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ADELZITO - 1

Sandra Brissola

Era uma figura esbelta, esguia e sorrateira, que se insinuava elegantemente pelos ambientes freqüentados pelos exilados brasileiros no Chile. Havia sido um dos líderes do levante dos marinheiros, o que o enquadrava entre os que tinham saído do Brasil empurrados pelos primeiros tempos da ditadura militar em 1964. Pode-se dizer dele que foi mais uma vítima das circunstâncias que um opositor consciente da ideologia do regime militar.

Tudo nas suas atitudes traía essa presença quase casual no exílio, da qual buscava retirar o máximo proveito próprio, sem sentir muito o peso do constrangimento a que a história política o havia submetido. Em outras palavras, era um malandro!

Certa vez encontrou-se com um companheiro de infortúnio no centro da cidade de Santiago e lhe perguntou: - Aonde você vai?

O colega havia sido convidado para almoçar comigo, pois minha mãe estava me visitando no Pensionato onde eu morava, o que era um motivo para comemorar. Ele não teve dúvidas quando soube da novidade, e combinou com o amigo: - Vou fazer de conta que eu vou chegar de surpresa, sem saber de nada, aí aproveito para almoçar com vocês também.

Para disfarçar, o amigo chegou primeiro, sentou-se à mesa juntando-se a mim, minha mãe e três ou quatro colegas do Pensionato, e quando estávamos para começar a comer, Adelzido havia terminado sua volta no quarteirão e batia à porta.

Atendi com surpresa daquela coincidência, mas me apressei a convida-lo a sentar-se à mesa conosco e almoçar.

Ele nem pestanejou. Com um ar nobre foi logo declarando: - Ah, eu já almocei. E quando todos o olharam com ar surpreso e como eu insistisse, corrigiu-se no ato:

- É, mas vou aceitar. Afinal, um revolucionário come quando pode, não quando quer!

Depois de boas gargalhadas e de nos deliciarmos com a comida especial preparada para a ocasião, a tarde ainda foi abrilhantada por uns passos de tango de Adelzito, que cruzava de fora a fora o salão do Pensionato, olhando só para um lado e simulando os passos de um bailarino portenho. Como todo malandro, ele tinha sua simpatia!

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