Partamos, criança,
fugindo,
das dores do mundo
sorrindo,
buscando um novo
avatar!
Tal qual ciganos
errantes
viveremos só de
instantes,
no universo do
sonho a sonhar!
Hei de dar-te
nesta terra,
toda a ventura que
encerra,
uma vida prenhe de
amor!
Por sobre a colina
serena,
erguerei teu
ninho, morena,
e a ele encherás
de calor!
Será a morada
infinita,
onde o vento que
se agita,
jamais cessará seu
soprar!
Sob o céu verde da
mata,
que toda a candura
retrata,
muito haveremos de
amar!
Pela manhã
orvalhada,
hei de velar-te
inclinada,
colada ao meu
coração!
Cantarei versos
suaves,
num trinar de
raras aves,
em prece de
gratidão!
À noite juntos no
leito,
com a fronte no
meu peito,
ouvirás os versos
meus!
E por cada estrofe
cantada,
desta boca
perfumada,
vou querer cem
beijos teus!
Viveremos linda
festa,
com a orquestra da
floresta,
eternamente a
cantar!
Andaremos de mãos
dadas,
com as almas
irmanadas,
que a todos farão
invejar!
Partamos, criança,
fugindo,
das dores do mundo
sorrindo,
e ninguém nos há
de achar!
Tal qual ciganos
errantes,
viveremos só de
instantes,
que o tempo é de
se amar!
II
Partiste criança,
correndo,
da dor do meu
peito fazendo,
a escolha dos
sonhos teus...
Não ouviste a
Mãe-da-Mata,
preferiste ser
ingrata,
e não viste os
prantos meus...
Não quiseste minha
terra,
nem pensaste que
ela encerra
o teu tesouro de
amor...
Não andaste na
colina,
preferiste rua
fina,
calçadas com a
minha dor...
Trocaste a manhã
orvalhada,
minha noite
enluarada,
pelo fulgor do teu
sol...
Os meus cantos, os
meus versos,
trocaste por
sonhos dispersos,
colorindo o teu
arrebol...
Não quiseste minha
festa,
não ouviste na
floresta,
as dores do meu
cantar...
Tua sorte foi
marcada,
e hás de
seguir na estrada
sendo amada, sem
amar...
Partiste, criança,
correndo,
da dor do meu
peito fazendo,
a escolha dos
sonhos teus...
Não ouviste a
Mãe-da Mata,
preferiste ser
ingrata,
não te importam os
prantos meus!
Nelson de Medeiros
Teixeira
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