Reencontro

 

 

I

E já me acerco das antiga Minas Gerais...

E qual andante desterrado que retorna

ao lar amado, indevassável entre cristais,

meu peito exulta e de saudades se transtorna...

 

II

Qual viandante pelo tempo caminhando,

pelas estradas da lembrança percorrendo,

fui de repente noutra era me adentrando,

e a realidade foi então se esvanecendo!

 

III

E fui levado de roldão, em frenesi,

qual meteoro no espaço deslocado,

e qual demente que confuso chora e ri,

vi o passado no presente intercalado!

 

IV

Potente força me envolveu o pensamento,

me arremessando de repente noutra esfera,

e tive, então, o singular pressentimento,

de que voltava novamente a outra era!

 

V

Mas que estranha força me arrasta,

que imperiosa do mundo me afasta

em singular preocupação?

que haverá nesta igreja impressa,

que deixa em minh!alma opressa,

esta louca sensação?

 

VI

Não foi bem neste ambiente,

que contrito, em prece ardente,

um dia implorei perdão?

Não sinto acaso no peito

lembrança de um sonho desfeito,

que fustiga o coração?

 

VII

E toda esta obra doirada,

na fria madeira entalhada,

não brilhou em minha mão?

Terei porventura sonhado?

Ou quem sabe trago arraigado,

no meu peito esta impressão?

 

VIII

Mas que vejo nas imagens,

que flutuam qual miragens

povoando o pensamento?

Que poder maior me obriga,

a lembrar de tanta intriga

que me causa sofrimento?

 

IX

E estes túmulos! De quem serão?

Quais segredos abrigam na solidão

deste silêncio profundo e mágico?

Onde estás que não respondes?

Me diz, por Deus, a verdade que escondes,

neste ambiente tétrico e nostálgico...

 

X

Oh! Por quem és,

arranca de vez este revés

que sofro em turbilhão!

descerra o véu que tolda minha mente,

me deixe sentir toda a dor que de repente,

vem sangrar meu coração!

 

XI

E que autos serão estes? Por Deus!

acaso não os tenho por meus?

Sim.. Eu bem os conheço...

E esta singular emoção?

Nada mais que chagas no coração...

Eu as mereço? Porque as mereço?

XII

Mas quem  fui afinal? Quem sou na verdade?

Que segredo encerra esta saudade,.

que dentro da alma eu travo?

Terei sido um potentado?

Um nobre senhor respeitado?

Ou, quem sabe, um vil escravo!

 

XIII

Já terei, porventura, vivido,

num tempo atrás, esquecido,

e que teima em regressar?

Não teria nesta terra,

onde a saudade me aterra,

já posto meu pranto a rolar?

 

XIV

Mas que tétrica visão!

Que fantásticas figuras! Quem serão?

Oh! Deus! Serão fantasmas?

Sim! São os espectros da dor,

que da morte trazendo o palor,

exalam fétidos miasmas!

 

XV

Mas há outros! Que oram! Sorriem! Quem serão?

A quem resguardam em prece de mansidão,

e que toca minha!alma opressa?

Quem dorme o sono dos justos,

guardado em troncos vetustos,

por quatro Leões de Essa?

 

XVI

Porventura não os conheço bem?

Ah! Por quem sois, detém

esta força incomensurável

que me obriga a relembrar

as coisas que quero apagar

desta terra memorável!

 

XVII

Ah! Terra amada! Amada terra!

Eu não desvendo o segredo que encerra

tanta dor, tanta saudade!

Ah! Virgem Santa! Virgem Santa do Pilar!

Íeis-me aqui, tal como outrora, novamente a te implorar:

-Perdão Senhora, ao mais vil da Irmandade!

 

 

Nelson de Medeiros Teixeira


 

 

 

                       

 

 

 



 

 

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