Uma noite de outono.

 

Era uma noite de outono, fresca e muito agradável.
A noite estrelada, um céu límpido , no zênite um ponto luminoso chamava a atenção.
Seu brilho branco opaco ,se destacava sobre as demais estrelas.
Era o planeta Saturno, que enviava do cosmo infinito suas vibrações de respeito e sabedoria.
O relógio marcava pontualmente 20:00 horas, era o dia 16 de Novembro de 1908.
Naquela casa simples , um movimento estranho chamava a atenção dos vizinhos.
Pessoas estranhas, algumas bem vestidas com seus ternos brancos, outras mais modestas, senhores de fisionomia séria se aproximavam, criando algum burburinho naquele bairro das neves.
Dentro da casa, mais precisamente na sala de visitas, um rapaz ansioso e preocupado aguardava pelo horário combinado.
Exatamente na badalada do relógio, seu corpo sente um ligeiro tremor, seus olhos fecham, suas mãos se enrijecem , sua voz se altera.
É o Caboclo que chega para  cumprir o combinado.
Após o silencio que se fizera, durante a prece e a leitura do texto de estudo  do evangelho segundo o espiritismo, as pessoas se entreolham e alguns comentários se fazem ouvir.
É o Caboclo das Sete encruzilhadas.
Nesta segunda-feira de uma noite de outono , signo de escorpião, regente dos mistérios e das coisas ocultas, o grande pai Saturno, estabiliza com suas vibrações aquela que seria a primeira reunião da Grande Mãe.
A grande mãe que em seus seios todos os filhos acolhe.
A grande mãe que não se preocupa com raça, dinheiro, cor ou credo religioso.
A grande mãe que somente quer fazer o bem a quem necessita de  ajuda.
A grande mãe que ressurge dos tempos imemoriais chamando-se Umbanda.
As pessoas se movimentam dentro daquela pequena sala, alguns com olhares de dúvidas, outros com olhares de incúria, o que aquele ser que se denomina caboclo, quer fazer com aquele frágil rapaz.
Um rapaz delicado, que a poucos dias era considerado um doente com problemas psicológicos, talvez louco, talvez doente mental.
Agora consegue reunir ao seu redor dezenas de pessoas, algumas somente por curiosidade, outras querendo desmistificar, outras comprovar, mas muitas querendo uma cura, uma ajuda, um alento para sua alma.
Um paralítico se aproxima, quer um milagre. Seria possível?
Sua fé é grande, humildemente implora para aquele rapaz com o corpo agora imponente, falando com um ligeiro sotaque e se identificando como um caboclo.
Implora pela sua cura.
O rapaz sob os olhares atentos, vacila por um momento, mas aquela força que domina seus movimentos, seus braços, sua boca, suas palavras, é mais forte.
Se aproxima do paralítico, segura em suas mãos e diz: Anda!
Em nome do nosso Pai Jesus Cristo , Anda!
No ambiente se faz silêncio, os olhares se entrecruzam, desconfiança nos olhares.
As muletas são largadas, o homem  treme, suas pernas são frágeis, não estão acostumadas a suportarem sozinhas o peso do corpo.
Balança, parece que vai cair; as pessoas se preocupam, alguns tentam ajudar, mas o caboclo com a voz firme ordena: Ande! Ande! Em nome de nosso Pai Jesus.
O paralítico ameaça seus primeiros passos, não acreditando que conseguirá hesita, vacila por um momento, mas sua fé é maior.
Arrasta seus pés, e começa a andar, uma emoção muito forte toma conta de todos.
A mãe daquele rapaz frágil, emocionada chora.
Seu pai em prece, ergue os olhares para o céu.
As pessoas se espantam, os orgulhosos desconfiam.
O paralítico sorri e de joelhos agradece ao rapaz.
Meu filho, diz o rapaz com sua voz transformada, não me agradeça.
Agradeça ao Pai todo poderoso, a quem sou um humilde servo.
Nesta noite, uma segunda-feira, exatamente as 20:00, no bairro de neves, cidade de Niteroi, estado do Rio de Janeiro, nascia para o mundo a Umbanda.
A bondosa e justa mãe que a todos acolhe em suas fileiras.

Saravá Umbanda.

SP, 09/04/2002 - 22:58 h

Nitrix

 


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