Prólogo

 

 

Era uma grande sala branca. Sem sombras, tampouco qualquer fonte de luz visível, mas tudo estava iluminado de alguma maneira. Estava claro a ponto das linhas que marcavam aonde terminava o chão e começavam as paredes estarem invisíveis, era como se estivesse tudo negro (onde geralmente trombamos com as paredes se não conhecemos o ambiente), porém ao invés da ausência da luz, ela estava abundante, até demais. Apesar de ser uma sala com forma normal, de cubo, parecia ser infinita, não era possível ver quaisquer limites, para lado nenhum. Aliás, pareceria ser infinita se os olhos das quatro formas humanóides que estavam ali não fossem treinados o bastante para perceber o imperceptível (ou talvez apenas soubessem que salas infinitas não existiam), menos uma. Uma das formas estava olhando para todos os lados, maravilhado com aquele pedaço do universo que parecia ser um universo próprio, conseguia até imaginar algumas estrelas pululando por entre eles.

Essas quatro pessoas eram bem distintas do resto do ambiente branco, eram as únicas coisas que pareciam ter um início e um fim, apesar de parecerem estar flutuando na imensidão branca, de alguma maneira, a pressão de seus corpos sobre o chão invisível era perceptível.

Duas dessas pessoas pareciam nervosas, fitando as outras duas, sem nem ao menos perceber aquelas 24 presenças de certa forma divinas que as olhavam atentamente em algum ponto que não necessariamente poderia pertencer àquele mundo. O nervosismo aumentava a cada segundo, eles não sabiam quanto tempo ainda restavam, tinham parado a contagem do mesmo assim que haviam entrado naquele palácio de paredes espelhadas que parecia totalmente negro refletindo o solo da mesma cor que o sustentava. Uma das pessoas que estavam nervosas (aquela que havia se maravilhado com a sala) colocou a sua mão direita e clara em uma bainha que se encontrava do lado esquerdo de sua calça. A que estava do lado dele disse algo o reprovando e lágrimas começaram a descer de seus olhos, não, aquilo não poderia estar acontecendo de novo, devia haver algum jeito de enganar o destino, aliás, por um momento ela pensou no que aconteceria se o destino tivesse se preocupando em quebrar um ovo de pássaro e começar uma nova vida ou acabar com a vida de mais algum velho que já tivesse vivido o bastante, mas eles não, eles não haviam vivido bastante, nem eles e nem muitas das outras pessoas espalhadas sobre o universo que dependiam do que acontecesse naquela sala.

- Eu não estou preparado. Kariet. – Disse o jovem que manejava a espada.

Aquela palavra sem nenhum sentido aparente ecoou sobre os (quatro?) cantos da sala. A vigésima terceira divindade que observava tudo de algum lugar fez um estalo (que parecia um daqueles que fazemos com os dedos, mas era impossível dizer se aquilo tinha dedos) e proferiu outra palavra.

-Kariot.

As quatro pessoas naquela sala fecharam os olhos, não sabiam o que aconteceria. Se sentiriam dor. A sala foi envolta em escuridão e desapareceu, o jovem da espada (e provavelmente as outras pessoas ali) sentiram algo gélido, como se houvessem saído nus em algum dos pólos. Talvez fosse realmente algo gelado para anestesiar a dor, talvez aquilo fosse a dor. Os átomos daquelas pessoas começaram a se separar, a partir daquele momento ninguém sentiu mais nada. Haviam se tornado apenas estátuas, e, conforme o vento passava, iam se desfazendo, como se fossem apenas estátuas de sal. Apenas uma coisa permaneceu intacta. Aquela espada que parecia apenas uma espada qualquer, só com mais alguns adornos, algumas pedras na sua bainha e algo que parecia um dragão desenhado na lamina não se desfez. Ficou ali, aonde não havia nada. Nenhum sinal de toda aquela vida em todo o universo existia mais. Estava ali a espada flutuando em nada, presa em nada, nada. Nada além da espada, da escuridão, e de vinte e quatro presenças existia mais.

A presença de uma das extremas pontas (não havia direita ou esquerda para dizer em qual) fez outro movimento. O universo havia recomeçado.

Ora, tudo se mostrava ser sem forma e havia escuridão sobre a superfície da água e sobre sua profundeza. E então o ser da extrema ponta disse “Que venha a haver luz” e veio a haver luz. E ele viu que a luz era boa, e fez a separação entre luz e escuridão. Começou a chamar a luz de “Dia” e a escuridão de “Noite”. E veio a ser noitinha, e veio a ser manhã. Primeiro dia.

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