Renovado o "Forte Senso de Urgência" 

 

A religião das Testemunhas de Jeová é uma religião cujas doutrinas estão, e desde o início estiveram, estreitamente vinculadas a datas e contagens de tempos. Desde que o Pastor Russell iniciou a publicação da hoje mundialmente conhecida revista “A Sentinela” em 1879, que o estabelecimento de datas-símbolo por meio de interpretação de contagens de tempo bíblicas tem sido o padrão básico do ensino da organização que dirige as Testemunhas. São inúmeros os exemplos, mas para não nos estendermos muito, basta destacar a data de 1914, defendida como sendo a do estabelecimento do Reino de Deus nos céus e a de 1919, como sendo a data da inspeção de Jesus Cristo aos que na terra falam em seu nome, em cumprimento a profecia da ressurreição das “duas testemunhas”.

A vocação para o estudo cronológico das profecias ou mesmo das meras citações da Bíblia Sagrada, moveu os líderes das Testemunhas de Jeová a estabelecer datas hodiernas para os eventos, muitas vezes por traçar paralelos entre acontecimentos antigos e atuais. Principiando pelos dois primeiros presidentes da Sociedade Torre de Vigia, e depois por homens de destaque dentro da diretoria, como Frederick Franz e outros menos conhecidos que passariam a compor o Corpo Governante a partir de da década de 70, diversas datas foram propostas de forma direta ou sugeridas sem um comprometimento total.

O primeiro presidente Charles T. Russell, acreditava que a data de 1914, além de trazer o estabelecimento do Reino de Deus nos céus, traria também o arrebatamento para os céus dos cristãos escolhidos por Jesus Cristo. A esperança dele mostrou-se infrutífera, mas a data permaneceu na doutrina por ser importante em outros aspectos.

O segundo presidente Joseph Rutherford, encontrou no ano de 1925 a data anteriormente esperada por Russell, como sendo aquela que realizaria a esperança celestial dele próprio e daqueles que o seguiam. Mais uma vez houve frustração.

Frederick Franz, que viria a ser o quarto presidente da Sociedade Torre de Vigia e do Corpo Governante, defendeu apaixonadamente a data de 1975 como sendo aquela em que a humanidade completaria 6 mil anos de existência e, portanto, época em que Deus estabeleceria o seu “dia de descanso” de mil anos e as testemunhas de Jeová seriam conduzidas através do Armagedom, a destruição em massa da humanidade pecadora, para uma vida eterna nos céus, os cristãos ungidos, para uma vida eterna num paraíso na terra, as demais testemunhas da grande multidão. Novamente tais interpretações mostraram-se totalmente equivocadas.

Outras datas que serviam de base para se estabelecer uma percepção visual de que o fim estaria próximo também foram abolidas, por um simples motivo: a passagem inexorável do tempo estava mostrando que eram apenas entendimentos equivocados. A geração que observaria os acontecimentos de 1914 e o Armagedom, o início e o fim dos últimos dias, foi um dos ensinos abandonados. A criação da ONU como sendo o cumprimento da profecia de Jesus sobre “a coisa repugnante estar em pé no lugar santo”, foi outro ensino dado como obsoleto.

As Testemunhas de Jeová adentraram o século XXI praticamente sem nenhuma data que pudesse fornecer uma clara impressão de proximidade do Armagedom. Exceto por 1914, que continuou sendo o marco inicial das “dores de aflição” para os habitantes da terra, nada mais havia que pudesse estabelecer a sensação de proximidade do fim tão característica na pregação de casa em casa das Testemunhas de Jeová. Não havia o chamado “senso de urgência” tão destacado nas publicações da Sociedade Torre de Vigia. Como manter a motivação das Testemunhas para participar ativamente em fazer mais discípulos se não há urgência?

Aparentemente a revista A Sentinela, edição 15 de dezembro de 2003 foi usada para preencher o vácuo deixado pelas datas abandonadas anteriormente. A imagem abaixo é uma página digitalizada da edição citada, a página 15, que contém parte do artigo de estudo “Mais do que nunca precisamos estar vigilantes”, considerado nas congregações brasileiras na semana de 19 a 25 de janeiro de 2004:

Clique na imagem para aumentá-la.

* A primeira frase do parágrafo 5 está originalmente na página 14 da revista, porém, para facilitar a visualização e diminuir o tamanho do arquivo, na imagem ela está colocada logo acima do início do texto na página 15.

 

Consideremos os parágrafos da página, começando pelo parágrafo 5:

  

A Sociedade Torre de Vigia (Associação Torre de Vigia, no Brasil) faz uma analogia entre o período anterior ao Dilúvio e os tempos atuais, parafraseando a profecia de Jesus sobre os últimos dias, onde ele delineia a similaridade entre o comportamento das pessoas na época pré-diluviana e o período que Jesus chama de tempo do fim. (Mateus 24:36 ~ 39) Apesar de Jesus, no versículo 36, dizer que “acerca daquele dia e daquela hora ninguém sabe... exceto o Pai”, o texto do parágrafo 5, baseado em diversas outras analogias da própria Torre de Vigia, estabelece que os dias atuais são os dias mencionados na profecia. Desta forma, a frase “A compreensão clara do paralelo entre aquele tempo e os dias atuais deve fortalecer a nossa convicção de que o fim do mundo atual está próximo”, é imperativa e impositiva, não se trata de um convite para que o leitor examine as eventuais similaridades e decida se elas são válidas ou não, mas sim, é apenas um aviso claro de que o Corpo Governante estabeleceu um paralelo entre as épocas e o está comunicando às Testemunhas, que devem, por sua vez, criar em si mesmas a convicção de que este conceito é verdadeiro.

Continuando no parágrafo 6:

Estabelecido, e imposto, o paralelo entre os dias de Noé e os dias atuais, o próximo passo é mostrar o tempo decorrido entre o aviso de Deus dado a Noé e a vinda do Dilúvio e este é fornecido por se apresentar o texto bíblico de Gênesis 6:3. Como no texto o número de anos está por extenso e por extenso o impacto nunca é o mesmo, a Torre de Vigia o repete algumas linhas depois, desta vez em algarismos numéricos: “apenas 120 anos”. Desta forma se fixa mais fortemente o tempo do período, ao mesmo tempo em que procura torna-lo menor com o “apenas”.

Agora no parágrafo 7:

Após estabelecido o paralelo e o tempo decorrido no período pré-diluviano, vem agora a comparação com os dias atuais. Comparando a data de 1914, defendida pela Torre de Vigia como sendo a data do início dos “últimos dias”, com a data do decreto divino de Deus antes do Dilúvio, surge um número de anos: 90 anos. Este é o tempo já decorrido desde 1914. No final do parágrafo, ainda é dito: “agora é o tempo para fazer a vontade de Jeová com um forte senso de urgência”.

Poderia ser apenas uma coincidência, mas tudo, inclusive o histórico da Sociedade Torre de Vigia, aponta no sentido contrário. O forte “senso de urgência” indicado no final do parágrafo 7, os números de anos bem frisados, 120 anos no Dilúvio e 90 anos desde 1914, mostra uma preocupação de comparar tempos e apontar, mesmo que na forma de uma sugestão, o ano de 2.034, 120 anos depois de 1914, como sendo uma data razoável para a vinda do Armagedom.

Para finalizar, no parágrafo 9, diz-se que Jeová tem colocado avisos por meio de “lembretes oportunos” dados pelo “Corpo Governante”, quer dizer, um lembrete para as Testemunhas de Jeová que por ventura estivessem com o passo mais lento, de que se apressem, pois o tempo que resta é reduzido, mas agora não mais como apenas algo vago, e sim com algo palpável, que pode ser visualizado num simples calendário.

 

 

 

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