Pedro
Monteiro*
Na actualidade, a nossa frota de combate está muito aquém dos níveis tecnológicos presentes nas homólogas da NATO, sendo igualmente a nossa frota bastante menor.
Em
termos de estrutura, a marinha divide-se essencialmente no Corpo de Fuzileiros e
nas unidades navais de superfície, totalizando perto de 27 navios de combate, a
que se acrescenta mais algumas dezenas de navios de patrulha costeira e busca e
salvamento.
A
maioria destes navios é de construção estrangeira, sobretudo europeia, tendo
já uma vida operacional superior a 25 anos. Além de serem obviamente obsoletos
(quer pela idade, quer pela falta dos necessários upgrades dos equipamentos),
os navios sofrem uma das suas principais limitações: foram construídos para
missões que na actualidade já não figuram nas missões da marinha portuguesa
(missões de combate na costa africana) e que limitam grandemente a eficácia
destes nas águas do Atlântico Norte.
Recentemente
a marinha optou por um ambicioso programa de reequipamento que visa finalmente
equipar a frota com navios apropriados para as missões actuais, sendo o seu
financiamento assegurado pela Lei de Programação Militar (LPM) que contempla
todas as aquisições das forças armadas.
No
campo de navios de combate a grande prioridade vai para a esquadrilha de
submarinos.
No
caso português o submarino mais antigo no activo tem a idade impressionante de
33 anos e é de momento o submarino mais velho da NATO. A sua substituição
tarda e mesmo com avanços registados nos últimos anos, a recepção de novas
unidades só será feita em 2007. De momento os dois concorrentes são o
veterano U-209 (se bem que numa versão que engloba a tecnologia do U-212) e o
futurista Scorpéne da DCN.
A
capacidade de guerra submarina reduz-se a 2 submarinos a diesel do tipo Daphné.
A classe ‘Albacora’ era inicialmente constituída por 4 submarinos
adquiridos da década de 60: um foi vendido à França em 1976 (que o repassa ao
Paquistão) e em 2000 o próprio ‘Albacora’ é abatido. O seu armamento
limita-se a torpedos ( ‘L3’ e ‘E14’) e a sua autonomia restringe-o ao
Oceano Atlântico, os novos sucessores terão já o sistema AIP (Air Independent
Propulsion) e mísseis anti-navio do tipo Sub-Harpoon ou variantes, em aberto
fica também a aquisições de mísseis anti-helicóptero. Ambos os modelos têm
uma tripulação de perto de 35 homens, uma autonomia para 45 dias, e capacidade
para realizar desembarque de pequenos grupos de forças especiais sem terem que
emergir.
Na
área dos navios de superfície existem 2 classes de fragatas: a ‘Vasco da
Gama’ (Meko 200) e ‘João Belo’ (da classe francesa ‘Comandante Riviere’,
também operadas pelo Urugay).
As
fragatas Meko 200, recebidas no início da década de 90, representaram o maior
avanço tecnológico para a marinha desde a década de 70. O ramo pretendia
adquirir fragatas novas desde anos anos 80, mas só com o crescimento económico
é que foi possível fazer esta aquisição. Porém foram parcialmente pagas por
alguns membros da NATO, daí que uma unidade esteja atribuída à Stanavforlant.
As 3 unidades realizam missões de luta ASW graças aos sensores e armamento
nessa área, mas inovaram também em outras áreas. Foram as primeiras unidades
da armada portuguesa a receber mísseis: os mísseis anti-navio Harpoon e os Sea
Sparrow para defesa aérea a curta distância. O navio possui também o sistema
CIWS Vulcan Phalanx de 20mm para defesa de ponto e na luta de superfície o
navio está equipado com uma peça de fabrico francês, Mod.68 de 100mm.
Devido
à sua função na esquadra da NATO, as fragatas receberam vários sistemas para
comunicações e controlo, tal como o MCCIS (Mariteme Comand and Control
Information System) e um sistema de comunicações de concepção portuguesa, o
SICC (Sistema Integrado de Controlo de Comunicações), que equipa também
outras unidades da marinha e que foi escolhido para equipar as novas fragatas
holandesas.
Na
guerra anti-submarina destaca-se o moderno e eficaz sonar AN/SQS 510, torpedos
Mk44 e Mk46, bem como os 2 helicópteros orgânicos Super Lynx que podem ser
armados com torpedos. A marinha possui apenas 5 unidades (adquiridas em 1993),
mas a médio prazo tem em vista a aquisição de mais 3 aeronaves.
Herdadas
da Guerra Colonial existem 3 fragatas da classe ‘João Belo’ (inicialmente
4, uma foi abatida em 1999), já obsoletas para a moderna guerra naval, mas
ainda com alguma utilidade na guerra anti-submarina graças aos seus sensores. Não
possuem helicóptero orgânico o que limita muito o seu uso, mas foram objecto
nos finais dos anos 90 de uma modernização nos sistemas e armamento de modo a
prolongar a sua vida em mais 10 anos. Estas unidades adquiridas à França em
1967, têm de momento como armamento 2 peças de 100mm e 2 reparos de 40mm para
luta anti-aérea, mas destacam-se essencialmente pelas suas prestações na
guerra ASW com os torpedos Mk.46 e o uso do moderno sonar SQS-510. Está
prevista a sua substituição a longo prazo por 3 unidades novas ou usadas para
defesa de área.
No
que respeita a navios de guerra surgem ainda as corvetas: classe Baptista
Andrade (4 unidades) e ‘João Coutinho (5 unidades) ambas de construção
espanhola e também alemã, sendo os projectos de origem portuguesa.
As
‘João Countinho’ obedecem ao projecto inicial da década de 70 e são
usadas somente para patrulha (têm como armamento principal um reparo duplo de
76,2mm). As corvetas ‘Baptista Andrade’ são uma evolução das ‘João
Coutinho’ com vários avanços tecnológicos e incorporando algum armamento e
sensores mais sofisticado. Estas unidades embora actualmente sejam usadas para
patrulha e busca e salvamento na ZEE (Zona Económica Exclusiva) estão
equipados com uma peça de 100mm Mod.68, lança-torpedos Mk.32 e reparos de
40mm. Além deste armamento tem uma pista que permite receber um helicóptero
abordo.
A
sua substituição está prevista a curto prazo, com a construção em
estaleiros portugueses de 10 patrulhas oceânicos (NPO). Os navios de concepção
portuguesa, serão equipados com armamento ligeiro apenas para patrulha e terão
uma tripulação bastante reduzida de apenas 30 homens (as corvetas têm tripulações
superiores a 100 homens).
Para
patrulha, a armada usa igualmente 8 patrulhas classe ‘Cacine’ (inicialmente
10), que foram projectados para águas costeiras africanas. Daí que a sua operação
nos arquipélagos dos Açores e Madeira seja muito difícil e dispendiosa devido
à manutenção exigida por estes navios. Está prevista igualmente a sua
substituição pelos NPO.
No
programa dos NPO, a marinha também prevê a construção de navios derivados
desta classe, para luta contra a poluição e balizagem. Para patrulha está já
em curso um programa de construção de lanchas de patrulha classe
‘Centauro’ em estaleiros nacionais.
Nas
missões de reabastecimento e apoio logístico a marinha usa o navio logístico
‘Bérrio’ que foi adquirido em segunda-mão ao Reino Unido em 1993. Este
pode transportar até 4.500 toneladas de gasóleo, além de outros víveres e
combustíveis para helicópteros. A sua pista permite receber a bordo um helicóptero
Lynx.
Para
investigação hidrográfica a marinha possui 2 navios da classe ‘D. Carlos
I’ (antigos navios da classe ‘T-AGOS’ da US Navy), e outros navios menores
das mesmas funções e 1 navio balizador (o ‘Schultz Xavier’).
A
geografia de Portugal torna imperativa a existência do Corpo de Fuzileiros. Além
de garantir a capacidade de projecção de forças através de unidades da
marinha pode intervir também na defesa do território nacional e em missões de
interesse público.
Actualmente
a estrutura operacional engloba 600 homens dentro de várias unidades. Além das
unidades de infantaria (2 batalhões, um deles de reserva) e das unidades de
apoio, existe a importante unidade DAE (Destacamento de Acções Especiais),
constituída aproximadamente por 20 homens. Esta unidade destina-se a missões
especiais de reconhecimento, combate, resgate de reféns, sabotagem ou apoio médico
de emergência. O seu equipamento é variado, destacando-se a espingarda automática
G-3 e a M-16 (com lança-granadas de 40mm e culatra retrátil), possuindo a
capacidade para intervir em cenários NBQ (Nuclear, biológico, e químico). O
equipamento da unidade conta também com o canhão sem recuo 'Carl
Gustaf' de 81mm, mísseis anti-carro ‘Milan’, morteiro pesados de 81mm e
120mm, e mais recentemente a pistola austríaca Glock 17 de 9mm, que completa a
Walther MPK.
Foi
proposto um reequipamentodos fuzileiros, que implica a substituição da G-3 por
uma arma nova de calibre 5,56mm e novos morteiros pesados de 120mm, e a aquisição
de 20 a 30 viaturas blindadas. Os blindados de rodas (versão 6x6 ou 8x8)
permitiriam ter várias versões num mesmo modelo, a exemplo do LAV-25 dos US
Marines, e seriam usados para reconhecimento, desembarque, apoio de fogo e missões
de transporte e comando.
Até
agora é notória a necessidade de um meio próprio para os fuzileiros se
deslocarem. Por isso está prevista a construção de um navio LPD (do género
do espanhol Galizia), que estará operacional em 2004. Este poderá transportar
um contigente máximo de 400 homens inclusive os seus meios de combate, e
desembarcá-los por via aérea (recorrendo aos helicópteros orgânicos) ou por
via marítima (através das lanchas de desembarque). O navio pode funcionar como
navio-hospital, fornecendo apoio médico
e humanitário a operações da marinha e de outros ramos.
Com
a entrada de Portugal para o projecto do helicóptero médio NH-90 (a equipar a
unidade aérea do exército), este modelo poderá equipar inclusive o LPD. Para
desembarques anfíbios, os fuzileiros recorrem a várias unidades da marinha e
às lanchas de desembarque: 3 LDG (Lanchas de Desembarque Grandes) construídas
em Portugal e com capacidade para transportar até 120 fuzileiros ou 350
toneladas de carga. Em serviço estão também as LDM (Lanchas de Desembarque Médias)
com capacidade para 48 toneladas de carga.
Após
o fim da Guerra Colonial, a cooperação militar com os PALOP tornou-se uma das
principais missões da marinha portuguesa no âmbito internacional. Em 1998,
aquando da guerra civil na Guiné-Bissau, uma força tarefa constituída por
unidades da marinha realizou a evacuação de refugiados dos cenários de crise
e foi abordo da fragata ‘Vasco da Gama’ que se assinou um cessar-fogo.
Portugal
tem participado igualmente noutros cenários internacionais, como por exemplo no
embargo da NATO à federação Jugoslávia, para o qual contribuiu com várias
unidades navais e com um submarino que participaram.
* O actual artigo foi publicado, numa versão compilada, no site da revista brasileira Tecnologia & Defesa.