expressionistas de fotografia e atua��o (Tarkovski, Bergman), pela movimenta��o da c�mara (Renoir, Welles) ou pela montagem (Eisenstein, Godard). Em Clint Eastwood n�o aparece fortemente nenhum desses elementos, ou pelo menos n�o como deveria aparecer no cinema "de arte". Existe, �bvio, o sistema-Eastwood: os atores dificilmente usam maquiagem, os roteiros s�o escolhidos a dedo, ele trabalha quase sempre com os mesmos profissionais de montagem e m�sica (Joel Cox e Lennie Niehaus). Mas parar por a� seria descontentador. Pois h� algo em seu cinema que incita, uma conten��o extrema em respeitar o relato, um rigor absurdo em nos mostrar apenas o que � necess�rio, nada a mais. Quase um Bresson do cinema narrativo. Clint Eastwood � o cineasta do discreto. O extremo rigor moral de seus personagem (outra semelhan�a com Bresson) coincide � perfei��o com sua encena��o simples e objetiva. Mais por mais simples e objetivo que Eastwood seja, ele � extremamente autor. Seus personagens sempre, em algum momento da hist�ria, s�o suspensos, abre-se como que uma fenda do tempo neles. Existe um tempo que cai do c�u quando Steve Everett, o her�i de Crime Verdadeiro vai ao encontro de sua esposa para prestar suas contas de marido traidor e pai omisso. O tempo � suspenso, como na melhor tradi��o do cinema direto (Cassavetes, Rivette). Mas os artif�cios s�o diferenciados. Se no cinema direto o que conta � dar a real dura��o, o que � feito pela n�o-interven��o da montagem (plano seq��ncia), a opera��o de Eastwood � uma dilata��o do tempo e um eclipsamento da a��o narrativa (em sentido estrito) da hist�ria. Como esquecer do final de Poder Absoluto, quando todos os esc�ndalos presidenciais estouram e o filme foge de tudo isso para mostrar a reconcilia��o enter pai e filha? E o final de Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal, em que um acertar de contas obriga um filme de tom realista a transformar-se em relato metaf�sico? E a cena da execu��o em Crime Verdadeiro? O dilatar do tempo � m�tier de um discreto absoluto. Pois se o cinema direto apresenta um tempo real (1 minuto = 1 minuto) que � realista, o cinema de Eastwood apresenta um tempo dilatado (1 minuto = 2, 3, v�rios minutos) que � igualmente realista, mas dessa vez de um realismo m�gico. Nada que o associe ao cinema de Marcel Carn�, por favor. A m�gica desse realismo � exatamente o poder de n�o aparecer, de se dar como que de forma transparente, sem uma aparente interven��o autoral. De onde partimos para a f�rmula sobre Mizoguchi, "O m�nimo de artif�cio na tela exige o m�ximo de artif�cio fora dela". E esse artif�cio � devido ao impec�vel trabalho conjunto que Eastwood faz sempre com Joel Cox. O primeiro na hora da filmagem, o segundo na hora da montagem. E o que defende esse cinema do discreto? Voltamos aqui � quest�o da responsabilidade. Ela � tema recorrente em seus filmes. Atrav�s dela � que os personagens podem alcan�ar sua salva��o (o personagem Steve Everett expressa isso literalmente em Crime Verdadeiro). Suas fendas individuais s� podem ser preenchidas com isso. Tomemos um filme menos regular como Heartbreak Ridge/O Destemido Senhor da Guerra: Heartbreak Ridge � o lugar onde o personagem de Clint Eastwood � aqui fazendo um militar que n�o consegue largar o ex�rcito � realizou atos de bravura que lhe deram in�meras medalhas. N�o poderia haver melhor t�tulo. Pois � justamente quando � dada a ele a chance de repetir Heartbreak Ridge que ele consegue a emancipa��o para sair do ex�rcito e casar com a ex-mulher que ele ama (o tema de Crime Verdadeiro � semelhante). Ou ent�o tome-se o exemplo de As Pontes de Madison: uma vida imaculada e sem-gra�a passa a ser, resgatada por um trabalho de arque�logo, uma vida maculada (por uma felicidade muito grande que chegou sem dar not�cia), uma morte que se torna cheia de vida. No cinema de Eastwood, um simples momento pode ser a hora da salva��o. � esse o momento em que tudo se dilata (como de fato), em que tudo est� em jogo, quer se ganhe, quer se perca; � nesse momento que o tempo se dilata e que podemos ver a grandeza de seu trabalho. (por Ruy Gardnier)

O novo filme de Clint Eastwood
- Clint Eastwood no cora��o do seu tempo - Clint Eastwood tem 72 anos e continua sempre a melhor novidade do cinema americano. Seu �ltimo filme, "Bloodwork", �s v�speras de estrear em Paris e no Brasil, � de uma espantosa vitalidade. � tamb�m o trabalho de um erudito do cinema, de algu�m que conhece e evoca uma ampl�ssima tradi��o do filme americano para avan�ar em terrenos insuspeitos, que s� os espectadores desatentos ou com pregui�a n�o conseguem ver. "Bloodwork" (que passar� na Mostra Internacional de Cinema com o nome de "D�vida de Sangue") � um thriller policial. A trama � engenhosa, mas a arte est� alhures. Eastwood interpreta um agente do FBI que, logo no in�cio do filme, durante uma persegui��o a um criminoso, sofre um ataque card�aco, deixando o bandido escapar. Faz um transplante de cora��o e se aposenta, indo morar num barco encostado no cais, onde ele tamb�m encosta a sua vida. Um belo dia, uma "chicana" o procura, pedindo a ele que investigue a morte de sua irm�, assassinada aparentemente sem motivo, num assalto. Ele se recusa, explica que n�o faz mais esse tipo de trabalho, que est� aposentado. A mo�a tem, no entanto, uma boa raz�o para o ex-policial aceitar o caso: o cora��o que ele carrega no peito � o da sua irm� morta, Gl�ria. Eastwood vai exclamar: "Glory's Heart!". A frase � amb�gua e sintetiza o objetivo do diretor: "Bloodwork" � todo ele um filme sobre o cora��o, o fluxo sangu�neo, a corrente vital, a capacidade de viver e reviver, de escapar de uma vida para come�ar outra. "Ganhei um novo cora��o, mas n�o uma nova vida", diz o ex-policial. Seu retorno � investiga��o criminal, que ele decide fazer muito a contragosto e o faz por decis�o moral, vai devolver a ele aos poucos as for�as emocionais e at� f�sicas que perdera, bem como um certo valor da exist�ncia que havia ficado para tr�s. Mas fosse o filme apenas isso e ele seria de uma banalidade atroz. � muito mais. O protagonista vai descobrir que a pr�pria morte de Gl�ria est� relacionada ao seu transplante _ou seja, a sua sobrevida. Foi gra�as ao vil�o do in�cio do filme, um serial killer nunca capturado, que o policial p�de obter o cora��o que necessitava: o bandido matou Gl�ria para "ressuscitar" o mocinho! Estranh�ssima dial�tica. Ela contrap�e o dur�o Eastwood a um bandido efeminado que tem por seu perseguidor uma paix�o obsessiva, desejando mant�-lo a todo custo entrela�ado a essa narrativa de disputa e crime que, no seu entender, justifica a vida de ambos. Vou poupar o futuro espectador de mais detalhes do filme. Mas permita-me falar um pouco da maravilhosa sequ�ncia final. No plano da fic��o, � uma cena previs�vel, de confronto entre mocinho e bandido. Na constru��o formal, por�m, � um "tour de force", como dizem os franceses. Eastwood ambienta o embate derradeiro num navio em alto mar, iluminado com parcas luzes que espalham cores vermelhas e amarelas no fundo sombrio. Os corredores estreitos da embarca��o servem de espa�o labir�ntico para o suspense. Os personagens em duelo somem nas dobras interiores do navio e ressurgem iluminados por flashs de luz. A inven��o expressionista toma conta do ambiente que _o leitor j� ter� notado_ � uma alegoria visual das pr�prias entranhas por onde o sangue escorre. O espectador pode assistir "Bloodwork" como um filme policial comum, sem se incomodar com o trabalho de cinema propriamente dito. Mas ganhar� bastante se ficar atento � meticulosa elabora��o de Eastwood. De resto, o diretor n�o chegou a dispensar suas gags de ocasi�o e um certo narcisismo ir�nico que lhe � pr�prio. "Bloodwork" � um filme sobre a ressurrei��o. O tema j� comparecera em outros do diretor, como "Os Imperdo�veis". Para um cr�tico, sua const�ncia na obra de Eastwood est� relacionada � maneira como ele se v� no cinema atual: como uma alma penada do passado do filme americano. Mas do western "Os Imperdo�veis" ao policial "Bloodwork", a figura do "ressuscitado" mudou bastante. Eastwood deixou de se pensar apenas no interior do cinema para raciocinar em conson�ncia com as dificuldades dos Estados Unidos e mesmo do mundo. Que este s�mbolo americano por excel�ncia que � Eastwood represente a si mesmo como algu�m que tem no peito o cora��o de uma mexicana, isso � mais do que uma met�fora _� a ado��o f�sica do estrangeiro. Pode-se ver a� um efeito do Nafta na mentalidade hollywoodiana, mas seria demasiado mesquinho. E se Eastwood estivesse de fato dizendo que � a abertura ao estrangeiro, o "transplante" do outro para dentro de si, que podem "revitalizar" e "rejuvenescer" os valores comuns americanos que ele tanto estima? Se ele estivesse dizendo que os Estados Unidos precisam do "outro" para poderem se livrar dos seus fantasmas interiores, de suas proje��es psic�ticas, da reiterada representa��o regressiva do velho cinema do bem e do mal? Eastwood parece estar mexendo bem fundo no inconsciente americano, assim como o chin�s John Woo no formid�vel "Windtalkers", que tamb�m estr�ia no Brasil neste m�s _um filme que cutuca com vara curta as tripas belicistas da hist�ria dos Estados Unidos, ao levar dois �ndios (oops!) para o "front" americano no Pac�fico, durante a Segunda Guerra. Mas vamos deixar o barroco Woo para um outro dia. (por Alcino Leite Neto)



"Fa�a meu dia, punk!" (Dirty Harry)





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