Histórias
do nascimento do Moto Clube de Lagoa
O Moto Clube de Lagoa nasceu fruto do esforço de vários "carolas"
da pequena comunidade concelhia do Barlavento Algarvio - os motociclistas
do concelho de Lagoa. Poucos estarão ainda lembrados de, em meados dos anos 80, se terem realizado as primeiras voltas em fila indiana
com os 2 "comboios de motos" que um dos propulsores do clube, Miguel Serra
Amaral, na altura residente então na Praia do Carvoeiro, organizou com a ajuda
dos motociclistas ou "motoqueiros" da época, tirando fotocópias
oferecidas pela Escola Prep. D. Sancho I em Lagoa e distribuindo, com a
ajuda dos carolas amigos e da sua Casal Trial 50cc (uma cópia das
trialeiras adaptada pelo próprio), pelas principais pastelarias
e lojas de Lagoa e arredores a notícia de que se ia organizar "um
comboio de motos". O encontro foi programado para o Algar Seco (P. do Carvoeiro) e convidava-se
o pessoal aficcionado (de todo o tipo de motos e cilindradas) a participar
num convívio para o qual ainda não tinha havido até
à data uma organização definitiva e conjunta, ainda
que experimental como esta o foi.
O encontro era no miradouro mais conhecido do concelho e propunha-se a
todos que também trouxessem farnel para se fazer um "piquenique"!
É claro que ao princípio o pessoal estava um pouco desconfiado,
mas depois de ter sido passada a notícia de que era uma coisa divertida
e que havia tempo para nela participar, lá apareceram mais de uma
dezena de motos, de variadas cilindradas, com os respectivos penduras (eram
cerca de 24 pessoas, no total), não tendo faltado o ambiente musical
portátil, em forma de um "walkman" amplificado por uns pequenos
altifalantes portáteis a pilhas (o que na altura ainda era novidade)
e variedade de buzinas para animar permanentemente todo o passeio!
É nesta altura que convém relembrar a participação
do nosso amigo Rodrigo dos Santos, cujo inesquecível capacete de
meia casca de ovo, tipo "parente lá do monte", mas enfiado de trás
para a frente na cabeça, ia divertindo com as suas macacadas e malabarismos
todo o pessoal, para gáudio dos presentes. Era vê-lo, todo
animado, enquanto se esperava pelo pessoal que ia chegando, a fazer passagens
de moto no miradouro de pernas abertas a simular um avião, naquela
Zundapp antiga (que, segundo penso, era do pai!).
Logo que o pessoal se alinhou e foram explicadas algumas regras mínimas
para que se evitassem os acidentes e a confusão, foi combinado o
seguinte: iam à frente todas as motos de pequena cilindrada para
que não ficassem para trás (Casal Boss, aceleras, etc.),
e o resto do pessoal com montada graúda seguia na peugada. Imagine-se
! É escusado dizer que os da frente, a acelerar com quanta força
podiam para tentar dar um andamento condigno ao comboio, lá iam
fazendo berrar e vibrar as suas pequenas montadas, puxando toda a gente
para a frente, seguidos pela fila indiana de cerca de 12 motos (era muita gente na altura!) que se estendia
às vezes com 300 metros de comprimento, finalizada por uma que levava
uma bandeira que dava oficialidade ao evento mas que se tornava apreensiva,
devido ao nome que dizia - "Motogang Clube"!
Chegados a Lagoa, e tendo previamente sido acertado que se atravessaria
a vila no sentido Leste-Oeste, com bastante "cagaçal" e chinfrineira
à mistura foi então que, depois de uma curiosa paragem nos
semáforos do jardim, para espanto dos transeuntes e dos participantes,
em que o pessoal aproveitou para continuar a dar largas ao apitar de buzinas
e cumprimentos, se partiu para Portimão, onde o objectivo era atravessar
da mesma maneira aquela cidade indo depois à Fortaleza de Santa
Catarina na Praia da Rocha desfilando pela avenida costeira, até
chegar finalmente à Praia do Vau e voltar a Lagoa...
E assim foi: antes dessa etapa houve uma paragem triunfal no Largo do Dique,
em frente ao cinema de Portimão, onde depois de uma fotografia da
praxe e de mais buzinadelas de "olá" às pessoas que saíam
do intervalo do filme da tarde ou que estava à espera das camionetas
da carreira, se colocou novamente a fila em marcha até chegar à
zona costeira. Nova
paragem para fotografias na fortaleza após a qual se tomou rumo
em direcção da Praia do Vau. Uma vez lá chegados alguém
quis tomar banho, mas só que havia um problema, ou melhor: não
havia nenhum - é que se queria tomar banho e não havia ninguém
com fato de banho. Quem foi para a água: mais uma vez o nosso amigo
e aficcionado destas maluqueiras, o Rodrigo, em pelota !
Quando o pessoal o viu avançar
destemido e à vontade para as águas ainda frias da praia
(ainda era Inverno!), a única maneira de o acompanhar foi ir até
às areias fazer o mesmo, mas a verdade é que os que menos
estavam para se maçar foram antes de moto (estava maré vazia
e não havia nenhum Cabo do Mar à vista!) deslizar livremente
ao longo da praia perto das ondas do mar... poético, não?
O que valeu foi ter-se tirado umas fotos, pois senão não
se registava o evento para a posteridade ! Foi então que se iniciou
o regresso daquele "maralhal", com mais dois ou três que se tinham
juntado ao comboio, tendo terminado assim e em Lagoa numa petiscada, aquela
que viria ser a primeira iniciativa espontânea do futuro Moto Clube
de Lagoa - Algarve...
...
e vai daí, claro, desenhou-se o segundo passeio, cuja volta era
a mesma e que ainda hoje será descrito com piada pelos que nela
participaram.
Aconteceu o seguinte: ia toda a gente novamente bem disposta repetir a
proeza, só que chegados à entrada da ponte de Portimão
estava uma brigada da G.N.R., que fez parar o pessoal todo e começou
logo a pedir a documentação. Para se despacharem mais rapidamente,
pois todos se tinham prontificado a mostrar que estavam todos legais, foram
entregues os documentos todos de uma vez só. Todos legais? - Não
! Acontece que um dos participantes se tinha esquecido dos documentos em
casa, e tinha parado umas centenas de metros antes, o que fez com que toda
a comitiva atravessasse primeiro a ponte e, solidários com aquele
que tinha ficado parado, voltasse tudo para trás sem passar por
aquele inconveniente "auto-stop" ! (e a G.N.R. a vê-los passar).
Assim a volta foi antes dirigida para Ferragudo, havendo paragem num café
central, indo todos em seguida até à Praia Grande daquela
aldeia do Rio Arade, onde foram postos na praia todos os comes e bebes,
havendo até lugar a um assar de chouriço (trazido pelo Rodrigo
!) grelhador de barro portátil e frasquinho de álcool ! Reza
a história que todo este petisco tinha a acompanhar bom pão
caseiro, mas que se sucedeu à queda do Rodrigo que se aleijou ao
ter "cavalgado" a praia junto à
água
com a sua Zundapp montado nela à "peixe" !
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