Pesquisa em Bento Rodrigues - 22/09/2001
Houve uma predominância do sexo feminino na pesquisa, provavelmente pelo fato dela ter sido domiciliar. |
Na distribuição por faixas de idade, percebe-se um equilíbrio, apesar do aspecto aleatório da pesquisa. |
Quanto ao grau de instrução apurado, fica evidente a predominância da baixa escolaridade, chegando a 91% os que tem até o primário completo. |
Na distribuição dos níveis de ocupação, surpreende o alto percentual para os aposentados (25,5%), só inferior para os assalariados (31,1%). Esse perfil contrasta fortemente com aquele verificado para os que saíram de Bento. Conclue-se que sair de Bento atrás de emprego é uma alternativa procurada por jovens com instrução baixa, mas acima da média dos moradores de Bento. |
O alto índice de baixa renda familiar (89% recebem até 3 salários mínimos), infelizmente, não surpreende, já que é quase o mesmo número dos que têm uma baixa escolaridade. Fica, assim, mais uma vez demonstrado que para se ter uma renda melhor, investir na instrução é o caminho mais consistente. |
Nesse gráfico, fica constatado o número elevado de moradores por domicílio em Bento Rodrigues, com 57% tendo pelo menos quatro moradores. Uma família grande tem sido, historicamente, relacionada com baixa renda. |
Aqui pode ser percebido que o índice de migração em Bento Rodrigues não chega a ser dos mais elevados, pois 61% afirmaram que ninguém saiu, e pôde ser visto que predomina em Bento famílias com muitos moradores. Uma explicação para o baixo índice pode ser a baixa escolarização somada à baixa renda, que resulta em falta de perspectivas. |
Entre os cerca de 39% que responderam que houve migração, o motivo predominate é a motivada por emprego, mas o casamento também teve um alto índice. De qualquer maneira, são duas razões ligadas a busca de novas perspectivas. Destaque-se que apenas 3% deixaram o distrito para estudar. Vale dizer que há uma consolidação da baixa instrução como algo que já parece "natural" para essa população. |
O lugar que mais acolheu os migrantes é a sede do município, Mariana, seguindo Belo Horizonte e demais distritos do município de Mariana. Mais uma vez fica evidente a falta de perspectivas, pois ocorreu uma migração de forte conteúdo local, o que torna possível a retomada de contatos e de ajuda. Destaque-se ainda que a maioria procura maiores centros. |
Quanto aos maiores problemas de Mariana, os mais indicados foram o desemprego, a saúde e a violência. Foi alto o índice de não respostas ("não sabe" e "não respondeu"). |
Aqui ocorreu um fenômeno bem peculiar. O desemprego foi muito mais percebido em Bento Rodrigues que em Mariana, com um índice expressivo de 38,8%. Aqui pode estar uma das razões para a migração elevada para Mariana, que tende a ser vista como uma terra de oportunidades. Saúde e água foram os mais citados, em seguida. Note-se que NS e NR despencam. Apesar de muitos migrarem para a sede do município, vista como alternativa para o desemprego, conhece-se pouco Mariana. |
A avaliação do prefeito do município foi positiva, com 49% entre "bom"e"ótimo". Esse índice está bem próximo da última pesquisa feita pelo NEASPOC - UFOP em junho deste ano, em todo o município de Mariana. |
O ensino praticado em Bento Rodrigues mereceu uma excelente avaliação, com cerca de 67% avaliando entre "bom"e "ótimo". Porém, não deve ser esquecido que cerca de 91% dos respondentes tem até o primário completo. |
Quando perguntada sobre como melhorar o ensino, cerca de 25% não soube indicar como ou não respondeu (soma dos índices "não soube" e "não respondeu"). Predominou, nos que quiseram opinar, o pedido de 2º grau nas escolas, de professores mais qualificados, de maior organização e de mais professores. |
O atendimento da saúde em Bento Rodrigues é reprovado, segundo sua população. Cerca de 71% o vê como péssimo ou ruim, sendo que ninguém avaliou o atendimento como "ótimo". Há muito a ser feito nessa área. |
Quando perguntada sobre como melhorar o atendimento, a população salientou a necessidade de "mais médicos" (com 33,3%), "melhor atendimento" (25,6%) e isso diz respeito a treinamento de pessoal. É interessante constatar que o índice de não resposta ("não soube" mais "não respondeu") foi baixo (8,9%). |
A população está avaliando negativamente a situação da economia de Bento Rodrigues, chegando a 57% o total entre "ruim" e "péssimo". Apenas 16% tem uma avaliação positiva. Uma avaliação negativa estimula a busca de soluções fora da região. |
Nesta questão, a população reforçou o problema do desemprego em Bento Rodrigues. Cerca de 51% indicaram "mais empregos" como a solução para a melhoria da economia. Mais uma vez os índices de NS e NR são altos. |
Para avaliar o índice de confiança da população sobre a economia de Bento Rodrigues ela foi estimulada a responder sobre como achava que a situação de Bento iria evoluir. Percebe-se que 40% avaliam que vai melhorar, contra 60% que acreditam ou que vai ficar como está ou que vai piorar. Há muito a ser trabalhado nesse campo em Bento. |
O sentimento de isolamento da população de Bento Rodrigues, frente à municipalidade, ficou bem comprovado aqui. Assim, 88% acham que a Prefeitura Municipal de Mariana investe ou pouco ou nada em Bento, sendo que apenas 12% acreditam que ela investe alguma coisa, ou muito. Esse sentimento de isolamento é péssimo para a auto-estima. |
Em compensação à situaçao da Prefeitura, a população avalia que a Samarco investe muito (50%), que somada à opção "nem muito, nem pouco", chega a 79%. Assim, sobram 21% que acham que ela investe ou pouco ou nada. Pelo que se pode depreender desses dados, um trabalho de investimento na autoestima passa pela Samarco. |
Poucos possuem um negócio próprio em Bento Rodrigues. Não surpreende esse número, pois já são conhecidos os números da avaliação da economia de Bento pela população, bem como referentes ao índice de confiança. Como investir em algo que possui tão baixa estima? |
Entre os que responderam que tinham negócio próprio, cerca de 60% se dedicavam ao comércio, 30% à apicultura e 10% à microempresa. Há o predomínio de atividades ligadas ao setor de serviços. |
Perguntada sobre como poderia melhorar seu negócio, a parcela da população que respondeu que tinha negócio viu na criação de empregos (30%) sua principal opção de melhoria. O fato de se concentrarem na prestação de serviços tende a olhar o restante da população como mercado de consumo e, quanto mais assalariado for esse mercado, mais consumo ocorrerá. Foi alto o índice de não resposta (30%). |
Apenas 3% da população já teve experiências de negócios que hoje deixaram de existir. Mais uma evidência do baixo grau de procurarem investir nos seus próprios recursos. |
Entre os poucos que afirmaram já ter tido algum negócio, a razão para o encerramento do mesmo foi a "falta de lucro" (67%) e o "desinteresse" percebido quanto ao negócio. |
Há uma vontade reprimida da população de Bento Rodrigues para investir em seus próprios recursos, pois 70% afirmou que desejaria ter um negócio próprio. Esse alto índice é importante e indica um caminho para se investir na auto-estima da população. |
Nas alternativas apontadas pela população sobre que negócio gostaria de ter, o comércio foi o mais indicado (24,4%), seguido de "qualquer um de renda fixa" (7,8%), bordar (4,4%) mecânico (3,3%) e agricultura (3,3%). Aparentemente, há uma pequena informação da população sobre oportunidades de negócio, o que poderia ser resolvido com palestras e cursos voltados para um público de baixo nível instrucional. |
Entre as razões apontadas para a não realização de um negócio, predominou a percepção de isolamento ("falta de verbas", com 77%, mais a "falta de apoio", com 9%). Novamente, com a percepção de uma maior presença institucional investindo em Bento, é bem provável que aumente o índice de negócios na região. |
A população de Bento está dividida quanto a questão do índice de satisfação com sua ocupação. A maioria (55%) está satisfeita, mas 45% ou não estão ou estão pouco satisfeitos com a sua atual ocupação. |
Aqui ocorreu um interessante fenômeno, que vai ser chamado de busca de formalização. Cerca de 12% da população respondeu que gostaria de ter uma ocupação "com carteira assinada". Essa foi a alternativa mais indicada, só perdendo para o índice de não resposta. O artesanato foi muito indicado, com um índice de 6,7%. |
Quando perguntada sobre o que facilita ter uma boa ocupação, a população de baixa instrução indica a superação de sua carência como a principal alternativa. Cerca de 54% viram no "estudo" a solução do problema, índice animador. |
Para a população, a falta de estudos e de oportunidades são as causas mais apontadas para as dificuldades em se obter uma boa ocupação. De novo, a educação é entendida como peça chave para a solução do problema. |
A maioria da população prefere ganhar salário a trabalhar por conta própria, mas 20% não se importam muito com isso. A incerteza sobre a economia gera um sentimento de desesperança com o negócio próprio frente a segurança da obtenção de um salário. |
Um dado interessante na pesquisa é que cerca de 69% da população declarou que faria um curso para aprender uma nova ocupação. Há aceitação, portanto, para um investimento na área de ensino de novas ocupações em Bento Rodrigues. |
Perguntada sobre que curso faria, a população mostrou uma forte tendência para ocupações tradicionalmente relacionadas com o gênero feminino, como "corte e costura", "bordado" e "culinária". Provavelmente, isso se deve ao fato da maioria dos respondentes ser do sexo feminino. Outra informação importante é que cerca de 7% viram na informática uma alternativa. |
Segundo a maioria da população, em torno de 70% acreditam que haveria na sua casa interesse em fazer um curso para uma nova ocupação. |
A respeito de que curso haveria interesse nos outros moradores da casa, a maioria acha que o artesanato seria o mais procurado, seguido de informática, corte e costura e magistério. |
Perguntada diretamente sobre a atividade do artesanato, cerca de 83% afirmou que nunca trabalhou, enquanto 11% afirmou que trabalha, enquanto 6% deixou de trabalhar. Há muito espaço em Bento Rodrigues para se trabalhar a idéia do artesanato. |
Entre os que responderam que trabalham com artesanato, o bordado foi a única opção apontada. Pode haver em Bento Rodrigues uma certa especialização no trabalho de bordado e seria interessante investigar mais isso. |
Entre as dificuldades enfrentadas no artesanato, a falta de material, entre os que trabalham ou já trabalharam, foi a mais indicada. Foi apontada também a dificuldade em vender a produção. Houve, assim, um precisa avaliação da população que trabalha com artesanato sobre suas dificuldades e caminhos foram indicados. |
Perguntada se considerava a renda familiar suficiente, a maioria (58%) avaliou que não, enquanto 42% acham suficiente para as suas necessidades. Logo, há uma predominância do sentimento de insatisfação com a situação econômica não apenas familiar, mas de todo o povoado de Bento Rodrigues. |
Para a população, o emprego é a principal alternativa para melhorar a renda (37,7%). Somado isso com a alternativa "melhorar o salário" (5,5%), tem-se que cerca de 43% da população vê no salário a alternativa mais indicada. As demais alternativas não estão associadas a atividades empreendedoras, fato explicável pela baixa estima da população. |
A grande maioria da população (78%) afirmou não participar de nenhuma associação ou órgão comunitário. Tal fato não surpreende, seja pelas características mais gerais da sociedade brasileira, seja pelas características particulares de Bento Rodrigues, já percebidas pela pesquisa, como a baixa estima, o pessimismo a respeito da economia local e o senso mais oportunista da busca de emprego como solução. |
Entre os que afirmaram participar de alguma associação ou órgão, a maioria está em associações de bairros (45%), seguida de movimentos ligados à Igreja (20%) e reuniões com a Samarco (15%), que foram vistas como formas de participação. |
Entre as razões apontadas pelos que não participam de associações ou órgãos comunitários, 41% afirmou não ter tempo, enquanto 37% afirmou não gostar, seguido de 14% que afirmou ter dificuldades para participar. Os motivos principais apontados revelam que muito pode ser feito no campo da mobilização para convencer a população dos benefícios do associativismo, principalmente no que se refere à defesa e promoção dos interesses da comunidade. |
As atividades referentes a esporte, lazer ou cultura foram as mais apontadas como motivadoras para participar de associações (32%), seguido de atividade médica (11%) e atividade política (11%). Cerca de 46% apontaram outras razões. |
Quem respondeu que participa, afirmou que o faz pelo menos quatro vezes no decorrer do ano (82%), índice bem elevado frente as características brasileiras. Essa parcela está bem mobilizada nas suas atividades comunitárias. |
Entre as características consideradas importantes para o trabalho, uma boa renda (33%), seguido do "asseio" (32%) e da perspectiva de progredir na vida (17%) foram as mais destacadas pela população. |
Nas atividades que tomou parte no ano passado, cerca de 37% da população afirmou ter participado de reuniões de grupos locais (21%), de trabalho comunitário (9%) e de ter participado de listas ou abaixo assinados. Mas 63% afirmou não ter participado de nenhuma dessas atividades. |
Na questão sobre quem procura para defender os seus interesses, predominou a procura por políticos (20%), seguido de igrejas e demais cultos (16%) e associações locais (12%). Foi grande a resposta em nenhum deles (38,3%), indicando que uma parcela significativa de população busca essa defesa por outros caminhos, isoladamente. |
Entre as principais fontes de informação para definir o voto, a população afirmou que os amigos ou parentes são os mais influentes (16,2%), seguido de televisão (10,8%), rádio (5,4%) e jornais ou revistas (2,7%). Mas 13,5% indicou que nenhum deles influencia. De qualquer modo, prevalece os contatos pessoais na definição do voto, indicando a importância das lideranças locais, bem como dos chefes de família. |
Quem são as principais lideranças em Bento |
Freqüência |
Percentual |
Zezinho |
20 |
19,8 |
Filomeno |
19 |
18,8 |
Serginho Sobreiro |
5 |
5,0 |
Roberto Cota |
1 |
1,0 |
Olívio Fonseca |
2 |
2,0 |
Maria Lúcia |
1 |
1,0 |
Marinalda |
1 |
1,0 |
Prefeito |
3 |
3,0 |
Elza |
1 |
1,0 |
Antônio Alves |
1 |
1,0 |
José Sobreira |
1 |
1,0 |
Neco |
1 |
1,0 |
João Ramos |
1 |
1,0 |
Vários |
4 |
4,0 |
Outros |
3 |
3,0 |
Ninguém |
13 |
12,9 |
Samarco |
2 |
2,0 |
NS |
17 |
16,8 |
NR |
5 |
5,0 |
Total |
101 |
100,0 |
Nas lideranças indicadas pela população, o Zezinho obteve 19,8% das indicações, seguido de Filomeno, com 18,8%. Depois, vem Serginho Sobreiro, com 5%, sendo que os demais tiveram índices pouco expressivos. |
Quem são as principais lideranças em Mariana |
Freqüência |
Percentual |
Prefeito |
39 |
41,9 |
João Ramos |
8 |
8,6 |
Ninguém |
3 |
3,2 |
Bené |
3 |
3,2 |
Raimundo Horta |
1 |
1,1 |
Vereadores |
2 |
2,2 |
Muitos |
1 |
1,1 |
Outros |
1 |
1,1 |
NS |
26 |
28,0 |
NR |
9 |
9,7 |
Total |
93 |
100,0 |
No caso da indicação das lideranças de Mariana, o prefeito obteve 41,9%, seguido do João ramos, com 8,6%. Os demais tiveram indicação pouco expressiva. |
Na questão refernte a comprar fora de Bento Rodrigues, cerca de 89% afirmou que compra fora, sendo apenas 11% os que não saem de Bento para isso. Este é um dado importante para ser pensado em como induzir um maior desenvolvimento no povoado. |
Mariana é o local mais visado para as compras "externas", com 95% das indicações. |
Na questão da religião, cerca de 81% dos respondentes afirmou ser da católica, com 16% evangélicos (entre pentecostais e tradicionais), sobrando 3% dos que não tem religião. |
No tocante a como reconhece a cor de sua pele, 41% indicou ser pardo, seguido de 27% que se identificou como branco, 25% como preto, 4% como índio e 3% como amarelo. Há o predomínio, portanto, dos que se acham pardos na população. |
Aqui, 99% afirmou não possuir telefone fixo, índice que se faz importante uma vez que ele é muito inferior ao da média do município e muito mais baixo que o da sede. Esse dado incrementa, por certo, o sentimento de isolamento da população. |
Este dado é bem interessante, pois demonstra que a velocidade em adquirir um telefone celular está sendo maior que o telefone fixo. Assim, cerca de 16% afirmou possuir um telefone celular. |