Cócegas no cérebro

Artigo original por Ellen Kuwana (site Neuroscience for Kids), tradução por Fernando Lage Bastos (NeuroKidsBr)

Artigo Original: 05-Dez-2000; Tradução: 14-Jan-2001

"Eu Vou te Fazer Cócegas!"

Se alguém ameaça que irá lhe fazer cócegas e vem em sua direção mexendo do dedos, muito provavelmente você vai começar à rir, antes mesmo que você ter sido tocado(a). Martin Ingvar e o seu time de pesquisadores do Instituto Karolinska de Estocolmo na Suécia, queria descobrir o que estava acontecendo no seu cérebro quando isto acontecia. Usando uma técnica de imagem chamada de Ressonância Magnética funcional (fMRI), eles compararam as imagens do funcionamento cerebral durante as cócegas e também durante a situação em que cócegas são antecipadas (como a descrita acima)

Eles descobriram que a situação de antecipação das cócegas ativava as mesmas área que as cócegas reais. As áreas que se mostraram mais ativas foram o córtex sensorial primário e secundário, indicando que o cérebro é capaz de prever que tipo de sensação irá surgir. Mas qual a vantagem disto? Através da previsão do resultados, o cérebro pode acelerar a reação à estímulos perigosos como objetos se aproximando rapidamente. Este tipo de reação também pode ser importante para evitar ou pegar objetos

Uma pergunta intrigante...

Você já imaginou porque não consegue fazer cócegas em si mesmo? Esta é a dúvida que foi pesquisada por Sarah-Jayne Blakemore, Daniel Wolpert e Chris Frith da University College de Londres, Inglaterra. Eles usaram o fMRI para observar o funcionamento do cérebro de pessoas enquanto estas tentava fazer cócegas em si mesmas e quando recebiam cócegas de outras pessoas na palma da mão.

Os resultados obtidos sugerem que você não pode fazer cócegas em si mesmo, pois o seu cérebro consegue prever as cócegas por causa da informações que ele já tem sobre a movimentação dos seus dedos. Certas áreas do cérebro, incluindo o córtex sensorial secundário e a parte anterior do córtex cingulado, ficam menos ativos quando você faz cócegas em si mesmo. As pessoas que participaram do experimento também disseram que elas estavam muito mais propensas à sentir cócegas quando outras pessoas faziam do que quando elas tentavam fazer cócegas em si mesmas. Outra parte do cérebro, o cerebelo, também reagiu de forma diferente dependendo de onde vinha o toque (de outra pessoa ou dela mesma). O cerebelo controla o equilíbrio e coordenação, por isto, ele pode estar envolvido na previsão de que efeito um movimento de uma marte do corpo vai ter em outras partes.

Por que esta pesquisa é importante?

Todas as vezes que os cientistas aprendem algo novo sobre como cérebro funciona em situações normais, novas informações são descobertas e podem nos ajudar à explicar o que acontece quando algo não funciona bem. No caso, as informações sobre como o cérebro diferencia toques feitos por si mesmo ou por pessoas diferentes podem nos ajudar a entender mais sobre os mistérios da esquizofrenia. Pessoas com esquizofrenia tem dificuldade em diferenciar estímulos externos de internos ou gerados pela própria pessoa. Como explicam o Dr. Firth e uma colega a Dra. Blakemore, há um problema na auto-percepção. Ela dá o exemplo de uma pessoa com esquizofrenia:

"Meus dedos pegam a caneta, mas eu não os controle. O que eles fazem não tem nada a ver comigo"


Pessoas com esquizofrenia frequentemente acreditam que estão sendo tocadas, mesmo que ninguém esteja tocando nelas. Algumas pessoas com esquizofrenia ouvem vozes (alucinações auditivas), mesmo quando não exista ninguém por perto.

Para dar mais suporte à teoria que algo não vai bem na auto-percepção nos esquizofrênicos, Frith e colaboradores compararam pacientes que tem sintomas de esquizofrenia com aqueles que não tem. Os pacientes sem sintomas eram muito mais susceptíveis à cócegas de outra pessoa que os pacientes com esquizofrenia (o que suporta os resultados encontrados na pesquisa acima). Aqueles que apresentavam alucinações auditivas e outros sintomas de esquizofrenia não reportavam nenhuma diferença em relação à susceptibilidade em relação às cócegas. Eles tinham o grau de susceptibilidade independentemente se as cócegas eram aplicadas por outras pessoas ou por elas mesmas!

Referências:

  1. Rostler, S., Tickling Your Fancy: How the Brain Responds to Touch, disponível em www.brain.com, 12 de stembro de 2000
  2. Netting, J., Brain: Tickling Your Fancy, Nature, August 30, 2000.
  3. Blakemore, S-J., Wolpert, D. and Frith, C., Why Can't You Tickle Yourself?, NeuroReport, 11:R11-16, 2000.
  4. Carlsson, K., Petrovic, P., Skar, S., Petersson, K.M. and Ingvar, M., Tickling Expectations: Neural Processing in Anticipation of a Sensory Stimulus, Journal of Cognitive Neuroscience, 12:691-703, 2000.

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