Expedito C. S. Bastos*
O
primeiro veículo blindado sobre rodas especialmente projectado e fabricado para
a finalidade de reconhecimento, no Brasil,
foi a V.B.B. 4x4 (Viatura Blindada Brasileira), muito embora diversas tentativas reais foram realizadas durante
a Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo, mas sem qualquer
padronização, cada veículo concebido era único, não se pensando em ter uma
família e uma produção seriada.
A
ideia do desenvolvimento da
V.B.B. surgiu em 1967, com a criação do Grupo
de Trabalho dos Engenheiros de Automóvel do PqRMM/2, tendo seu
desenvolvimento desde a ideia concebida numa maqueta até sua concepção final
ocorrido entre julho de 1968 e início de 1970, um tempo relativamente curto,
estando o veículo totalmente concluído, tornando-se desta forma uma grande
escola prática para toda a equipe que pode alçar sonhos maiores, chefiada pelo
então Tenente-Coronel Pedro Cordeiro de Mello. (fotos 10 e
11)
Este
veículo foi concebido para uma tripulação de 4 homens, possuindo uma torre
giratória totalmente nacional fundida pela Fundições Alliperti, e usinada pela
Avanzi,
em aço classe SAE 5160, possuindo um sistema de apoio em três rolamentos e
cremalheira independente fixada no teto do carro. Era armada com um canhão de
37mm e metralhadora .30, no casco e uma metralhadora .50 sobre a torre.
Impulsionada por um motor Mercedes Benz
diesel, 200hp montado na sua parte traseira, sendo os eixos, os diferenciais e a
caixa de mudança também Mercedes Benz. Uma curiosidade é que a Mercedes Benz
teve que desenvolver um sistema de diferencial fora de centro para atender este projecto. A carcaça foi feita na
Trivelato,
enquanto que a caixa de transferência e tracção pela Engesa. Os radiadores pela
Colméia,
os filtro pela MANN, a direcção hidráulica pela ZF, os aparelhos ópticos (periscópios)
pela DF Vasconcelos e demais
componentes oriundos das indústrias automotivas instaladas no Brasil. (fotos 1,
7, 8 e 12)
Seu
desenho era convencional e tecnicamente não representava nenhuma melhora sobre
seus antecessores, mas ela foi importante porque abriu caminho no
desenvolvimento de outros veículos blindados mais avançados, que puderam ser
concebidos e criados por este mesmo grupo. Sua designação final foi V.B.B. 1. (fotos
2 e 3)
Ela
foi exaustivamente testada pelo Exército Brasileiro, nas mais severas condições,
inclusive uma de suas torres foi usada como alvo para ver sua resistência face
aos armamentos da época, tendo sido aprovada, mas o Exército queria um 6x6 e
ela era um 4x4 e o carro blindado de reconhecimento sobre rodas padrão em uso
era o M-8 Greyhound, oriundo das experiências brasileira, bem sucedidas, na
Campanha da Itália em 1944/45.
De
início cogitou-se em cortá-la ao meio, alongá-la e transformá-la num 6x6, o
que foi iniciado, mas logo abandonado, pois era mais racional desenvolver um
outro veículo na categoria 6x6 ao invés de transformar o existente e havia
recursos disponíveis para isto.
Apenas
uma foi construída sendo que na versão inicial ela possuía uma roda estepe na
lateral, o que até lhe dava um ar mais imponente, mas com o desenvolvimento
pela Novatração dos pneus PPB (Pneus à prova de Bala), sob os auspícios do Exército através do PqRMM/2,
esta roda foi suprimida e no seu lugar foi completada a sua blindagem, daí
existir fotos com e sem a roda estepe, levando a pensarmos na existência de
dois protótipos quando na realidade só um existiu. (fotos 4,
5 e 6)
É
curioso ressaltar que num artigo dos anos 70, para a conceituada revista Armor,
do U.S.Army, intitulado Brazilian Armor,
o especialista inglês em veículos blindados Professor Richard M. Ogorkiewicz, assim se referiu a este
projecto brasileiro:
"O mérito desse desenvolvimento, bem como das
modificações de veículos anteriores, pertence à Directoria de Pesquisas e
Ensinos Técnicos, ou D.P.E.T., do Exército Brasileiro.
Um outro factor importantíssimo originado deste projecto foi a concepção de estudos sobre blindagem e torres, coisa até então inexistentes no país.
Entre
os anos de 1969 e 1970 aprendeu-se muito sobre estes temas, firmando até um
convénio entre o D.E.P.T. e o I.P.T. (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) de São Paulo,
obtendo-se o apoio de empresas privadas e algumas multinacionais e isto seria de
grande importância para os desenvolvimentos futuros.
Actualmente
sua carcaça, com uma torre incompleta, se encontra "morrendo
lentamente" como monumento, ao ar livre, no Centro
Tecnológico do Exército, na região da Restinga da Marambaia, no Rio de
Janeiro, onde a maresia o está destruindo, o que é lamentável, visto que o
mesmo deveria ser recuperado e levado para o Museu Militar Conde de Linhares
onde em local coberto sobreviveria para que as gerações futuras pudessem ver e
entender uma época importante no desenvolvimento de blindados no Brasil. (foto 13)
Ficha Técnica:
Nome:
Viatura
Blindada Brasileira 1 – VBB-1;
Tipo:
Veículo
Blindado de Reconhecimento 4x4;
Construtor:
Parque
Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar de São Paulo – PqRMM/2;
Velocidade:
90km/h
Peso:
7 toneladas
Armamento:
Um canhão de 37mm, uma metralhadora .30 e
uma .50;
Raio
de acção:
1.200km
Motor:
Diesel Mercedes Benz OM-321, seis cilindros, 120hp
Rampa
máxima:
60%
Raio
de curva:
7 metros
Pneus:
PPB-Novatração 900 x 20
Legendas e Créditos
das Fotos:
Foto
1 – A
VBB-1 em construção no PqRMM/2,
fotografada em 25 de outubro de 1968. (autor)
Foto
2 - A
VBB-1 pronta para ser apresentada ao
Estado Maior do Exército em 1969. Notar o estepe na lateral do veículo.
(autor)
Foto
3 – A
VBB-1 totalmente armada e já sem o
pneu estepe. Está equipada com quatro pneus PPB (Pneu à Prova de Balas) desenvolvidos pela Novatração em
1969. (autor)
Foto
4 - Vista
traseira da VBB-1quando em testes em São Paulo em 1970. A sigla DGPP
significa Directoria Geral de Pesquisas e Provas, criada em 1969.(autor)
Foto
5 –
A VBB-1 em testes em terreno
acidentado. Notar o diferencial dianteiro fora de
centro desenvolvido pela Mercedes Benz do Brasil.
(autor)
Foto
6 – Testes
realizados na região de Peruíbe, SP, com a VBB-1
se deslocando a grande
velocidade numa praia deserta. (autor).
Foto
8 – A
torre da VBB-1 pronta para ser instalada no veículo. Esta foi a primeira torre
produzida no Brasil em aço especial para um veículo blindado 4x4. (autor)
Foto
9 – Teste
de tiro real com o canhão de 37mm a 90º e metralhadora . 50, realizado em
1969. (autor)
Foto
10 – A
maqueta em escala do que deveria ser a VBB-1.Notar que ela difere um pouco do
modelo que foi construído. (autor)
Foto
11 – A
VBB-1 em frente ao prédio da fábrica Mercedes Benz do Brasil em São Paulo. Na
foto, de farda, o criador da VBB - Tenente-Coronel Pedro Cordeiro de Mello - e
ao seu lado um dos Directores da Mercedes Benz, em abril de 1969. Notar que os
quatro pneus já são os PPB. (autor)
Foto
12 – O
motor Mercedes Benz OM-321 instalado na VBB-1 em 05.10.1968, no Parque Regional
de Motomecanização, em São Paulo. (autor)
Foto
13 - A
VBB-1 hoje como monumento no CTEx. A aparência é boa, mas de perto pode-se ver
o elevado estado de deterioração, fotografada em agosto de 2003. (autor)
* O texto foi mantido como originalmente escrito, tendo permanecido em português do Brasil. O site "Military Zone" convida os visitantes a contribuírem, dando a sua opinião acerca deste artigo ou contactando-nos através do e-mail do site ou do autor.