CÉU URBANO

Artigo Publicado na Revista macroCOSMO®:
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quarta-feira, 7 de janeiro de 2004– número 04

Revista macroCOSMO - http://www.revistamacroCOSMO.com - sábado, 15 de novembro de 2003

 

Título: Heranças de Guerra, Foguetes de Paz


Bomba Voadora V2

Na industria aeroespacial a diferença entre aplicação militar ou civil de uma determinada inovação tecnológica é muito pequena. Isto está relacionado ao fato de que a corrida espacial teve seu início dentro do contexto da guerra fria. Os antigos mísseis russos começaram a concretizar uma história de sucesso na forma de foguetes lançadores dando uma dianteira histórica aos soviéticos.

 

1945 – Com o fim da II Grande Guerra, os aliados apressaram-se em ocupar territórios em busca de um precioso butim: a tecnologia das bombas voadoras. Os russos e americanos acabam a guerra cada um com sua parcela de foguetes e técnicos.

A V2 pode ser considerada o protótipo ancestral de todos os foguetes modernos. Seu funcionamento pode ser resumido da seguinte forma: um dispositivo que permite uma reação química controlada que gera um jato de gás a alta velocidade. Os dois reagentes devem ser mantidos em tanques separados e misturados sob pressão numa câmara de combustão. Na combustão uma substância (combustível) é combinada com o oxigênio (oxidante) produzindo muito calor e gases em expansão. Os gases gerados são direcionados para traz e impulsionam o foguete a velocidades supersônicas. Se a V2 tivesse se tornado operacional alguns anos antes, o destino da guerra seria bem diferente. Os vencedores sabiam disso. O conceito militar de defesas aéreas e marítimas se tornou obsoleto. Um foguete pode levar cargas consideráveis de explosivos sobre as linhas inimigas. Faz isso sem tripulação, sem escolta, praticamente sem interceptação e em quantidades muito maiores.

Na década de 50, durante o início da guerra fria, russos e americanos desenvolveram o conceito de ICBM (Intercontinental Balistic Missile – Míssil Balístico Intercontinental). Enquanto uma V2 levava algo em torno de 1 tonelada de TNT a uma distância de uns 320 km, os primeiros ICBMs podiam levar um ogiva nuclear (equivalente a 1000 toneladas de TNT) a mais de 6000 km.

Camaras de combustão do R7 Foguete R7

Em 1957, Sergei Korolev (1906-1966) dispunha de um dos primeiros ICBM russos capazes de carregar uma ogiva nuclear até os EUA. Sua denominação era R7. Na verdade havia várias denominações e nomes código para ICBMs conforme o serviço secreto que os denominavam. Assim o R7 também era chamado Semyorka, A2, Sapwood e SS10. Era uma grande evolução em relação a V2. Enquanto a V2 possuía somente um estágio o R7 tinha dois num arranjo característico e revolucionário. O 1º estágio era composto de 4 foguetes menores cônicos ao redor de um 2º cilíndrico. Após consumirem todo o seu combustível os foguetes do 1º estágio se desprendem do corpo principal. A V2 possuía somente uma câmara de combustão. Cada um dos cinco foguetes individuais (o cilíndrico e os cônicos) do R7 tinha 4 câmaras principais e pelo menos dois pequenos jatos direcionais totalizando mais de 20 câmaras em funcionamento no momento do lançamento. Curiosamente seu desempenho como ICBM não foi dos melhores. Demorava muito abastecê-lo e lança-lo deixando-o vulnerável a ataques durante este período. Modelos mais práticos e ágeis acabaram por compor a espinha dorsal do sistema tático nuclear soviético durante os anos 60: os R-12, R-14, UR-100 entre outros.

As diferenças básicas entre um lançador de satélites e um míssil balístico são bem sutis: a trajetória escolhida (uma elipse ou uma parábola) e a carga útil (um satélite ou uma ogiva).

lançamento do Sputinik Se o R7 não foi uma arma muito eficaz para levar destruição ao inimigo, mostrou-se uma arrasadora arma de propaganda. Essa história começa em 4 de outubro de 1957, enquanto os americanos amargavam vários insucessos com seus foguetes, um R7 partiu do cosmódromo russo de Tyuratam. A bordo daquele foguete subiu, no lugar da ogiva, uma esfera de alumínio de 83 Kg e 58 cm de diâmetro cheia de nitrogênio. Levava um transmissor a bateria com quatro antenas emitindo um bip-bip que revolucionou o mundo. Era o Sputnik 1, o primeiro satélite artificial. A única informação objetiva que enviava era a variação sua temperatura interna durante os 96 minutos de cada órbita que o levavam a alturas entre 228 e 900 km de altura. Durante os quatro meses que esteve em órbita, o Sputnik transmitiu uma mensagem subjetiva de superioridade e ameaça aos americanos. Foi o início da corrida espacial.

Nave Vostok

Daquele primeiro ano da era espacial o R7 deu início a uma família, ou melhor, uma dinastia de foguetes de sucesso. Com mais um estágio sobre os dois do velho R7, o foguete Vostok levou Yuri Gagarin (1934-1968), o primeiro homem no espaço, em 12 de abril de 1961. Desde então o desenho básico do foguete não mudou muito: 4 foguetes cônicos radiais e dois cilíndricos em série. Os nomes das naves que iam na carga útil passaram a denominar o conjunto todo. A cada missão os descendentes do R7 acumulavam novos nomes e novos sucessos a medida que as fronteiras eram cruzadas. Foram então: Luna (1ª sonda extraterrestre, 1º objeto na Lua), Vostok (tripuladas), Molniya (satélites de comunicação), Voskhod (1ª nave com 3 tripulantes) e finalmente o nome usado até hoje desde 1966, Soyuz Lançamento de Soyuz.

A família de foguetes lançadores Soyuz acumula então mais de 1670 lançamentos de sucesso com menos de 5% de falhas. Atualmente com a queda do regime socialista uma empresa multinacional comercializa a sua versão mais moderna: o Soyuz-Fregat. O Fregat é uma espécie de 4º estágio ou "manobrador orbital" (clique aqui para ver foto); permitindo uma flexibilidade e alcance incomparáveis. Este módulo foi usado em várias sondas espaciais famosas. O Fregat foi a base da sonda Luna que levou um robô a superfície lunar, o Lunakhod, e trouxe amostras de solo. Outras sondas notáveis foram a Vega e Fobos cujo módulo propulsor era um estágio Fregat. Recentemente os satélites Cluster (europeus de aplicação científica) e os Globalstar (comunicação) foram postos em órbita por este possante sistema lançador.

Nave Soyuz

Não podemos deixar de falar que os foguetes Soyuz foram os lançadores da naves orbitais Soyuz T (tripuladas) e das Progress (automáticas) que mantiveram o contato com as estações orbitais MIR e atualmente com a ISS.


Uma trajetória brilhante destes artefatos ruidosos: de armas de destruição em massa, passando por exploradores do cosmos e se tornando instrumentos de progresso tecnológico pacífico.

Notas Bibliográficas:

 

MOURÃO, Ronaldo R.F. – DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE ASTRONOMIA E ASTRONÁUTICA, CNPq/Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1987.

ZAK, Anatoly – "Rockets R Us" – IEEE SPECTRUM, February, 2002.

ENCYCLOPEDIA ASTRONAUTICA http://www.astronautix.com

RussianSpaceWeb by Anatoly Zakhttp://www.russianspaceweb.com


Naelton Mendes de Araujo |Redator – Revista macroCOSMO

http://www.geocities.com/naelton

Foto tirada durante o IV Enast, Salvador, BA.

Autor/Colunista: Naelton Mendes de Araujo
Nascido em 18/09/1963
Bacharel em Astronomia, Obs. Valongo/UFRJ, 1992.
Analista Orbital (Star One/Embratel)
Interessado em Astronáutica, Divulgação, História, Ensino, Física Solar, Planetas, Radioastronomia e Relógios Solares.
Residente no Rio de Janeiro, RJ
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