MP processa Edir Macedo por usar dinheiro da IURD na TV

SÃO PAULO - O Ministério Público Federal está movendo processo em São Paulo, objetivando a anulação do ato administrativo que aprovou a transferência da TV Record para a pessoa física do autoproclamado bispo Edir Macedo Bezerra, da Igreja Universal do Reio de Deus (IURD).

Nos autos, ficou patente que o megaempresário-religioso não tinha dinheiro algum para adquirir essa rede e, posteriormente, ampliá-la com novas compras em nome de outros bispos também sem patrimônio para tal e que se prestaram a dar seus nomes para camuflar e subtrair das autoridades federais os verdadeiros sócio-controladores dessas emissoras.

Record

Edir Macedo, de acordo com os autos do processo nº 97.0016449-7, que tramitou na 3ª Vara Federal da Seção Judiciária de São Paulo e agora está em fase de recurso, comprou e montou uma das mais importantes redes de rádio e de TV com dinheiro da Igreja Universal, que ele mesmo comanda.

Consta de sentença proferida que Edir Macedo Bezerra e sua esposa Ester Eunice Rangel Bezerra, "não possuindo recursos financeiros para adquirirem as ações da empresa de radiodifusão sonora e de imagens, teriam obtido os valores necessários à compra, através de empréstimos da Igreja Universal do Reino de Deus".

Esposas

Ester Eunice Rangel Bezerra, que é detentora de 10% das ações da Rede Record de Televisão S/A, muito embora tenha afirmado que não participou das negociações referentes às concessões da Rede Record, limitando-se a assinar papéis, informou enfaticamente "que seu marido adquiriu as ações para ele e não para a IURD".

Por sua vez, Sylvia Jane Hodge Crivella, esposa do bispo e senador pelo Rio de Janeiro, Marcelo Bezerra Crivella, a despeito de também figurar como acionista do Grupo Record (ela e seu marido controlam a importante TV Record de Franca S/A), também ouvida em juízo, "alegou que nada sabe a respeito dos negócios do marido, e que tem conhecimento - por ouvir dizer - que a IURD emprestou dinheiro a ele, ignorando, contudo, qual o valor do empréstimo".

No depoimento, Sylvia Crivella informou ainda que "Marcelo e Edir Macedo procuraram obter empréstimo de dinheiro junto aos bancos, mas não conseguiram, e que se recorda de uma campanha feita pela IURD para angariar fundos a fim de saldar os compromissos assumidos com a aquisição do Grupo Record, ocasião em que ela e Marcelo venderam um carro, tendo doado à IURD o dinheiro obtido com a venda".

Bispos são laranjas de Macedo

Em entrevista concedida à "Folha de S. Paulo", em 20 de julho de 1999, o diretor-superintendente da Rede Record de Televisão S/A, Dermeval Gonçalves, chegou a descrever a artimanha adotada pelo bispo Edir Macedo e seus assessores, para se assegurarem de que os bispos laranjas, falsos donos dessas rádios e TVs, não lhes aplicarão golpe, apossando-se de vez daquilo que não compraram, mesmo porque não tinham dinheiro para tais empreitadas.

Na entrevista, disse o diretor da Record e homem da mais absoluta confiança do bispo Edir Macedo: "No momento em que o pastor ou bispo se torna acionista de uma emissora, assina um outro contrato com a data em branco, transferindo suas cotas. Se ele morrer, ou se abandonar a Igreja, ponho uma data anterior no contrato e transfiro as cotas para outro líder da Igreja", admitiu Dermeval Gonçalves.

Tribuna da Imprensa, 16/02/04

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