Os deuses novos

Zeus e Hera

Quando começou a era dos deuses novos, com a sobrevivência de Zeus, ainda criança, os Titãs não desapareceram completamente. Alguns deles, com os respectivos filhos e filhas, continuaram a viver na nova época. Mas antes disso houve contas antigas a ajustar e erros a serem emendados.

Quando Crono soube o que Reia tinha feito com o seu último filho, ficou furioso e organizou urna cuidadosa busca. Para abafar o choro da criança, as ninfas resolveram começar a fazer muito barulho quando os enviados chegaram perto do esconderijo: tocaram gongos, bateram com espadas em escudos, e os homens gritaram uns com os outros, numa grande discussão. Para desnortear ainda mais Crono, Zeus foi tirado da sua gruta e o berço pendurado nos ramos de uma árvore, de maneira a não estar nem na terra, nem no céu, nem no mar. Contudo, a busca continuou, e Reia compreendeu que, por mais cuidados que tivesse, a criança seria descoberta mais tarde ou mais cedo. Embrulhando uma grande pedra numa fralda, apresentou-a a Crono como sendo o filho. E ele engoliu-a imediatamente como tinha feito com os outros cinco filhos verdadeiros.

Crono pensou que estava salvo e, ao cuidado das bondosas ninfas, Zeus cresceu e fez-se homem.

E, quando Zeus ficou adulto, decidiu libertar os irmãos. Zeus e Reia foram ambos ter com Métis, uma rirá muito esperta, que não gostava de Crono, e eld sugeriu um plano.

Cronos -nunca tinha visto o filho, por isso quando Reia o apresentou como um jovem criado de mesa Crono meteu-o logo ao seu serviço. Mais tarde Zeus fabricou um veneno e misturou-o na bebida do pai. E da sua boca saíram, sem a menor beliscadura, Hades, Poséidon, Deméter, Hera e Héstia, os dois filhos e as três filhas que ele tinha devorado. Também saiu a pedra que Reia lhe dera em vez de Zeus, que caiu na Terra, no Templo de Delfos, onde se tornou motivo de adoração e onde pode ser vista ainda nos nossos dias.

Uma vez livres, Poséidon e Hades estavam ansiosos por tirar vingança, e convenceram Zeus a comandá-los contra os Titãs que ajudavam Crono, agora velho. O chefe do exército dos Titãs, e encarregado de Crono, era um poderoso deus chamado Atlas.

A guerra entre os velhos e os novos deuses foi longa e difícil. A certa altura, Zeus foi aconselhado a pedir a ajuda dos Ciclopes, que durante todo este tempo tinham estado prisioneiros no Mundo Inferior. Zeus foi até lá libertá-los, e em sinal de gratidão eles ofereceram presentes aos três filhos de Crono: a Zeus deram o raio, que ficou sendo a sua arma mais característica; a Hades um capacete, que tornava invisível quem o usasse, e a Poséidon um tridente. Munidos destas armas, os três encontraram Crono sozinho. Com o capacete na cabeça, Hades podia roubar as armas de Crono sem ser visto. Quando Crono ficou desarmado, Poséidon atacou-o com o tridente e Zeus lançou-lhe o raio, que o fulminou imediatamente.

Desencorajados com a morte do deus por quem tinham lutado tanto tempo, os restantes titãs perderam as forças. Os Ciclopes atiraram sobre eles uma verdadeira chuva de pedras e foram rapidamente destruidos. Todos, menos dois, foram expulsos para o Tártaro, a parte do Mundo Inferior onde as pessoas sofriam o tormento eterno. Crono foi autorizado a viver na região mais bonita dos Campos Elísios, mas Atlas, o condutor da guerra, foi condenado a expiar as suas faltas carregando com o peso do céu às costas para todo o sempre.

Zeus preocupou-se então com outras coisas e a sua primeira tarefa foi a criação do homem. Primeiro, fez os homens da Idade do Ouro, que viviam no Paraíso, onde não trabalhavam e eram completamente felizes. Por fim, os homens envelheciam e morriam, mas os seus espíritos pairavam na terra, vigiando o bem-estar das gerações futuras.

As criações seguintes foram os homens da Idade da Prata. Ao contrário dos primeiros, pouca diferença faziam dos animais inferiores. Eram brutos e pouco inteligentes, e passavam a vida a questionar uns com os outros. Zeus, vendo que eles não tinham emenda, destruiu-os sem hesitar.

Os homens que criou a seguir, os da Idade do Bronze, eram mais inteligentes, mas, em compensação, eram piores. Não usavam a sua inteligência para criar coisas úteis C belas, mas para inventar e fabricar apenas armas de guerra, até que foram também mortos e mandados para sempre para o Mundo Inferior.

Zeus sentiu-se desencorajado. Perguntou a si próprio se a criação da Humanidade teria sido afinal uma boa ideia e se valia a pena continuar. De qualquer forma, resolveu tentar novamente. E desta vez criou os homens da Idade Heróica, muitos dos quais haviam de ser os heróis das lendas narradas mais tarde. Zeus pediu a ajuda de um titã bom e sábio para fazer estes heróis, e a história de como Prometeu se aliou com os homens contra as ordens de Zeus será contada mais adiante neste livro.

Pensava-se que o Olimpo, onde viviam os imortais, era a montanha mais alta do Mundo. Entre os deuses ali reunidos, Zeus, Hermes, Poséidon, Hefesto, Ares e Apoio eram os deuses maiores, e Arena, Hera, Artemisa, Afrodite, Héstia e Deméter, as deusas mais adoradas. Obedecendo à soberania de Zeus, estes doze deuses eram os de maior importância. Seguiam-se outros, como Hélio, Latona, Dioniso e Témis. Pá, o pastor dos deuses, estava mais ligado à terra do que ao Olimpo. Hades, irmão de Zeus, tinha direito a pertencer ao número dos deuses principais, mas raramente ou nunca subiu ao Olimpo. Vivia satisfeito no seu reino subterrâneo, mandando nas sombras dos mortos no Mundo Inferior.

A vida era agradável no Olimpo. Os deuses passavam a maior parte do tempo em banquetes, saboreando a carne dos sacrifícios feitos pelos mortais em sua honra e bebendo néctar em taças de ouro, servidas por deuses e deusas menores, como Hebe e Ganimedes, que faziam as vezes de criados. Enquanto comiam e bebiam, Apoio enchia o ar com a música da sua lira e as nove musas cantavam com uma voz tão doce como nenhum mortal poderia imaginar.

Muitas vezes, contudo, um dos deuses ausentava-se destas festas, porque eles adoravam andar pela terra e tomar parte na vida dos homens. Muitos dos heróis mortais teriam morrido antes de tempo se um deus ou uma deusa não os protegesse ajudando-os quando era necessário. Os deuses também se arriscavam bastante nestas aventuras. Todavia, o facto de serem imortais dava-lhes grandes vantagens e também podiam transformar-se à vontade noutra coisa qualquer para conseguirem os seus fins.

Todavia, muitas vezes, os deuses tomavam forma humana e, assim, podiam ir a todo o lado sem os conhecerem.

Embora Zeus fosse o deus supremo sobre todos os outros, também estava sujeito à vontade do Destino, fonte de toda a sabedoria. Os sábios conselhos do Destino mantinham a ordem do Universo. Através do Destino, Zeus via e sabia tudo. Zeus podia exercer justiça sumária sobre quem praticava o mal, mas também podia ser misericordioso e proteger os fracos, os pobres e os ignorantes. Os Gregos antigos adoravam-no como deus do céu e senhor dos ventos, da chuva e do raio, e Zeus falava com eles directamente ou através do oráculo de Apolo em Delfos.

Hera tornou-se mulher de Zeus, mas não foi a primeira nem a única. A primeira foi Métis, uma titã. Depois veio Térnis, filha de Urano, mãe da Paz, da justiça e, por fim, dos Fados. Témis permaneceu no Olimpo mesmo no tempo de Hera, porque Zeus apreciava muito os seus conselhos e costumava consultá-la sobre problemas que o preocupavam. E Hera parecia não se importar

A Témis seguiram-se mais duas esposas. Mnemósine teve nove filhas de Zeus, as Musas. Cada uma era dedicada a uma arte diferente, embora fossem todas dotadas para a música. E, por fim, a esposa de Zeus foi Eurínome, mãe das três Graças.

Em determinada altura, Zeus sentiu-se demasiado orgulhoso do seu poder sobre os outros deuses, e esta soberba aborreceu-os. Alguns, encorajados por Hera, acharam que ele precisava de uma lição. Agarraram-no e prenderam-no com cordas, atadas com cem nós. E, na sua frente, discutiram qual o deus que havia de suceder-lhe, e ele compreendeu que se não acontecesse qualquer coisa seria suplantado, tal como fizera ao pai.

Todavia, enquanto Zeus lutava em vão para se libertar, outros deuses ficaram preocupados com a possibilidade de urna nova guerra dos deuses. Entre estes estava a ninfa Tétis. Tomou uma decisão e foi buscar o gigante de cem mãos Briareu, filho de Urano, e levou-o ao sítio onde estava Zeus espumando de raiva. Com cada uma das cem mãos, o gigante desatou um dos nós. Num instante, o mais poderoso dos deuses ficou mais uma vez livre e sedento de vingança. Poséidon e Apolo, que tinham sido dois dos chefes da revolta, foram mandados por mar para a Ásia Menor, e ficaram durante um tempo ao serviço do rei Laomedonte, na construção das muralhas de Tróia. Hera recebeu um castigo maior. Foi pendurada do céu com uma pesada bigorna de bronze suspensa de cada tornozelo até todos os outros deuses jurarem solenemente que nunca mais se revoltariam.

Depois do seu estranho renascimento, Hera foi para a Arcádia, onde Zeus reparou nela quando perdeu a sua esposa Eurínome. Era Inverno, e o chão estava coberto de neve. Zeus conseguiu captar a piedade de Hera tornando a forma de um cuco abandonado e cheio de frio, que ela apanhou e aqueceu ao colo. O seu amor por ela não parece ter diminuído quando voltou à forma normal Combinaram casar e o monte Olimpo encheu-se de alegria e festas quando a notícia foi conhecida dos outros deuses.

Choveram presentes sobre o casal. A Mãe Terra ofereceu a Hera Lima árvore que dava maçãs de ouro, que foi plantada num jardim perto do monte Atlas, junto ao sítio onde o titã Atlas pegou no céu às costas. Hera teve de Zeus, por ordem, Ares, deus da guerra, Hefesto, deus das forjas, e Hebe. Foram estes os únicos filhos de Zeus, e Hera. Hebe tinha a seu cargo servir as bebidas aos deuses, pelo que pouco há a dizer dela, enquanto os irmãos tiveram vidas mais acidentadas.

A constante infidelidade de Zeus a Hera é difícil de explicar, porque ela era nova e certamente bonita. Talvez fosse demasiado severa, levando tão a sério o seu lugar de rainha dos deuses. Hera tinha sempre o cuidado de se apresentar o melhor possível. Todos os anos ia banhar-se nas águas mágicas da nascente de Náuplia, nas costas da Grécia, para renovar a sua juventude. Depois de se banhar, ungia o corpo com óleo perfumado antes de voltar para junto do marido, no Olimpo. Pemaneceu fiei a Zeus, embora não lhe tenham faltado pretendentes. Um deles, lxíon, rei da Tessália, tentou cortejá-la, mas foi imediatamente impedido por Zeus e mandado para um castigo eterno no Tártaro, pela sua presunção.

Certa vez, quando as aventuras de Zeus passaram as marcas, ela deixou-o e voltou para a ilha de Eubeia, onde tinha passado os primeiros anos da sua juventude, antes de ir para a Arcádia. Zeus pensou em todas as maneiras de a fazer voltar, mas ela manteve-se firme. Então o pai dos deuses imaginou um plano, que seria infalível, porque ele sabia por experiência como Hera podia ser ciumenta.

Arranjou uma estátua de uma linda rapariga, vestiu-a com um vestido bordado a ouro e pôs-lhe no cabelo fingido uma coroa de pérolas. Meteu a estátua num carro dourado e fê-Io circular por toda a parte em volta da ilha, enquanto os arautos proclamavam que aquela era a futura esposa do pai dos deuses. Furiosa, Hera subiu para o carro, arrancou os vestidos da estátua, e verificou que tinha sido ludibriada. Mas os seus verdadeiros sentimentos para com Zeus tinham ficado à vista. E não teve outro remédio senão voltar para o Olimpo.

A estranha maneira como Zeus teve a filha Atena sozinho será contada mais tarde. Hera ficou mais ofendida por isso do que por todas as suas costumadas aventuras. Ciumenta do estranho poder que ele tinha, ambicionava poder igual, e pediu à Mãe Terra e aos Titãs do Tártaro para a ajudarem. E o seu desejo foi satisfeito. Mas em vez de um filho bonito, deu ao mundo o monstro Tífon.

Hera foi bastante cruel para com as suas rivais e para com todas as mulheres que julgava perigosas. Ouvindo dizer que Antígona, filha de Laomedonte de Tróia, se gabava de ter o cabelo mais fino e mais sedoso do que o da deusa, transformou-lho num verdadeiro ninho de serpentes retorcidas. De outra vez, as filhas de Proeto, rei de Argos, falaram com desprezo da estátua de Hera. E só por isso ela endoideceu-as, para aprenderem a ser mais delicadas. Apenas quando um famoso profeta interveio em seu favor, a deusa cedeu e as fez voltar ao estado normal.

Quando Zeus não a provocava, Hera costumava ser calma e paciente. Gostava dos mortais valentes e nobres e ajudava muitos deles quando estavam em perigo. Por exemplo, foi a mão dela que acompanhou Jasão até ao fim, na sua longa e perigosa viagem em busca do velo de ouro.

O comportamento de Zeus, quando conseguia iludir a vigilância de Hera, não tinha classificação. Uma vez, Zeus viu, do alto do Olimpo, Io, filha de ínaco, governador de Argos. Io era muito bonita e Zeus apaixonou-se logo por ela. Visitou-a, e conversaram um bocado sem saberem que Hera os espiava. Mas, quando ela apareceu, Zeus transformou Io numa vaca branca. Hera fez de conta que a vaca era um presente para ela e Zeus não teve outro remédio senão voltar ao Olimpo.

No dia seguinte escapou-se novamente e voltou a Argos, no intuito de dar outra vez o seu verdadeiro aspecto a Io e escondê-la, mas viu com desgosto que Hera tinha chamado um monstro com cem olhos chamado Argo para guardar a vaca. O pai dos deuses não se atreveu a usar os seus raios para matar o monstro e mandou o versátil Hermes conversar com ele. Hermes sentou-se junto de Argo durante toda a noite e recitou uma longa e triste história que fascinou o monstro. Passadas muitas horas, o monstro perdeu as forças e, por fim, adormeceu. Imediatamente, Hermes levantou-se e com a espada separou, de um golpe, a cabeça de Argo do corpo.

Io fugiu aterrada, e quando a foram procurar não a encontraram em parte nenhuma. Vagueou durante muitos meses pelo Norte da Grécia e em volta do Mediterrâneo oriental, sobre as montanhas e desertos escaldantes, até que chegou à terra do Egipto. Ali, depois de voltar à sua forma humana, teve um filho de Zeus, que veio a ser o primeiro faraó que reinou rio país do Nilo.

 

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