Com sua vasta obra, que inclui concertos, sinfonias, óperas, bailados, suítes sinfônicas e peças isoladas, Villa-Lobos tornou-se um dos compositores mais originais do século XX, graças sobretudo ao emprego de ritmos brasileiros e de instrumentos de percussão.
Heitor Villa-Lobos nasceu no Rio de Janeiro RJ em 5 de março de 1887. Iniciado pelo pai nos estudos de teoria e solfejo, bem como na prática do clarinete e do violoncelo, aos 13 anos já participava de conjuntos seresteiros. Na precoce experiência boêmia, tornou-se íntimo do violão, que chegou a tocar com virtuosismo. Para esse instrumento, escreveu mais tarde vários estudos, prelúdios e um concerto, dedicados ao violonista espanhol Andrés Segovia. Ampliou seu contato com a música popular ao conhecer Ernesto Nazaré, de cujas obras foi o primeiro a vislumbrar a importância.
Em 1905 pôs-se a viajar pelo Brasil, em busca das raízes folclóricas. De volta ao Rio de Janeiro, pensou em sistematizar sua formação, mas logo se indispôs com a rotina do Instituto Nacional de Música e partiu em novas peregrinações pelos estados. Esteve no Sul, no Centro-Oeste e na Amazônia, com a mesma curiosidade com que antes fora ao Nordeste.
Projeção. Por volta de 1913, Villa-Lobos dava início a sua produção, já abordando os mais diversos gêneros. Em várias obras dessa fase é marcante a influência de Debussy. Mas, enquanto a Suíte floral para piano (1914) e o Canto do cisne negro para piano e violoncelo (1917) aparecem numa atmosfera impressionista, as Danças africanas (1914) trazem um cunho de viva originalidade, trabalhadas sobre material afro-brasileiro e ameríndio.
Em 1922 Villa-Lobos tomou parte destacada na Semana de Arte Moderna, em São Paulo. No ano seguinte, o mecenato de amigos levou-o a Paris, onde uma primeira apresentação de suas obras foi apupada. Entretanto, em 24 de outubro e em 5 de dezembro de 1927, na sala Gaveau, obteve enfim o sucesso. Dos programas constaram os cinco Choros, o Rudepoema e a suíte Prole do bebê (piano), as Serestas e os Três poemas indígenas (canto e orquestra), além de Na Bahia tem (coro a capela), Cantiga de roda (coro e orquestra) e o Noneto. Era patente a essa altura a familiaridade de Villa-Lobos com a linguagem musical estrangeira, em especial a de Stravinski, e o rico material folclórico de que se impregnara desde a mocidade já se apresentava depurado por seu gênio.
Em 1930, famoso em toda a Europa, Villa-Lobos decidiu voltar para o Brasil. Preocupado com o desenvolvimento artístico do país, obteve apoio oficial, em São Paulo, para a realização de caravanas musicais pelo interior do estado. Depois, no Rio de Janeiro, promoveu gigantescas concentrações orfeônicas. Seu esforço educacional, empreendido por meio do canto, culminou quando conseguiu a oficialização do ensino de música nas escolas.
Ao mesmo tempo em que "ensinava o Brasil a cantar", prosseguiu sua atividade como compositor. Deu início à série das nove Bachianas brasileiras, cuja origem remonta às peregrinações pelo interior, quando constatara a semelhança de modulações e contracantos do folclore musical brasileiro com a música de Bach. Foi ao vincular o Brasil a Bach que Villa-Lobos se caracterizou como um dos maiores músicos de sua época. As Bachianas se tornaram, no mundo inteiro, suas obras mais conhecidas. Particularmente popular é a quinta das Bachianas, para soprano e conjunto de violoncelos (1938).
As Bachianas e os Choros são obras singulares, sem nenhum esquema formal, mas constituem a espinha dorsal de sua produção. Nem por isso são menos importantes as obras formais de Villa-Lobos, como as 12 sinfonias, dentre as quais se destaca a sexta, escrita sobre a linha cartográfica das montanhas do Brasil (1944), e a décima, com coro, denominada Sumé Pater Patrium (1952). Fazem parte ainda de sua obra os 17 quartetos para cordas, concertos para piano e orquestra, violoncelo e orquestra, trios e quintetos, além de óperas, como Malazarte (1921), bailados, como Uirapuru (1917) e suítes, como o Descobrimento do Brasil (1937).
A genialidade do compositor incorporou-se ao patrimônio artístico-cultural do Brasil. Suas obras, entre as quais as Serestas, peças vocais de 1925, compostas sobre versos de poetas como Manuel Bandeira, passaram a figurar com destaque nos catálogos internacionais. Villa-Lobos morreu no Rio de Janeiro RJ, em 17 de novembro de 1959.
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