O Futuro das Relações Internacionais

 

        Neste texto irei desenvolver o tema respectivo, baseando–me na apresentação de modelos e possibilidades que se deslumbram para o futuro da Ordem Internacional. È de referir que o debate entre neo-realismo e neo-liberalismo, e todas as correntes que derivam desse debate não serão desenvolvidas explicítamente. Apresentarei diferentes hipóteses de como poderá vir a ser a Ordem Internacional e de que forma vão ser pautadas as Relações Internacionais no futuro.

            Ao observarmos as relações internacionais no presente, duas conclusões facilmente retiramos:

            Essas relações são dominadas por um unilateralismo americano.

            Face à emergência de novos actores nas relações ( outrora exclusivamente ) internacionais, o debate de paradigmas neo-realista e neo-liberalista não consegue explicar nem abranger a variedade de problemas que encontramos na teoria contemporânea.

            Face às evidências, temos que admitir que os Estados Unidos da América são a única superpotência a nível militar e político, mas a verdade é que existem outros pólos de poder que podem contrariar essa tendência actual. Aliás, actualmente podemos afirmar que o regime mundial não pode ser classificado como unipolar, mas sim unimultipolar ou semi - unipolar 1 , pois a União Europeia e o poder crescente da Ásia  poderão a vir a enfrentar seriamente a única superpotência.

            Actualmente a UE já é o principal espaço económico e a primeira potência comercial mundial,  é também a principal fonte de ajuda pública ao desenvolvimento. Toda esta conjuntura  joga a favor da UE, mas a grande questão que se coloca e que já advém dos tempos da formação da respublica christiana passando pela procura do equilíbrio europeu com a paz de Vestefália, é se a Europa de uma vez por todas consegue ultrapassar apenas uma bem sucedida colecção de egoísmos nacionais 2, para o alcance do bem comunitário.

Caso essa situação seja ultrapassada, acompanhada pelo bom funcionamento das instituições comunitárias, a UE poderá de uma vez por todas tomar decisões coerentes e comuns no plano externo, nomeadamente assuntos relativos à segurança e conflitos internacionais, pois o que se verifica quando ocorrem situações de conflito a nível exterior é uma divisão da Organização consoante os mais variados interesses nacionais. Foi o que se registou no caso do ataque ao Afeganistão, ou a impotência demonstrada para intervir na Bósnia. Toda esta problemática resulta do facto de que a UE promove a paz, a segurança e a democracia através da inclusão.

A Reunificação será o próximo e mais imediato projecto europeu, será igualmente um duro teste à capacidade da Organização, pois trata-se da integração de Estados que ainda vivem na sombra de uma distante mas presente Guerra Fria, mas a necessidade de uma política de defesa e segurança comunitária apresenta–se como urgente face a recentes atentados terroristas na própria Europa.

O regionalismo impulsionado pela UE e seguido pela ASEAN e pelo MERCOSUL é uma componente bastante importante para o futuro da Ordem Internacional pautada pelo multipolarismo.

Não podemos deixar no esquecimento os recursos mais do que suficientes do continente asiático para se afirmar definitivamente no palco das relações internacionais. Este continente apresenta-se nos dias de hoje como uma superpotência das tecnologias de informação, quer a nível de recursos humanos quer a nível da relação preço-qualidade muito superior do que em qualquer outra região do globo. Juntando a tudo isto o poder populacional que, quer a Índia quer a China  possuem ,  podemos afirmar que a Ásia terá um papel importante no que toca ao multipolarismo e ao reforço do multilateralismo. Certos autores chegam mesmo a afirmar que o pólo central das relações internacionais no futuro será na Ásia e América do Norte, tornando a ainda actual visão europeísta do globo um fenómeno saudosista, não se enquadrando com o poder que essa região tem vindo a adquirir em anos recentes.

Tudo isto pressupõe também uma perda de força do actual Império de influências americano, que poderá ser alcançado pois os EUA para as suas intervenções coercivas no mundo, vão depender do acordo do Conselho de Segurança da ONU e também da própria NATO 3. Contrariamente ao objectivo imperial  de cariz romano, aparece-nos um Império de influências americano, possuindo meios e apoios para levar a bom porto muitas das suas políticas externas ambicionistas, mas a pax americana ao contrário da pax romana, apresenta-se sem capacidade e com meios pouco credíveis para exercer uma influência verdadeiramente eficaz. A este respeito veja-se a ambiguidade da política externa americana, ou seja, defendem a todo o custo a necessidade do reforço da justiça internacional para a universalização da justiça e direitos humanos e por sua vez existe uma atitude de rejeição perante o tratado que institui o TPI.

O que se verifica nos nossos dias é que a unilateralidade dos EUA apresenta-se sob a forma  de defesa dos interesses de todos os Estados defensores da paz e justiça. Nas próximas décadas ou se verifica uma definitiva afirmação do Império Americano gerando a unipolaridade desejada pelos americanos dando origem ao que se designa por Fim da História, consolidando a pax americana, ou então iremos assistir à emergência de pólos regionais que irão dar às relações internacionais  um carácter multillateral. Outra possibilidade, mas mais utópica, é a possibilidade destes pólos de poder convergirem para formarem uma comunidade planetária, sendo constituída com modelos comunitários à semelhança da UE, só que aplicados à escala global .

Como se sabe, o comunismo não era a causa de todos os males nem de todos os problemas internacionais, pois nos dias de hoje , apesar de haver uma superpotência, a verdade é que o unilateralismo e unipolarismo não são sinónimos de paz mundial ( que o diga o povo de África e do Médio Oriente ). O sistema internacional não é só por si auto-ajustável e por sua vez, a ONU, principal organismo para a manutenção da paz no Mundo, por falta de recursos e apoios não possui capacidade de actuar de forma verdadeiramente neutra sem antes estar dependente dos interesses nacionais.

Para o futuro das relações internacionais fundamentalmente duas máximas devem ser tidas em conta, ou seja, que a vida humana vale o mesmo em Nova Iorque, em Mogadiscio, em Ramallah ou Telavive e que o combate sério ao terrorismo transcende o campo da segurança, devem ser criadas condições para que a longo-prazo o flagelo do terrorismo desapareça, através da resolução de crises locais que facilitam a sua emergência. O combate à pobreza, à injustiça, à não-democracia e aos senhores da guerra deve ser tomado como primeiro objectivo e não o fomento de guerras entre civilizações, pois todas as guerras religiosas que ensaguentaram o mundo durante séculos nasceram da adesão cega de contrastes simplistas 4, não são guerras entre o Mundo Ocidental e o Mundo Árabe ou guerras entre o bem e o mal , nem a adjectivação de certas regiões do globo como pertencentes a um eixo do mal que vão resolver o terrorismo internacional e acabar com as mortes de inocentes.

Apesar do que já foi dito a nível das necessidades de segurança, do combate à pobreza, dos aspectos militares e económicos, outra problemática que está relacionada com todos estes problemas deve ser tida seriamente, a preservação do ambiente. Para existir civilização, para existir política, primeiramente tem que existir ecumene, e nos dias de hoje o que se verifica constantemente são atentados ao espaço que tem de ser partilhado por toda a humanidade.

Perante o Abismo Ambiental para onde caminhamos, terá que existir uma política racional e global séria, para a preservação do meio e para possibilitar uma desenvolvimento sustentável. Neste campo de actuação a comunidade internacional tem dado passos a trás, nomeadamente com a atitude surpreendente dos EUA, deitando para o lixo protocolo.

Que mais se poderá dizer?! Como diz o Professor Maltez, a Comunidade Internacional precisa urgentemente de mundiólogos.

     

Milton Nunes

 

 

1 cf. Samuel Huntington The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order

 

2 cf. Eduardo Lourenço O Mundo em Português nº16

 

3 cf. Hélio Jaguaribe Estratégia nº16 1º Semestre

 

4 cf. Umberto Eco O Mundo em Português nº 26  

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