VELHA ESTRADA



Todos temos um momento especial de inspiração na vida.
Compete a nós identificá-lo e decidirmos o que fazer quando ele se apresenta, antes que o mesmo se desvaneça e se vá para nunca mais.
Meu momento ocorreu em uma destas manhãs, exatamente naquele momento em que a noite está ainda um tanto quanto indecisa sobre sua permanência, e o dia se aproveita desta indecisão se impondo como uma nova esperança de sermos felizes (mesmo que por momentos).
Minha inspiração chegou num rompante avassalador, meio que me agarrando pelo pescoço, não me deixando dúvidas sobre sua presença. Veio como se fosse um tipo de iluminação, algo místico, cabendo-me apenas a aceitação.
Por momentos dissiparam-se todas minhas incertezas, e que nem são só minhas, sobre a existência humana.
Entendi a vida como uma estrada, nem sempre reta, nem sempre plana.
Somos os caminhantes desta estrada, e nem sempre caminhamos sós.
Na maioria das vezes seguimos acompanhados. Umas vezes bem, outras mal, mas raramente sós.
Alguns companheiros, cansados, desistem ao longo do caminho, enquanto outros enveredam por atalhos ou estradas vicinais, e seguem para outros destinos.
Mas, em alguns pontos da estrada encontramos outros companheiros e prosseguimos juntos novamente, até que objetivos diferentes, ou a falta de interesses comuns acabem por nos separar mais uma vez.
E assim vamos em frente carregando, algumas vezes, uma alegria incontida, outras, uma tristeza infinita.
Com sorte, por alguns períodos, a estrada permanecerá plana, e mesmo quando se apresentar com obstáculos, estes acabam por preparar e moldar melhor nossos espíritos.
Ouvi à muito tempo que as palavras acabam por serem levadas ao vento, pelo vazio de suas intenções, sejam elas doces ou amargas, mas nossas ações, assim como as pegadas, gravam o espaço percorrido, marcando em alguns pontos sulcos profundos, quando carregamos todos os problemas do mundo nas costas, enquanto em outros as pegadas serão quase que imperceptíveis, que é quando caminhamos dividindo o peso dos problemas com alguém.
Serão raras as vezes em que chegaremos acompanhados ao final da estrada.
Serão muitos os companheiros que deixamos para trás, e outros tantos que seguiram à nossa frente.
Ao concluirmos a caminhada, teremos um lugar para descansarmos e repormos nossas energias e, com sorte, ainda reveremos velhos companheiros de trilha.
Com energia renovada, e mais esclarecidos, vamos nós de novo para o início de uma nova caminhada... desta vez por uma estrada diferente.
Talvez nos encontremos em alguma das curvas da estrada. Afinal são tantas as curvas, e são tantas as estradas.

Hasta la vista!!


Agnaldo Martins






1