CUENTOS

ADELZITO - 2

Sandra Brissola Se Santiago era sempre quente e seco no ver�o, o mesmo n�o ocorria com Vi�a Del Mar e Valpara�so, onde se localizavam as praias mais famosas que ficavam a pouca dist�ncia da Capital chilena.

Numa dessas visitas de meus pais a Santiago, fomos conhecer Vi�a Del Mar e nos encontramos por acaso com Adelzito, que nos recomendou um hotel car�ssimo, que obviamente estava fora de nossas posses, mas aparentemente n�o da acompanhante do marinheiro brasileiro. N�s nos hospedamos em um hotelzinho n�o longe da praia.

O tempo estava t�o ruim que tivemos que procurar, no com�rcio local, blusas de l� para nos abrigar do frio, al�m de guarda-chuvas que nos protegessem da chuva fininha que nos lembrava a garoa paulistana.

Com tal clima, as op��es de divers�o em uma cidade de praia ficam restritas aos bons restaurantes � dos quais Vi�a Del Mar est� bem servida � e o Cassino. Para a maioria de n�s, brasileiros, pouco acostumados com o jogo aberto, a visita ao Cassino termina resultando em uma volta tur�stica para conhecer a beleza do lugar, al�m de observar os tipos caracter�sticos desses ambientes, e em separar alguns trocados para tentar a sorte.

Foi o que fez minha fam�lia. Quase invariavelmente se sai rapidamente com menos do que se entra quando a estrat�gia � t�o simples assim, e foi o que ocorreu com n�s tr�s. Mas o passeio n�o se perdeu, pois um pouco antes de nossa retirada encontramo-nos com Adelzito!

- Ora vejam s�, - exclamei, vendo-o entrar decidido no Cassino. Foi logo me explicando: Estou-me preparando para uma viagem a uma cidade do Sul do Chile, aonde vou-me encontrar com uma namorada, e estou vendo se consigo uns trocados para n�o ter que ir de carona.

Passamos ent�o a acompanh�-lo e torcer por ele nas apostas que fazia nos n�meros da roleta. E Adelzito come�ou a ganhar. Parece que era o seu dia, pois ganhava tr�s de quatro apostas, em m�dia, at� que juntou uma boa bolada, que lhe permitia ir confortavelmente de �nibus ao Sul do Chile e ainda dar-se ao luxo de pagar o hotel e a estadia para si e para a namorada.

Foi quando ele come�ou a perder. Insistia, e perdia cada vez mais. A� minha fam�lia interferiu: Pare, Adelzito! O segredo do jogo � saber parar quando ainda se est� ganhando bastante. Se continuar, vai perder tudo e mais alguma coisa.

Um pouco na d�vida, ele decidiu ouvir o conselho dos mais velhos � meus pais. Saiu todo contente e foi arrumar as malas para uma viagem bem diferente da que havia programado.

Logo se via que ele n�o era viciado em jogo! Alguns anos mais tarde, a mesma cena se repetiu em Tucum�n, na Argentina, para onde eu havia me mudado para encontrar-me com um ex-namorado argentino, com quem vivi os vinte e cinco anos seguintes. Meus pais tamb�m foram me visitar e acompanharam os tios de meu companheiro ao Cassino da cidade. S� que a tia freq�entava o Cassino h� muitos anos, embora conseguisse manter o v�cio sob estreito controle daquilo permitido pelo or�amento destinado para o jogo, entre todos os gastos da casa. Mas dentro do Cassino era uma viciada, o que se via pelo brilho de seus olhos percorrendo a dan�a das fichas e das cartas.

Como ela come�ou a noite ganhando, foi apostando mais e mais, e em dado momento come�ou a perder. A� meus pais tamb�m intercederam, com os mesmos argumentos, e ela acabou concordando e voltando pra casa. L� chegando, quando lhe perguntaram como havia sido o resultado do jogo, ela desabafou:

- Pois �! Era meu dia de sorte, mas n�o me deixaram continuar jogando, e voltei apenas com um pouco de dinheiro no bolso! �

L�gica de jogador!

Meus pais ficaram sem jeito, ainda que se consolassem com a id�ia de que ela iria de fato perder tudo o que havia conseguido reunir at� ent�o!

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