As fragatas da classe "Vasco da Gama" são presentemente as mais importantes unidades ao serviço da marinha portuguesa. Estes navios garantem um incrível potencial de crescimento das suas capacidades com a inclusão de novos sensores e armamento sem ter que recorrer a grandes alterações na estrutura do navio.
A intenção de adquirir estes meios para a armada tinha já origem na década de 80, tendo em vista a substituição das fragatas da classe Pereira da Silva. Esta classe, aquando da sua entrada ao serviço na década de 70, apresentava já uma desactualização do seu equipamento e armamento face a unidades da mesma época, notória era a falta de mísseis, cuja venda tinha sido recusada devido à situação bélica vivida nas colónias portuguesas. A Guerra Colonial, esteve na origem de um embargo internacional à venda de armamento a Portugal, o pouco armamento existente, ou era exclusivamente para uso em missões da NATO, ou provinha da França e Alemanha, os únicos países que continuavam a fornecer armamento moderno às forças armadas portuguesas. Foi nesta delicada situação que surgiu a doação do projecto da US NAVY a Portugal. O projecto foi adaptado e a sua construção deu-se em Portugal, contudo nos anos 80 eram notórios vários problemas que incapacitavam o navio de cumprir as funções de luta ASW, a destacar a falta de um helicóptero orgânico e um sistema de propulsão de mais fácil manutenção.
O
processo arrastou-se ao longo de vários anos e somente na década de 80 a
situação económica permitiu fazer tal investimento. Iniciaram-se então vários estudos que
definiram as principais características do navio.
Em 1985, foi anunciada a vitória do consórcio Blohm+Voss e a construção de 3
fragatas do tipo Meko 200.
Tendo
parte do custo total dos navios sido pago graças a contribuições de outros membros da NATO, uma unidade
está atribuída à Stanavforlant,
tendo já por diversas vezes os navios portugueses assumido o comando da
esquadra.
A construção dos navios iniciou-se em 1989, tendo sido entregues oficialmente à armada ao longo de 1991.
Estes navios foram por certo a mais importante mudança na marinha, pois finalmente existiam navios capazes de realizar várias missões com igual prontidão. O principal avanço registado deu-se com a introdução de mísseis e com capacidade para operar 2 helicópteros orgânicos.
Na marinha a sua principal função é a luta ASW usando para isso os modernos sensores e armamento que possui. Para detecção os navios contam com o moderno e eficaz sonar AN/SQS 510. Para ataque anti-submarino e anti-navio o navio dispõe de 2 lançadores triplos Mk.32, que podem lançar torpedos Mk44 e Mk46; estes últimos também podem ser lançados pelos helicópteros Super Lynx tanto com o uso do sonar da fragata como o sonar acústico que as aeronaves podem operar.
Para
peça de fogo optou-se por um modelo já conhecido na nossa marinha, a arma
naval Mod68 de 100mm que equipa as fragatas João Belo e as corvetas Baptista
Andrade. Na armada francesa a maioria das unidades está equipada com esta arma. Tal
facto permitiu uma melhor logística, além de facilitar o treino das guarnições.
A peça foi melhorada, o que permitiu aumentar a velocidade do tiro com ganhos
óbvios no combate contra alvos em movimento (por exemplo lanchas ou aviões),
por outro lado o calibre 100mm dá uma boa polivalência, quer no apoio
de fogo contra alvos em terra, quer até na luta anti-aérea.
Como é lógico a introdução de um míssil anti-navio no armamento do navio
era obrigatória, optou-se pelo míssil Harpoon usado por várias forças da
NATO. Assim as Meko 200 têm 2 lançadores quádruplos, que lhes dão uma capacidade de combate
considerável a médias e longas distâncias, embora na maioria das patrulhas, os
navios não transportem a totalidade dos mísseis.
Em
termos de defesa anti-aérea a evolução foi notória, passando a marinha a
contar com dois modernos sistemas: mísseis de curto alcance e um
close-weapon-system.
O reparo óctuplo de Sea Sparrow é uma arma de defesa de ponto que permite
abater mísseis a curtas e médias distâncias. O seu alcance é de
aproximadamente 20km; a partir destas distâncias teria de se recorrer aos
mísseis de médio alcance.
Por fim o eficaz Vulcan Phalanx de 20mm, um canhão com 6 tubos e de funcionamento
autónomo, com radar de busca independente. Usado por vários países, este
sistema de defesa de ponto é a última e a mais eficaz defesa contra os
modernos mísseis anti-navio. As suas munições são de tugsténio e o modelo
usado na nossa marinha é capaz de disparar 3.500 munições por minuto. Assim, as hipóteses do míssil ser destruído ou desviado aumentam já que é um
sistema rápido e de grande potência de fogo. Para defesa anti-míssil, o navio dispõe ainda de 2 lançadores de chaff,
o SRBOC Mk36 mod.1, que tem também capacidade para lançar flares.
A marinha opera também 5 helicópteros médios Super Navy Lynx que estão
atribuídos à Esquadrilha de Helicópteros, sendo contudo orgânicos dos navios
quando embarcados. Este modelo revela uma incrível versatilidade permitindo
realizar variadas missões desde a luta ASW, transporte e ligação, logística, apoio de
fogo, reconhecimento e até heli-assalto em pequena escala. Os 5 helicópteros
foram recebidos em 1993, sendo 2 deles novos e os outros modernizados. Está
prevista a aquisição
de mais 3 aeronaves para reforçar as já
existentes de modo a ter sempre 2 em
cada fragata e as restantes para treino.
Devido
à sua função na esquadra da NATO, as fragatas receberam vários sistemas para
comunicações e controlo, tal como o MCCIS (Mariteme Comand and Control
Information System) e um sistema de comunicações de concepção portuguesa, o
SICC (Sistema Integrado de Controlo de Comunicações), que equipa também
outras unidades da marinha e que foi escolhido para equipar as novas fragatas
holandesas.
As fragatas realizam
igualmente patrulha da costa portuguesa, garantindo quando necessário a busca e
salvamento na ZEE, assim como a fiscalização das pescas nesta área. Em 2001
começarou-se
a treinar as guarnições dos navios desta classe para operações de apoio
às populações em situações de catástrofe, os exercícios envolvendo a
actuação dos navios em cenários de catástrofes naturais são frequentes e
têm-se revelado importantes na avaliação da prontidão da marinha para
responder a um situação real.
Após ter participado nas operações de embargo naval à Jugoslávia, a fragata
"Vasco da Gama" esteve em missões na Guiné em 1998 aquando do resgate de portugueses
durante a guerra civil, e mais recentemente em
Timor para apoiar as populações durante o período de transição.
Além
de serem as
principais unidades da armada portuguesa, o que provavelmente continuarão a ser
nos próximos anos. As "Vasco da Gama" são também das
unidades de combate mais capazes da Europa, representando a tecnologia de ponta
presente nas modernas unidades navais da NATO.
Actualmente estão a meio da sua vida operacional e receberam um upgrade nas
comunicações e nos sistemas de controlo.
Em termos de armamento, é possível a colocação de um sistema de defesa
anti-míssil, a ré da peça
de 100mm. Outra possível alteração é substituir o lançador de mísseis
Sea Sparrow por um lançador vertical do mesmo, com enormes vantagens na rapidez
do lançamento dos mísseis. Estas e outras alterações são exemplificadas num
esquema.
A capacidade de readaptar os navios às necessidades individuais de cada país
é uma das qualidades óbvias do projecto Meko, daí que a possibilidade das
fragatas da classe "João Belo" serem substituídas por uma outra classe de fragatas Meko
não seja de todo impossível. Poder-se-ia até
adquirir 3 fragatas Meko numa versão de defesa aérea, embora as fragatas stealth
sejam as prováveis sucessoras das João Belo caso se opte por navios novos.
Acima de tudo a aquisição destes navios veio permitir à marinha recuperar o atraso registado nas últimas décadas permitindo que os militares portugueses estivessem equipados com moderno material bélico e permitindo a entrada de Portugal para o campo do comando de operações navais na NATO, assim como revolucionou toda a doutrina de força tarefa da marinha portuguesa, passando-se finalmente a contar com unidades de real capacidade bélica e dissuasora.
Nome da Classe |
Classe "Vasco da Gama"- Meko 200 |
Comprimento |
115m |
Tonelagem |
3.300 toneladas |
Velocidade Máxima |
32 nós |
Autonomia |
4.100 milhas |
Sensores |
Sonar SQ-510 Radar de busca de superfície Signaal/Magnavox DA08 Radar de busca aérea Signaal MW08 Sistema de controlo de tiro STIR Sistema de guerra electrónica APECS II/AR 700 |
Armamento |
1 peça de 100mm Mod68 CADAM 2 lançadores quadrúplos de mísseis Harpoon 1 lançador óctuplo de mísseis Sea Sparrow 1 sistema de defesa de ponto Vulcan Phalanx 20mm 2 lançadores triplos de torpedos Mk 32 Torpedos Mk 44 e Mk 46 |
Helicópteros |
2 Westland Super Lynx Mk 95 |
Guarnição |
180 (inclui grupo aéreo) |
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Texto de:
Pedro Monteiro