O Brasil tem vivido nas últimas décadas um impressionante crescimento da sua indústria aeronaútica, e tal levou a que a Força Aérea Brasileira (FAB) opere actualmente aeronaves de produção e projecção brasileira, como os modernos aviões de ataque AMX desenvolvidos conjuntamente com a Itália.
Este artigo aborda uma das aeronaves mais importantes para o desenvolvimento da indústria de aviões militares no Brasil, o AT-26 Xavante.
Este
veterano é actualmente o jacto de treino avançado da FAB, e a par desta missão
executa ainda missões de reconhecimento e ataque, embora esteja já a ser
retirado e substituído pelo moderno caça/bombardeiro AMX. No Brasil, o Xavante
foi construído sob licença pela EMBRAER, mas foi também produzido por
outras nações, entre as quais Itália, Austrália e África do Sul.
A versão brasileira equipa as forças aéreas da Argentina, Togo e Paraguai. O
avião além de possuir boas prestações como aeronave para treino avançado,
revelou também ser uma aeronave com uma boa capacidade para missões de combate.
Por exemplo, a variante sul-africana entrou em combate na Guerra da Namíbia
(do lado da África do Sul) e a versão brasileira foi utilizada pela Argentina
na Guerra das Malvinas em 1982.
No total foram construídos 761 aeronaves em todo mundo (182 no Brasil). Os
Xavantes (designação oficial M.B. 326) na Força Aérea Italiana (AMI) voaram
mais de 400.000 horas e formaram um total de 1. 973 pilotos.
No Brasil, o AT-26 surgiu com a necessidade de a FAB substituir os seus AT-33 já
no fim da vida operacional. Como requisitos principais a aeronave deveria fazer
a transição para a primeira a aeronave supersónica a servir nesse ramo. A
acrescentar havia o facto deste jacto de treino ter que possuir uma capacidade
relativa para missões de ataque, pois havia uma necessidade igual de substituir
os obsoletos AT-6.
O projecto italiano, o Aermacchi M.B. 326 (um avião muito semelhante ao AT-33A), era a aeronave ideal para os requisitos da FAB, desenvolvido com um configuração de dois assentos em linha, comum nos modernos aviões de treino e possuindo uma boa capacidade para missões de ataque e reconhecimento, pondo de parte uma configuração de assentos lado a lado semelhante à do T-37. O primeiro voo desta aeronave deu-se em finais de 1957, tendo no ano seguinte a AMI assinado um contracto para a compra das aeronaves.
Um dos requisitos para uma nova aeronave de treino era que as aeronaves teriam de ser montadas no Brasil, numa primeira fase em kits, passando a ser produzidas na sua totalidade no Brasil numa segunda fase.
Estes
factores ditaram desde logo um favorito, o M.B. 326. Já consciente do vencedor,
a FAB transportou em Outubro de 1969 num avião C-130E um Aermacchi M.B. 326
proveniente da AMI, que realizou várias demonstrações pelo Brasil, ostentando já as insígnias da FAB. Após essas demonstrações voltou
a Itália
em Novembro do mesmo ano.
O contrato para a produção do Xavante foi assinado no ano seguinte, tendo
cabido à EMBRAER, criada a 18 de Agosto de 1969, a produção do avião. Foi
incumbida de montar um lote inicial de 112 aeronaves para a FAB,
que receberam a designação de fábrica de EMB.326GB, e o nome de Xavante.
A produção do Xavante teve início com um ritmo acelerado, e em menos de 1 ano após a assinatura do contrato de produção saía das linhas de montagem o primeiro avião montado no Brasil. A produção do Xavante só pararia em 1981.
A sua polivalência tornou-o uma aeronave muito requisitada na FAB para várias missões, desde treino até missões de intercepção. As suas performances tornavam-no numa aeronave perfeita para fazer a transição de pilotos brasileiros dos aviões T-27 Tucano para aviões de combate a jacto.
Um
facto curioso e talvez desconhecido de alguns é que o Xavante chegou a possuir
uma versão com capacidade para fazer reabastecimento aéreo. O Centro Técnico
Aeroespacial desenvolveu durante a década de 80 um sistema REVO para
reabastecimento aéreo do AT-26 Xavante, chegaram a ser realizados
reabastecimentos envolvendo um KC-130H da FAB. Embora nunca tenha sido alargado
à restante frota, este sistema permitiu que a aviação brasileira efectuasse o
treino das tripulações de pilotos de caças em operações de reabastecimento
aéreo com custos muito menores.
Actualmente o número de Xavantes ao serviço na FAB ronda entre 40 e 60
aeronaves. Visto ser uma aeronave já muito antiga e obsoleta não vai ser
modernizada pelo que se espera que seja substituída pelo AMX-T na conversão de
pilotos para jacto e pelo ALX (versão melhorada do Tucano) para ataque ligeiro
e treino básico. As aeronaves abatidas ao serviço poderão vir a ser doadas à
Bolívia ou ao Paraguai.
Nome | AT-26 Xavante |
Tipo | Aeronave de treino avançado e ataque ao solo |
Fabricante | EMBRAER |
Autonomia | 648 km |
Velocidade Máx. | 871 km/h |
Altitude Operac. | 14.000m |
Motor(es) | Rolls-Royce MK-540 |
Envergadura | 10,84 m |
Altura | 3,72 m |
Comprimento | 10,65 m |
Peso Máx. | 5.220 kg |
Armamento | Variável |
Operadores | Brasil, Argentina, Paraguai e Togo |
Texto de:
Pedro Monteiro