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Dança

 
       Forma de expressão artística que utiliza gestos e movimentos corporais, em relação organizada com o espaço e o tempo, de forma espontânea ou de acordo com uma composição coreográfica. É em geral acompanhada de música.

       Satisfazer exigências estéticas não foi a única função da dança ao longo dos tempos: ela desempenhou também, desde sua obscura origem, um papel determinante na vida religiosa e na evolução psíquica da humanidade, pois configura um recurso inigualável para transportar o homem além dos limites impostos pela consciência e pela realidade cotidiana.

       Dança, em sentido geral, é a arte de mover o corpo segundo uma certa relação entre tempo e espaço, estabelecida graças a um ritmo e a uma composição coreográfica. Seja espontânea ou organizada, a dança expressa um sentimento ou uma situação dada e pode ser complementada por gestos destinados a fazê-la mais inteligível. Tem por instrumento, às vezes único, o corpo, que elabora seu próprio ritmo.

       Origem e desenvolvimento. O estudo dos modos culturais manifestados pelas tribos primitivas ainda hoje existentes permite supor, com certo fundamento, que a dança, entendida como movimento rítmico do corpo, com ou sem acompanhamento sonoro, começou a configurar-se em torno do som produzido pelos pés dos que dançavam, os quais, em sua expressão corporal, individual ou coletiva, prestaram cada vez mais atenção àquilo que se tornaria a essência da dança: o ritmo. O cadenciamento de gestos e movimentos foi sucessivamente reforçado pelo bater das palmas, pela percussão e, mais tarde, pela instrumentação.

       Segundo certas correntes da antropologia, as primeiras danças humanas eram individuais e se relacionavam à conquista amorosa. As danças coletivas também apareceram na origem da civilização e sua função, utilitária e invocadora dentro de um contexto religioso, associava-se à adoração das forças superiores ou dos espíritos para obter êxito em expedições guerreiras ou de caça, ou ainda para solicitar o bom tempo ou a chuva. As danças para invocar chuva persistiram durante séculos em alguns lugares e a crença no fazedor de chuvas permaneceu no acervo cultural dos índios da América do Norte.

       A dança primitiva encerra, portanto, um valor simbólico. Nela os dançarinos não representam pessoas concretas, mas personificam um espírito, um poder superior que se expressa por meio dos que dançam. Nas danças tribais, todos os executantes são atores e desempenham um papel no conjunto: diferenciam-se assim os papéis principais, os do coro e os daqueles que marcam o ritmo com instrumentos ou com as mãos. Trata-se de uma cerimônia ritual coletiva em que tudo -- ritmos, passos, máscaras, vestimentas -- obedece a um padrão definido. Nesse contexto devem situar-se, como expressão máxima da catarse da dança, as manifestações de cultos animistas de origem africana que perduram no Haiti e no Brasil.

       O desenvolvimento da sensibilidade artística determinou a configuração da dança como manifestação estética. Na Grécia antiga, a musa dessa arte, Terpsícore, inspirava os dançarinos e lhes conferia graça e agilidade, traços que se acentuaram ao longo da história para culminar naquela que talvez seja a mais refinada das manifestações da dança: o balé. Em outras palavras, a evolução do bailado determinou o aparecimento de estilos cortesãos e palacianos e, em especial, de expressões de dança popular que constituem a raiz da tradição e do folclore.

       História. No antigo Egito, vinte séculos antes da era cristã, já se realizavam as chamadas danças astroteológicas em homenagem ao deus Osíris. O caráter religioso e profundamente simbólico, de alto conteúdo espiritual, foi de algum modo comum às danças clássicas dos povos asiáticos, conservadas e executadas rigorosamente. Disso constituem exceção as danças dos países islâmicos, cujos sentido, ritmo e conteúdo coreográfico evoluíram por caminhos singulares.

       Antiguidade clássica. Na Grécia clássica, a dança era freqüentemente vinculada aos jogos, em especial aos olímpicos. Nessas manifestações, mais do que em qualquer outra ocasião, tornava-se patente o sábio equilíbrio de músculos e articulações, de respiração e circulação, no qual jogo e dança se conjugam. Entre as diversas danças corais da Grécia clássica diferenciavam-se modalidades como as guerreiras (gimnopédicas, pírricas) e as dionisíacas, em honra do deus Dioniso, que comemoravam as estações do ano.

       Na civilização romana, os ritos religiosos em que o bailado constituía elemento principal se iniciaram à maneira dos gregos, mas depois degeneraram nas chamadas danças orgiásticas, características das festas de Baco, as bacanais. Com o aparecimento e a consolidação do cristianismo produziu-se uma radical redução desse tipo de manifestações, as quais praticamente desapareceram, embora a dança popular se tenha introduzido progressivamente nas celebrações cristãs, até mesmo no interior dos templos, como no caso da dança dos seises (meninos do coro), nas catedrais de Sevilha e Córdoba, tradição ainda vigente na Espanha. Outras festas populares, especialmente os carnavais, mantiveram viva a secular tradição coreográfica.

       Dança cortesã. Com o Renascimento, a dança teatral, virtualmente extinta em séculos anteriores, reapareceu com força nos cenários cortesãos e palacianos. A partir do século XVI iniciou-se a elaboração de tratados sobre a arte da dança. O ideal estético da época transcendeu o âmbito das cortes italianas em que havia nascido para estender-se por toda a Europa. Na primeira época de desenvolvimento da dança nos tempos modernos, teve função preponderante a pantomima, derivada da arte do mimo, que ganhou expressão máxima na commedia dell'arte italiana.

       Cada país, e mais exatamente cada corte européia, foi criando suas formas peculiares de dança. Assim, estabeleceram-se o branle francês, um bailado de roda do qual podia participar quem chegasse, e a volta, que agradava sobremaneira a Elizabeth I da Inglaterra e, ao que parece, escandalizava os religiosos da corte. A Espanha pôs em moda a pavana, a sarabanda, a chacona e a passacale. Compositores como Bach e Mozart, incorporaram a suas peças musicais ritmos de dança, quase sempre tomados do folclore.

       Uma das danças européias de execução mais complexa foi o minueto, de movimentos amaneirados, que representa o refinamento cortesão do século XVIII. Depois foi a valsa, a dança cortesã por excelência, e com ela se iniciou a passagem da dança em grupo ao baile de pares. Grandes compositores, como os Strauss, contribuíram para a popularização da valsa, que teve, no entanto, inflamados detratores. No Brasil, ao fim do século XIX, causou certo escândalo nos salões o maxixe, sensual dança de pares resultante da fusão entre a habanera cubana, a polca e o ritmo sincopado africano. Nas primeiras décadas do século XX, tratamento semelhante foi dado ao tango, dança de pares de origem e espírito argentino que chegou a ser proibida como imoral pela autoridade eclesiástica. Igualmente discutido foi o charleston que, embora de vida efêmera, alcançou altos índices de popularidade e prenunciou os ritmos contemporâneos, iniciados com o rock-and-roll.

       Dança oriental. O caráter cerimonial e profundamente religioso que certamente está na origem da dança manteve-se vivo na tradição oriental, em que cada movimento, cada gesto dos participantes e até seus trajes estão carregados de simbologia. No teatro chinês, a cor tem uma significação precisa, de modo que a hierarquia dos personagens, sua idade e características são representados por uma determinada cor. O mesmo acontece com a maquiagem, que encerra um significado característico. No Japão, o teatro nô tem seu equivalente camponês na dengaku; o kabuki, por sua vez, utiliza as danças pantomímicas do repertório clássico.

       A atração que o exotismo dos países do Extremo Oriente exerceu sobre a arte européia desde o fim do século XIX se manifestou tanto no repertório e nos modos de destacados bailarinos contemporâneos como na inspiração de balés modernos. No arquipélago indonésio, a dança é uma atividade da qual todos participam.

       Danças populares. A configuração de um gênero de dança circunscrito ao âmbito teatral determinou o estabelecimento de uma disciplina artística que, em primeira instância, ocasionou o desenvolvimento do balé e, mais tarde, criou um universo dentro do qual se desenvolveram gêneros como os executados no music-hall, no cabaré e as manifestações cinematográficas de dança. Nesse contexto surgiram modalidades como o sapateado e o swing e figuras como Josephine Baker, Ginger Rogers, Fred Astaire e Gene Kelly.

       A divulgação da dança se deu também fora do mundo do espetáculo, principalmente nas tradições populares. A penetração da tradição musical da África negra no continente americano teve, por exemplo, papel decisivo. Ao lado da tradição ocidental européia e da ancestral cultura pré-colombiana, esse fenômeno exerceu uma influência determinante no nascimento de danças como a cueca chilena, o bambuco colombiano, o maracatu, o samba e vários outros ritmos brasileiros, além das muitas danças da área geográfica antilhana: rumba, guaracha, conga, mambo, merengue etc.

       Multiplicidade semelhante se observa nos bailados populares europeus. A interpretação de saltos espetaculares e giros rápidos caracteriza as danças eslavas, entre as quais cabe citar a prisiadka e o gopak russos, a xarda húngara e a polca da Boêmia. Outros traços, como o ritmo dos movimentos e a sincronia no deslocamento dos bailarinos, são definidores de danças como a tarantela italiana e a jota, a muifñeira, a sardana ou a espatadanza de diversas regiões espanholas. Nesse âmbito destaca-se, pela singularidade, o bailado flamenco, característico da Andaluzia, no sul da Espanha, que apresenta certas afinidades com as danças orientais: são muitas suas manifestações e entre elas cabe citar o sapateado, a seriguiriya e a alegría.

       No Brasil, as inúmeras variedades de danças populares têm as mesmas matrizes que originaram a raça brasileira: européia (pezinho, tiranas, xote), africana (samba, jongo) e, em menor proporção, indígena (caboclinhos). Em algumas, como no frevo, a dança mais rica e original do país, as origens étnicas já não se percebem com clareza.

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