O Local da Inteligência no Cérebro...Finalmente Encontrado?

Artigo original por Eric Chudler, PhD (site Neuroscience for Kids), tradução por Fernando Lage Bastos

Artigo Original: 03-Ago-2000; Tradução: 12-Jan-2001

Jornais e sites da Internet estavam divulgando as seguintes manchetes:

 

"A Inteligência Fica em Determinadas Partes do Cérebro" - Yahoo!News, 20 de julho de 2000

"Cientistas Localizam Zona da Inteligência no Cérebro" - PsycPort, 21 de Julho , 2000

"Cientistas Dizem que Encontraram a Fonte da Inteligência no Cérebro" - Seattle Times, 21 de julho de 2000

 

Sobre o que era esta notícia e o que podemos deduzir desta nova pesquisa?

Em 1904, Charles Speraman propôs que havia algo em comum em todas as habilidades intelectuais e que este fator geral de inteligência (ou Fator "g") poderia ser medido. Uma visão oposta foi desenvolvida por Godfrey H Thomson em 1916. Thomson acreditava que as funções intelectuais necessitavam de muitas habilidades diferentes.

A edição de 21 de julho de 2001 da revista Science, traz um uma pesquisa desenvolvida por cientistas ingleses e alemães que teve grande repercussão na mídia e comunidade científica. Liderada pelo Dr. Jonh Duncan, os pesquisadores utilizaram a técnica de Tomografia por Emissão de Positrons (PET) para medir a atividade cerebral de adultos durante tarefas espaciais, verbais e motoras. Estas tarefas foram feitas para medir a "inteligência geral" ou o "fator g".

Duncan e seus colaboradores descobriram que as diferentes tarefas produziam um aumento na atividade na mesma região cerebral: o córtex frontal lateral (ver figura ao lado). A interpretação dos resultados levou à seguinte conclusão:

"...que a 'inteligência geral' surge de uma área específica do sistema frontal, importante no controle de variadas formas de comportamento"

Isto significa que o córtex frontal lateral é a "zona da inteligência no cérebro?". Provavelmente não. Rober Sternberg, professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Yale, escreveu um editorial que também foi publicada na Science. Stemberg levantou diversas falhas na interpretação dos dados:
  1. O fator G pode não ser uma boa forma de se medir a inteligência. Alguns testes de inteligência, como o SAT (Scholastic Aptitude Test- Um teste regularmente aplicada para candidatos à cursos universitários nos EUA), medem habilidades específicas, mas não necessariamente a inteligência utilizada no dia-a-dia. Stemberg mostra que os candidatos à presidência dos EUA Al Gore e George Bush não foram muito bem na parte verbal do SAT. Mesmo assim, a maioria das pessoas concorda que tanto Gore como Bush são "inteligentes". Testes de inteligência geral não medem talentos como criatividade ou adaptabilidade.
  2. A forma como o experimento foi feito permitiu que os pesquisadores apensa fizessem correlações. Eles encontraram uma relação entre a atividade do lobo frontal e os dados de inteligência fornecidos pelos testes. Este tipo de experimento não permite conclusões sobre o que causou a relação entre os dados. Stemberg também aponta que em alguns experimentos, "pessoas mais inteligentes", as vezes mostram menos atividade no lobo frontal durante testes analíticos do que "pessoas menos inteligentes". Isto pode indicar que pessoas mais inteligentes não precisam se esforçar tanto nestes testes quando comparados com outras pessoas.

Uma leitura mais cuidadosa desta nova pesquisa revela que a mídia ignorou uma ressalva importante feita por Duncan e seus colaboradores. Eles nunca disseram que o córtex frontal é a única área envolvida nos resultados obtidos. Pelo contrário eles acreditam que:

"... o fator g, reflete a função de um sistema neural específico, incluindo uma região específica do córtex frontal lateral como um dos maiores componentes deste sistema. "

As funções exatas do córtex frontal lateral ainda são desconhecidas. Estudos futuros, talvez alguns que testem a habilidade de pessoas com lesões no córtex lateral frontal, podem dar novas informações que podem ajudar na descoberta dos circuitos cerebrais envolvidos com a inteligência.

 

Referências:

Duncan, J., Seitz, R.J., Kolodny, J., Bor, D., Herzog, H., Ahmed, A., Newell, F.N. and Emslie, H., A neural basis for general intelligence, Science, 289:457-460, 2000.

Sternberg, R.J., The holey grail of general intelligence, Science, 289:399-401, 2000.


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