Passarela De Rua
Aquelas roupas extravagantes usadas nos desfiles são as
mesmas que vão para as vitrines. A diferença é que, quando
apresentadas ao público, as peças recebem acessórios diferentes, que
dão o tom conceitual do estilista
Moda de passarela é uma coisa, moda de rua é outra.
Isso
já foi verdade. As últimas coleções das marcas mais famosas têm sido
muito mais comerciais devido à crise do mercado. Com isso,
estilistas chegaram à conclusão que vender é melhor que criar
modelitos que são um show à parte e arrancam suspiros na passarela,
mas que dificilmente seriam aproveitados nas ruas.
As coleções
apresentadas durante os desfiles de Verão 2001 da São Paulo Fashion
Week estiveram mais comerciais que nunca. Praticamente todas as
peças foram usadas sem medo. Nas temporadas passadas, o conceitual
tomava conta das passarelas, inviabilizando a comercialização das
roupas, que, na maioria dos casos, não eram feitas para serem usadas
no dia-a-dia. Pelo visto, as coisas mudaram e vender passou a ser a
palavra-chave das últimas coleções. Esse fenômeno de roupas usáveis
nas passarelas não é só no Brasil.
Os desfiles do eixo Nova York,
Londres, Milão e Paris também entraram no esquema e estão
apresentando roupas mais usáveis. As peças extravagantes,
praticamente impossíveis de usar e comprar, passaram a se basear na
moda de rua que é prática e, acima de tudo, confortável. A
consultora de moda Janaína Megda acredita que não é só a moda de
passarela que está sendo usada na rua, mas o contrário também. ‘‘Os
grandes estilistas estão se inspirando na rua para criar suas
coleções’’, afirma. Segundo Janaína, o fenômeno ocorre porque as
pessoas perceberam que a moda não pode ser tão descartável. ‘‘Os
estilistas chegaram à conclusão de que precisavam apresentar roupas
mais acessíveis e menos efêmeras’’, conclui.
A alta-costura é hoje o
único segmento da moda que ainda ousa mais ao apresentar as roupas
exclusivas na passarela. Como são peças mais caras, para ter acesso
a elas, é preciso muito dinheiro. Estima-se que hoje os compradores
de alta-costura são apenas 500 (nos anos 80 eram dois mil). Os
estilistas que apresentam suas coleções durante a Semana de
Alta-Costura de Paris ainda podem fazer espetáculos com suas roupas
exuberantes e praticamente impossíveis de usar no cotidiano. . Viram peças colecionáveis, como
obras de arte. Lembra do sutiã pontudo desenhado por Gaultier que
virou moda quando Madonna resolveu incorporá-lo em seus shows e
clipes? Era uma moda pouco usável que acabou virando coqueluche
justamente porque a popstar adotou como peça de seu guarda-roupa. Aí
surgiram as cópias e o sutiã virou moda de rua entre adolescentes e
fãs da cantora. O que precisamos entender é que apesar de virmos
coisas mirabolantes nas passarelas, a roupa mesmo acaba sendo
básica. O que chama a atenção e faz a diferença são os acessórios e
adereços usados na hora de montar a produção do desfile. Perucas,
chapéus, bijuterias, plumas e outros são usados para dar um toque de
espetáculo à passarela. Muitas vezes a própria passarela é iluminada
de forma diferente, ou enfeitada com árvores, folhas ou tapetes. Mas
as roupas em si são completamente usáveis. Pode reparar: muito
jeans, prático e barato, camisetas, regatas, camisas e vestidos, que
na hora que são apresentados na passarela são enfeitados para causar
um impacto.
‘‘É preciso filtrar o que se vê na passarela e adequar
ao seu cotidiano’’, .‘‘Nem tudo o que aparece na passarela é feito para
efetivamente usar’’, ‘‘Muitas vezes, uma imagem é reforçada ou tratada de modo mais
extravagante ou incomum para que idéias sejam mais explicitadas, ou
mesmo para produzir uma boa imagem para foto’’