Procedimento para a construção da casa popular

 

Neste capítulo trataremos de uma aplicação do solo-cimento, abordaremos de forma geral e bem prática os aspectos construtivos e executivos para construção de casas populares.

Na construção de casas populares, o que se procura é uma racionalização do projeto e das etapas construtivas, procurando utilizar materiais de ocorrência da região e uma economia de custos.

Como em qualquer outra construção essas casas possuem vantagens e desvantagens. Baixo custo, bom isolamento térmico, boa aparência, são itens favoráveis para construção, porém, teremos problemas com a umidade, trincas decorrentes da contração do material, falta de credibilidade da população, financiamentos para construção, etc.

É importante ressaltar que para a construção dessas casas é necessário um kit mínimo, constituído de formas, ferramentas, etc.. Para a execução de apenas uma casa o custo desse kit torna-se anti-econômico. Para viabilizar este procedimento deve-se fazer pelo menos um lote de casas para poder amortizar os custos e viabilizar os procedimentos.

Começaremos a desenvolver o assunto nos preocupando com o nivelamento do terreno. Para a construção da casa em terrenos com declive, temos duas alternativas: aterro ou corte do terreno. A execução de cortes trás mais benefícios, tanto pela facilidade de execução como pelo volume de terra resultante que pode ser aproveitada na construção. Depois da terraplenagem é necessário com auxílio de cavaletes, um gabarito ou uma tabeira, marcar a posição da casa no terreno. Esta etapa é importante porque garantirá a construção das paredes na posição correta.

A fundação vai depender do tipo de solo do terreno. Uma sondagem permite saber qual é a fundação mais indicada. Se o terreno onde for feita construção estiver firme, poderá ser feita uma vala e fazer um baldrame diretamente sobre o fundo dela, isto é, uma sapata corrida. Se não for encontrado um terreno firme até aproximadamente 60 cm de profundidade, será preciso apoiar o baldrame sobre brocas (estacas). Outra solução é fazer um radier, a vantagem é que ele já funciona como contrapiso e calçada.

Um sério problema com as construções feitas de solo-cimento é quanto as infiltrações, devido ao fenômeno de capilaridade, a água proveniente do solo sobe a partir das fundações atingindo em alguns casos até 50 cm de altura nas paredes. Para evitar esse problema, deve-se fazer uma camada impermeabilizante sobre as fundações. Essa camada pode ser desde a aplicação de algum impermeabilizante, como asfalto ou Vedacit, ou até a construção de uma camada de concreto.

Mesmo com essas alternativas deve-se fazer um passeio em volta da casa, junto ao pé das paredes de forma a impedir que a água que caia do telhado não cause danos.

Já foram realizadas algumas tentativas para se adicionar ao solo cimento algum aditivo impermeabilizante como óleos. Essas tentativas não obtiveram o resultado esperado e portanto foram deixadas de lado (alguns dados sobre os resultados estão demonstrados no item características e dosagens deste trabalho).

O solo para preparação da mistura a ser empregado na construção deve estar uniforme e seco, isento de torrões.

A umidade que deve ter a mistura é em função do solo que se utiliza. De acordo com cada tipo de solo, a umidade deve ser específica para que a compactação seja ótima e se obtenha melhores rendimentos. Esse ponto de umidade ótima é obtido a partir de ensaios em laboratórios, chamado Teste Proctor.

A granulometria é fator sensível a uma erosão superficial. Solos com torrões, que não são desagregados durante a mistura com cimento, prejudicam na resistência da parede.

 Outro fator a ser considerado no material de solo- cimento é a compactação dentro das formas. O ponto onde deve-se parar a compactação, é quando o soquete não deixa mais marcas sobre a superfície compactada. Para se fazer a compactação, as camadas de terra colocadas dentro da forma não devem ser superiores a 20 cm, sendo o ideal 15 cm.

O soquete de compactação também deve seguir alguns padrões. Experiências realizadas pelo CEPED demonstraram que os soquetes devem ter peso entre 2,5 a 3 Kg. Estes apresentaram bons resultados de compactação e causaram menos danos as formas.

As paredes moldadas no local apresentam características que dispensam normalmente qualquer estruturação.

O dimensionamento dessas paredes está ligado diretamente aos esforços que irão atuar e a estabilidade. Investigações realizadas na Universidade de Ilinois, na Portland Cement Association e no Bureau of Standards, mostram que as paredes monolíticas tem desempenho muito superior as paredes de tijolos. Este fato apenas ressalta as vantagens de monolitismo nessas paredes em relação ao sistema de juntas em uma alvenaria convencional.

Para se determinar a largura ideal de uma parede, o CEPED, realizou uma série de ensaios e concluiu que para uma mistura com aproximadamente 6% de cimento e pé direito até 2,80 metros a espessura poderá ser de 12 cm, atendendo as condições de resistência e estabilidade.

Com relação ao isolamento térmico, uma parede de solo-cimeto apresenta as mesmas características que paredes de alvenaria convencional.

Material

Coef. de condutibilidade térmica (k)

Concreto

2,50 x 10-3

Tijolos

1,65 x 10-3 a 2,40 x 10-3

Solo-cimento compactado

1,83 x 10-3

Adobe

3,70 x 10-3

Solo-compactado

2,89 x 10-3

Bitudobe

3,60 x 10-3

Argamassa 1:4

1,80 x 10-3

No sistema construtivo sugerido, como já foi explicado, as formas deslizariam sobre guias a medida que o muro fosse preenchido. Essas guias poderiam ser de madeiras, concreto, pilares de tijolos, tubos de

fibro-cimento cheios de concreto, etc.. Cada um destes materiais possuem determinadas características, que deverão ser analisadas e comparadas,

também deve-se levar em consideração os meios de obtenção das guias,

considerando-se que materiais industrializados possuem um maior encarecimento de custos. O mais recomendado é usar as próprias paredes adjacentes como guia, diminuindo os custos. Esse último tipo de construção deve ser realizado obedecendo a uma seqüência devido ao problemas de retração.

Depois das paredes concluídas as guias serviriam como pilares para a casa. Essas "guias-pilares" devem ter características próprias, que façam com que as paredes fiquem bem amarradas e verticalizadas.

Com relação as formas, estas devem apresentar dimensões que atendam as exigências de cada obra. As formas podem ser

feitas de compensados, porém estas tem uma pequena vida útil. Para um melhor reaproveitamento das formas podem ser de aço.

O solo-cimento apresenta o fenômeno de retração até a sua estabilização, aparecendo fissuras verticais com maior freqüência a medida que o solo for mais argiloso. Para diminuir esse efeito é conveniente criar juntas de retração e fazer a execução das paredes em uma seqüência que permita a retração das paredes sem a formação de trincas ou fissuras.

A cura do material também deve seguir normas para garantir a qualidade prevista na dosagem. É recomendado que a parede sejam umedecidas de 2 a 4 vezes por dia no prazo de 15 dias após a execução da mesma.

O acabamento final da parede é determinado pela qualidade da forma, tipo de cura e granulometria do material. Pode-se ainda fazer uma pintura na parede, que a impermeabilize e proteja. De acordo com

experiências já realizadas, a pintura não pode ser feita com tintas de qualquer qualidade, que mostraram-se ineficientes na aplicação nos muros; recomenda-se que as paredes de solo-cimento tenham no mínimo 24 dias de idade ao se aplicar a primeira demão de tinta, tendo em vista uma uniformização da umidade.

As formas que apresentam os melhores resultados de acabamento são as de aço, que fazem com as paredes fiquem perfeitamente lisas. A limpeza e lubrificação dessas superfícies em contato com o solo-cimento são também de fundamental importância. Formas com imperfeições, sujas ou mau lubrificadas, provocam a aderência do solo compactado, onerando a obra com custos de reconstituição.

Uma dificuldade que irá aparecer na construção das casas, é com relação aos vãos de portas e janelas. Dentre algumas alternativas para contornar o problema, é não construir as paredes onde existirem esses vãos, este seria preenchido com blocos de solo-cimento moldados no próprio local e as instalações de portas e janelas seguiriam procedimentos usuais. Outra maneira é adaptar as formas para compactar o solo junto com as esquadrias das janelas e portas. Uma laje de cobertura aumenta o valor, o conforto e a segurança da casa, porém por se tratar de uma casa que deve ser feita com os menores recursos possíveis, poderia ser dispensada.

Quanto ao cobrimento da casa, deve-se previamente fazer as empenas (oitões), sobre as paredes que devem ser construídas até a altura do telhado. O caimento do telhado depende do tipo de telha que será empregado. Uma boa solução para a estrutura dos telhados é utilizar telhas de fibrocimento, pois usam menos madeiras e a montagem é mais rápida.

Antes de fazer o piso, deve-se colocar os tubos de esgoto do banheiro e da cozinha, com as esperas para os ralos e nivelar bem o chão da casa com um soquete. O material usado no piso poderá ser o próprio solo-cimento empregado no muro. Tem-se deste modo uma superfície durável e resistente

A instalação elétrica poderia ser feita de conduites externos presos as paredes, seguindo os procedimentos usuais.

Na escolha dos materiais a serem utilizados durante toda a construção, deve-se fazer um boa análise para que o barato não saia caro, preferindo materiais de qualidade comprovada e dentro das normas brasileiras.

neidyr cury neto - fefaap

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