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Ópera

 
       Peça dramática ou cômica que combina elementos de música, dança e teatro numa expressão única e completa. Originada na Itália no século XVI.

       Reformulada por Wagner como a obra de arte total, a ópera combina várias linguagens numa forma de expressão única e completa. Música, teatro, dança, figurinos e cenografia são alguns dos elementos que integram o espetáculo operístico e envolvem o espectador numa atmosfera de fantasia.

       Ópera é uma peça dramática ou cômica inteiramente musicada, dividida em atos (em geral de três a cinco), na qual a ação dramática é subordinada à música. Caracteriza-se também pelo acúmulo de gêneros musicais. Os recitativos, espécie de canto falado, representam a maior parte do texto, enquanto as árias são canções relacionadas ao enredo, que aparecem em momentos-chaves e permitem que os solistas exibam seus talentos vocais. Os duetos, trios etc., formados eventualmente pelos solistas no decorrer da obra, e os corais, são variações que trazem maior brilho à encenação. A ópera é uma das mais importantes entre as grandes formas da música vocal criada no Ocidente, ao lado da cantata, do oratório e da missa.

       Origens. Nascida na Itália no final do século XVI, a ópera tem seus fundamentos na Grécia clássica, nas tragédias de Ésquilo, Sófocles e Eurípides. Aristóteles e outros pensadores da época relatam que a música, com acompanhamento de lira ou flauta, desempenhava um papel importante na estrutura do espetáculo.

       Formas musicais dramáticas já existiam entre as obras litúrgicas da Idade Média e nas masquerades criadas para deleite das cortes durante o Renascimento. Em 1580, o conde Giovanni Bardi fundou em Florença o grupo conhecido como Camerata Fiorentina, composto de eruditos que se reuniam regularmente para discutir a cultura grega. Vários músicos, poetas e cantores integravam a Camerata: Vincenzo Galilei (pai do astrônomo), Jacopo Peri, Giulio Caccini, Emilio del Cavaliere e Ottavio Rinuccini, entre outros.

       Dafne, composta por Jacopo Peri a partir de libreto de Ottavio Rinuccini e cuja música infelizmente se perdeu, foi o primeiro drama musical produzido pela Camerata, por encomenda do conde Bardi. A obra, destinada a reconstituir um espetáculo grego e montada na casa Corsi, no decorrer de 1597, é considerada a primeira ópera.

       Século XVII. A ópera foi a mais significativa expressão do canto barroco para voz solista, que se contrapôs à polifonia renascentista. Orfeo, de Claudio Monteverdi, com libreto de Alessandro Striggio o Moço, estreou em Mântua em 1607 e definiu a forma da ópera tal como se consagraria posteriormente. Músico sensível e criativo, Monteverdi sofisticou a parte musical e tornou o espetáculo menos aristocrático e acadêmico, o que rapidamente o popularizou. De suas óperas venezianas, apenas duas sobreviveram: Il ritorno d'Ulisse in patria (1641; O retorno de Ulisses à pátria) e L'incoronazione di Poppea (1642; A coroação de Popéia). A ópera já se havia então transformado e a música, principalmente as árias dos solistas, passara a ser mais importante que o texto, tão valorizado pelos primeiros teóricos. Também conquistaram fama em Veneza Pietro Francesco Cavalli, cuja obra mais conhecida é Giasone (1649; Jasão), com libreto de Giacinto Andrea Cicognini; e Pietro Antonio Cesti, com Orontea (1649), Dori (1661) e Il pomo d'oro (1667).

       Na França, a ópera foi dominada pela figura de Jean-Baptiste Lully, compositor italiano a serviço de Luís XIV e criador da chamada abertura francesa. Desenvolveu um estilo mais leve e sofisticado em que privilegiou o diálogo, introduziu temas literários e balés. Entre suas melhores composições, todas com libreto de Philippe Quinault, estão Alceste (1674) e Armide et Renaud (1686). Na Inglaterra o gênero teve como obra-prima isolada Dido and Aeneas (1689), de Henry Purcell.

       Século XVIII. Apesar de nascido na Alemanha e radicado na Inglaterra, Haendel tornou-se, no século XVIII, um dos mais importantes compositores da ópera séria de tipo italiano. Escreveu 35 óperas, entre elas Rinaldo (1711) e Alcina (1735). Sua magistral utilização da orquestra transformou a ópera num entretenimento ao mesmo tempo popular e aristocrático.

       Paralelamente, a ópera italiana floresceu em Nápoles, cujas escolas e conservatórios de música formaram alguns dos melhores cantores da época. Muitos compositores viveram e criaram nessa cidade seus melhores trabalhos, como Giovanni Battista Pergolesi, autor da pequena e admirável La serva padrona (1733; A criada patroa), de vivacidade tipicamente napolitana. Jean-Philippe Rameau compôs óperas francesas menos formais e mais melodiosas que as de Lully. Algumas delas, como Les Indes galantes (1735; As índias galantes) e Castor et Pollux (1737), são encenadas até hoje.

       Gluck, em Viena e Paris, reagiu contra a predominância das árias de bravura e sua ornamentação vocal excessiva. Subordinou a música ao enredo, na busca da expressão de emoções autênticas. Suas óperas mais conhecidas são Orfeo ed Eurydice (1762) e Alceste (1767). Paris já despontava então como a grande capital européia da ópera e vários compositores italianos, como Cherubini e Gaspare Luigi Pacifico Spontini, o favorito de Napoleão, ali tiveram sucesso.
Mozart foi o maior operista do século XVIII. Produziu grandes óperas em três variedades: Die Entführung aus dem Serail (1782; O rapto no serralho) e Die Zauberflöte (1791; A flauta mágica) são clássicos do Singspiel (ópera cômica com diálogos falados); Idomeneo (1781) e La clemenza di Tito (1791; A clemência de Tito) são exemplos de ópera séria; e três óperas cômicas -- Le nozze di Figaro (1786; As bodas de Fígaro), Don Giovanni (1787) e Così fan tutte (1790; Assim fazem todas) -- constituem a melhor parte de sua obra dramática.

       Século XIX. O florescimento da ópera na Alemanha começou com Fidelio (1805), de Beethoven, e evoluiu com Weber, considerado o criador da ópera alemã. Autor de Der Freischütz (1821; O franco-atirador) e Oberon (1826), entre outras, Weber tornou a ópera mais romântica e germânica, ao utilizar lendas e contos do próprio folclore nacional.

       Rossini, Bellini e Donizetti foram os três grandes compositores do bel canto (estilo de canto criado na Itália), que dominou os palcos europeus no século XIX. Rossini brilhou no estilo cômico, como em Il barbiere di Siviglia (1816; O barbeiro de Sevilha), mas escreveu também óperas sérias, como Tancredi (1813) e Guillaume Tell (1829). Bellini escreveu nove óperas, entre as quais a famosa Norma (1831). O papel-título, um desafio para as sopranos de todos os tempos, é provavelmente a razão de seu grande sucesso. Donizetti utilizou maior realismo teatral, como em sua trágica obra-prima Lucia di Lammermoor (1835), e três de suas comédias são grandes favoritas do público: L'elisir d'amore (1832), La Fille du régiment (1840) e Don Pasquale (1843).

       Meyerbeer foi o mestre da grande ópera francesa do século XIX, com Les Huguenots (1836; Os huguenotes) e outras obras. Seus espetáculos traziam efeitos cênicos deslumbrantes, cenas de multidão e balés elaborados, bem ao gosto do público parisiense. Mais românticas e despojadas são as obras de Jules Massenet, como Manon (1884) e Werther (1892).

       Wagner e a ópera alemã. Muito mais longe foram as pretensões de Wagner, que acreditava na ópera como a única forma de arte com bastante poder para redimir o mundo dos valores superficiais e infelicidade crônica. Der fliegende Holländer (1841; O navio fantasma) já mostra o caráter revolucionário de sua obra, ratificado nos dramas românticos Tannhäuser (1845) e Lohengrin (1850).

       Criador de nova linguagem operística, Wagner compôs obras em que não há interrupção da música dentro de um mesmo ato. As partes puramente instrumentais têm grande importância e as árias estão fundidas ao conjunto da obra. Na década de 1850, escreveu uma série de poemas que mais tarde se transformariam no célebre Der Ring des Nibelungen (1856-1874; O anel dos nibelungos), a maior realização da história da ópera. Nessa tetralogia -- formada por Das Rheingold (O ouro do Reno), Die Walküre (As valquírias), Siegfried e Götterdämmerung (O crepúsculo dos deuses) -- deuses, homens, gigantes e anões retratam um universo em conflito mortal. O ciclo estreou em Bayreuth, num teatro especialmente construído para encenação das óperas wagnerianas. Durante esse período, o compositor criou também Tristan und Isolde (1857-1859; Tristão e Isolda) -- drama romântico que rompe com os padrões tradicionais da música ocidental -- e Parsifal (1882), numa antecipação da crise do tonalismo explicitada em obras posteriores de Mahler, Bruckner, Weber e Schoenberg. Foi, no entanto, duramente criticado por alguns de seus contemporâneos, habituados à ópera italiana.

       Verdi. Ao longo de 88 anos de vida, Verdi escreveu 27 óperas, com as quais abriu possibilidades nunca antes imaginadas para o gênero. Pouco a pouco, libertou-se da tradição do bel canto e ampliou a dramaticidade poético-musical, como em Macbeth (1847), Rigoletto (1851), Il trovatore (1853; O trovador) e La traviata (1853). Francesco Maria Piave foi seu mais importante libretista. Aída (1871), com texto de Antonio Ghislanzoni, Otelo (1887) e Falstaff (1893), com libreto de Arrigo Boito, são famosas ainda hoje.

       Ópera russa. Embora pouco numerosa, a contribuição russo-eslava ao repertório operístico é significativa. Muitos compositores russos foram estudar na Itália e outros tantos italianos ensinaram composição na Rússia. O Grupo dos Cinco, que compunha em russo, era formado por Balakirev, Rimski-Korsakov, Borodin, César Cui e Mussorgski. Tchaikovski também criava óperas em seu idioma natal. Hoje, Boris Godunov (1874), de Mussorgski, assim como Eugene Onegin (1879) e Pikovaia dama (1890; A dama de espadas), de Tchaikovski, encantam platéias ocidentais.

       Naturalismo e verismo. O crescente comprometimento da literatura com as duras condições de vida das classes populares influenciou também a ópera, e deu origem a duas escolas importantes: o naturalismo francês e o verismo italiano. Carmen (1875), de Bizet, com texto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy, é a mais famosa ópera naturalista. Na Itália, o verismo produziu as tradicionais Cavalleria rusticana (1890), de Pietro Mascagni, e Pagliacci (1892; Palhaços), de Ruggero Leoncavallo, assim como as mais modernas Andrea Chénier (1896), de Umberto Giordano e, já no século XX, Francesca da Rimini (1914), de Riccardo Zandonai, e Il tabarro (1918; O capote), de Puccini.

       Século XX. Puccini e Richard Strauss são os maiores nomes da ópera no início do século XX. A música de Puccini é variada e muito criativa. Suas obras mais importantes são La Bohème (1896), Tosca (1900), Madame Butterfly (1904) e Turandot (1926). As obras iniciais de Richard Strauss, sob influência de Wagner, são atonais, expressionistas e surpreendentemente modernas, como Salomé (1905) e Elektra (1909). A ópera seguinte, Der Rosenkavalier (1911; O cavaleiro da rosa), já é bem mais suave e mesmo mozartiana, nas situações e estilo melódico. Sua longa colaboração com o talentoso libretista Hugo von Hofmannsthal resultou também em Ariadne auf Naxos (1912; Ariadne em Naxos), Die Frau ohne Schatten (1919; A mulher sem sombra) e Arabella (1933).

       Nos Estados Unidos, George Gershwin fez uma tentativa bem-sucedida de introduzir o jazz na música operística: Porgy and Bess (1935), baseada em romance de DuBose Heyward, foi um grande sucesso. Outros compositores brilhantes, de tendências variadas, surgiram a partir do final da década de 1920. Alban Berg compôs Wozzeck (1925) e Lulu (1937); o tcheco Leos Janácek tornou-se conhecido na Europa na mesma época, com Jenufa (1903) e Vec Makropulos (1926; O caso Makropoulos); e Benjamin Britten criou Peter Grimes (1945) e A Midsummer Night's Dream (1960; Sonho de uma noite de verão).

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