Um Fio de Esperança para Pacientes com a Doença de Huntington

Artigo original por Ellen Kuwana (site Neuroscience for Kids), tradução por Fernando Lage Bastos

Artigo Original: 11-Jan-2001; Tradução: 13-Jan-2001

Alguns Dados sobre a Doença de Huntington

Resultados obtidos por dois grupos de pesquisa estão dando esperança para pessoas que lutam contra a Doença de Huntington (DH). A Doença de Huntington é uma doença relativamente rara, afetando aproximadamente 30 mil pessoas nos EUA. Ela é um distúrbio neurológico hereditário: Se um dos pais tem a doença, os seus filhos tem 50% de chance de desenvolver a doença. Os sintomas, que na maior parte das vezes, aparecem após os 30 anos de idade, incluem demência, coréias (movimentos involuntários e bruscos do corpo), problemas de coordenação motora, depressão e instabilidade emocional. Apesar da existência de algumas drogas que melhoram os sintomas, não existe atualmente nenhum tratamento para a Doença de Huntington e o paciente normalmente morre em 15 anos após aparecimento dos sintomas.

Por Dentro do Cérebro com Doença de Huntington

A doença de Huntington danifica os neurônios em uma área do cérebro chamada de corpo estriado, especialmente o núcleo caudado e o globo pálido. A pergunta que está sendo feita é: "E se houvesse uma forma de repor estas células que forma danificadas?". Usando modelos baseados em roedores e primatas da doença de Huntington, os pesquisadores transplantaram células fetais para cérebros danificados pela Doença de Huntington, e mostraram com sucesso que as células transplantadas sobreviveram. Será que esta técnica funciona em humanos, e, se as células sobreviverem, será que elas irão realizar as mesmas funções das células danificadas como formar conexões, transmitir sinais e secretar neurotransmissores?

Esta é a Primeira Vez que Células Fetais Transplantadas Sobreviveram e Melhoraram os Sintomas da Doença de Huntington em Humanos

Marc Peschanski e seus colaboradores, cultivaram neurônios fetais da área que se torna o corpo estriado e transplantaram estas células para o corpo estriado de pacientes adultos com Doença de Huntington, que tinham formas leves ou moderadas da doença. Estes pacientes exibiam sintomas da Doença de Huntington por um período que variava de 2 a 7 anos. Os pesquisadores então avaliaram estes pacientes utilizando a Ressonância Magnética (RM) e a Tomografia por Emissão de Positróns (PET) para "ver" como o cérebro estava funcionado. Os resultados de 5 pacientes com Doença de Huntington (grupo experimental) foi então comparado com 22 pacientes (grupo de controle).

Dos cinco pacientes, três tiveram melhora da função motora (movimentos) e habilidades cognitivas. Nestes três pacientes, as técnicas de imagem mostraram um aumento da atividade metabólica do corpo estriado, sugerindo que as células transplantadas compensaram pela disfunção das células afetadas pela Doença de Huntington. Estas melhoras duraram por três anos após a inserção destas células. Os outros dois pacientes tiveram uma diminuição da atividade metabólica e nenhuma melhora dos sintomas (um dos pacientes chegou a melhorar até perder as células transplantadas por causa de uma hemorragia cerebral). Esta diminuição da atividade metabólica e piora dos sintomas é igual a que é normalmente encontrada em pacientes com a Doença de Huntington.

Apesar se serem animadores, é ainda muito difícil tirar conclusões baseados nos dados obtidos nesta pesquisa devido à pequena quantidade de pacientes (apenas 5) que foram submetidos ao transplante. É também difícil comparar os pacientes com o grupo de controle, já que os sintomas da Doença de Huntington variam consideravelmente. Para resolver estas deficiências, os pesquisadores estão planejando um novo estudo clínico envolvendo 60 pacientes franceses e belgas.

Células Fetais Transplantadas Sobreviveram, Formaram Conexões e Continuaram Saudáveis

Em uma pesquisa semelhante, liderada pelo Dr, Thomas Freeman e a Dra. Francesca Cicchetti, neurônios fetais do corpo estriado foram transplantados para o corpo estriado de pacientes com a doença de Huntington. Pela primeira vez, foi demonstrado que estas células transplantadas podem sobreviver e se desenvolver no cérebro adulto. Além disso, as células transplantadas não foram afetadas pela doença e se mantiveram saudáveis.

Ao olharmos mais de perto esta pesquisa, notamos que o tamanho de pacientes estudados foi relativamente pequeno: apenas sete pacientes foram submetidos ao transplante. Destes sete, cinco mostraram um aumento significativo na realização das suas tarefas diárias (sendo que um dos pacientes morreu durante o estudo de um ataque cardíaco, sem relação com a pesquisa). A avaliação dos pacientes foi feita 18 meses após o transplante. Embora seja uma boa notícia que as células transplantadas estivessem funcionando após este tempo, ainda não é sabido o que acontecerá com elas à longo prazo. Será que elas irão se manter saudáveis ou serão afetadas pela doença após um certo tempo? Será que haverá um número suficiente de células sobreviventes para compensar pelo dano causado de Doença de Huntington?

Em uma pesquisa relacionada com esta, células fetais transplantadas melhoraram os sintomas de pacientes com a doença de Parkinson. Porém, esta forma de tratar o problema tende a ser mais problemática em pacientes com a Doença de Huntington, pois a doença causa mais danos ao cérebro. Além do mais, tratamentos com drogas podem ser mais baratos e fáceis de serem aplicados em grandes populações. Estudos adicionais ainda precisam verificar o quanto o transplante de células fetais é praticável como tratamento para a Doença de Huntington. Mesmo assim, esta pesquisa é mais um passo dado em direção à descoberta de uma cura para esta doença.

Referências e informações adicionais:

  1. Pechanski, M., et al., "Motor and cognitive improvements in patients with Huntington's disease after neural transplant," The Lancet, Vol. 356, December 9, 2000, pp. 1975-1979.
  2. Huntington's Disease - Hope through Research: from the National Institute of Neurological Disorders and Stroke
  3. History of Huntington's disease
  4. Huntington's disease resources
  5. Huntington's Disease Association of England
  6. Huntington's Disease Society of America
  7. Huntington Society of Canada
  8. Freeman, T.B., Cicchetti, F., et al., "Transplanted fetal striatum in Huntington's disease: Phenotypic development and lack of pathology," PNAS, Vol. 97, No. 25, December 5, 2000, pp. 13877-13882.

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