HÁ LUZ d'ESTRELAS,         A  OESTE....
     
     
      HERBERTO HELDER


      O AMOR EM VISITA


Dai-me uma jovem mulher com
            sua harpa de
                    [sombra
e seu arbusto de sangue. Com
     ela encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva
                 ,uma mulher.
Seus ombros beijarei,
             a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada,
         mas com a gravidade
de dois seios,
com o peso lúbrico e triste
da boca.Seus ombros beijarei.

Cantar?Longamente cantar.
Uma mulher com quem beber e
                    morrer.
Quando fora se abrir o
   instinto da noite e uma
                      [ave
o atravessar trespassada por
          um grito marítimo
e o pão for invadido pelas
                    ondas -


seu corpo arderá  mansamente
           sob os meus olhos
               [palpitantes.
Ele - imagem vertiginosa e
            alta de um certo
                 [pensamento
de alegria e de impudor.
Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido  por
            flores com água.

Em cada mulher uma morte
                 silenciosa.
E enquanto o dorso imagina,
               sob os dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos,
            navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez
           dentro do coração
                   [faminto.
Oh - cabra no vento e na urze
             ,mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre
        escarlate onde o sal
             põe o espírito,
mulher de pés no branco,
              transportadora
da morte e da alegria.

Dai-me uma mulher tão nova
               como a resina
e o cheiro da terra.
Com uma flecha em meu flanco,
                   cantarei.
E enquanto manar de minha
        carne uma videira de
                    [sangue,
cantarei seu sorriso ardendo,


suas mamas de pura substância
,a curva quente dos cabelos.
Beberei sua boca,para depois
              cantar a morte
e a alegria da morte.

Dai-me um torso dobrado pela
música, um ligeiro pescoço de
                      planta
onde uma chama comece a
          florir o espírito.
À tona de sua face se moverão
                   as águas,
dentro da sua face estará  a
             pedra da noite.
- Então cantarei a exaltante
           alegria da morte.


O AMOR EM VISITA - 1958



             
PASSAGES THROUGH THE RELATIONSHIPS    -   detalhe do grupo escultório   -  da série Unpainted Figures,  de CAROLE FEUERMAN
Links sugeridos:
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Homenagem à arte de Carole Feuerman,  neste sítio
"URGENTEMENTE"   poema de Eugénio de Andrade   -  imagem: retrato de Eugénio  por Carlos Carneiro,  neste sítio
"Névoa"  poema de Edward E. Cummings  -  Foto de Eikoh Hosoe  neste sítio
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