GABRIEL  CHALITA

Professor e secretário de Estado da Educação


As mulheres da educação brasileira

   

“(...) Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.”

(Com licença poética – Adélia Prado)

 

A força, a garra e a determinação que tão bem caracterizam a figura feminina têm servido como base para a construção das mais belas e intrigantes personagens da literatura, do cinema e do teatro. As mulheres são também musas inspiradoras de poetas eternamente condenados ao sofrimento causado por paixões avassaladoras. Sentimentos provocados pela beleza e pela presença marcante daquelas que têm sido – equivocadamente – chamadas de sexo frágil.

Para perceber o quanto essa denominação é um contra-senso, basta olhar à nossa volta. As mulheres são verdadeiras fortalezas edificadas sobre uma terra fértil, produtora das qualidades essenciais à vida humana: a capacidade de doação, a paciência, a sabedoria e a coragem. No setor educacional brasileiro essas guerreiras sempre foram maioria. Talvez isso se explique porque o ato de educar exige a reunião de todas as qualidades referidas anteriormente, associadas, também ao amor, ao afeto e à dedicação extrema. Uma dedicação que, ao mesmo tempo, é desprovida de expectativas de reconhecimento, da mesma forma que ocorre com o amor verdadeiro.

Muitos homens também se encaixam nesse perfil, fornecendo contribuições fundamentais ao setor, como o mestre Paulo Freire – estudioso e defensor de uma pedagogia inclusiva e eficaz –, o professor Antonio Candido de Mello e Souza – intelectual renomado e formador de numerosas gerações de profissionais dedicados à arte das letras e o professor André Franco Montoro –  tão apaixonado pelo magistério que, mesmo com uma experiência de quase 60 anos como educador, ainda mantinha a mesma paixão e entusiasmo de um iniciante.

Mas, todos podemos comprovar que grande parte das estrelas que compõem a constelação educacional atende, na verdade, por um nome feminino. Basta entrarmos em uma escola qualquer para observar que lá estão elas – as mulheres – ocupando a maioria dos postos existentes: professoras, diretoras, inspetoras, merendeiras, secretárias... Juntas, têm uma força fabulosa que determina os movimentos de rotação e translação do binômio ensino-aprendizado.

Assim como na literatura brasileira – tão bem representada pelos textos magistrais de numerosas escritoras – nossas educadoras caracterizam-se por conseguir adentrar numa seara tão complexa e fascinante como a que rege a criação das histórias que compõem os livros. Até porque, cada obra literária possui, assim como a escola, personagens diversos, com trajetórias, conflitos, desejos e origens totalmente diferenciadas.

Nossas educadoras – tal qual as autoras das grandes obras de nossas letras – têm a missão de criar uma sintonia fina entre os representantes desse universo rico e diversificado que é a escola, fazendo com que seus protagonistas desenvolvam-se da melhor forma possível.

A educação proporcionada por essas mulheres – que escrevem e dão molde ao futuro das novas gerações em cada estabelecimento de ensino brasileiro – congrega, a um só tempo, alunos, professores, diretores e funcionários. Atores que interagem, criam, produzem, superam suas limitações e, então, constroem, aos poucos, a maturidade necessária aos grandes personagens de todas as histórias. Alinhavar esse crescimento é um trabalho árduo, mas compensador.

Quem de nós não teve, quando estudante, professoras que nos possibilitaram a ampliação de nossa consciência e o impacto positivo e instigante da descoberta? Vistos por um ângulo mais abrangente, percebemos que esses são os mesmos sentimentos que encontramos, por exemplo, quando lemos as outras educadoras da vida e da alma: Adélia Prado, Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Rachel de Queiroz, Cora Coralina, Hilda Hilst. É quando nos damos conta de que obtemos, com essas mulheres, a transcendência, a explosão multicor da centelha divina existente em todos nós, culminando com a evolução e o crescimento  proveniente disso. Quem resume bem as metas conquistadas e/ou pretendidas por essas gigantes do ensino é a poeta Cecília Meireles, quando diz que é preciso “acordar a criatura humana dessa espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhes a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação – mas por uma contemplação poética e participante”.
 


Gabriel Chalita, 33, é secretário de Estado da Educação. Doutor em Direito, Comunicação e Semiótica, professor da PUC-SP e da Unimes.


 

 

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