DEIXANDO DE SER AUTÊNTICO
Nos é ensinado desde pequenos que precisamos ser fortes para
vencer na vida.
E ser forte, é uma modalidade criada em cima da imagem de
uma pessoa, que mesmo diante da maior dificuldade ou calamidade mantém-se
calmo, de cabeça elevada e sorriso no rosto.
Chorar então, é a maior demonstração de fraqueza.
Sorrir, só
baixinho, de preferência só esboçar o sorriso, sem articular nenhum som.
Diante disso, lembramos de como eram felizes nossos avós, cuja
maioria vivia uma vida mais simples do que a nossa.
Eles mantinham algo que
perdemos, só porque precisamos nos adequar à modernidade: algo que se chama
autenticidade.
Eles eram felizes porque sorriam na alegria, choravam na
tristeza, assobiavam enquanto caminhavam ou trabalhavam, cantarolavam mesmo
que fosse desafinado acompanhando o velho rádio, que era toda a modernidade
que possuíam em suas casas.
Gargalhavam quando se fazia festa, silenciavam
diante da dor...
Porque não conseguimos mais demonstrar nossos sentimentos no
momento em que estes nos afloram?
Por que somos proibidos de chorar no
momento em que o nosso peito está sufocado pela dor?
Somente para nos
tornarmos hipocondríacos, dependentes de drogas, de psicólogos, ou para
acabarmos a nossa vida antes do tempo.
É um auto-suicídio, o que estamos
fazendo conosco mesmo.
Por que não sorrir, gargalhar, deixar fluir a minha energia
interna em forma de alegria espontânea, se assim tenho vontade?
Somente para
manter uma imagem bonita, e para que todos pensem que eu sou uma pessoa
equilibrada.
Imagem falsa!
Não estou sendo eu, estou a fingir, estou
mascarado.
Por que não posso olhar nos olhos do meu filho e dizer: Eu te
amo?
Imagine só, um homem declarando amor a outro homem!
Esquecemo-nos de
que o nosso espírito que é a nossa essência, e o nosso coração que é o
centro da vida, não possuem sexo.
É hora de deixá-los falar!
Que diriam de mim se, em plena manhã me encontrassem na rua
assobiando?
Certamente me chamariam de anormal.
O que me proíbe de ligar para aquela pessoa que está enchendo o
meu coração do mais sublime dos sentimentos, e dizer-lhe tudo o que sinto?
Falar do quanto é bom ouvir a sua voz, sentir o seu cheiro, o seu calor, do
quanto preciso da sua presença?
É apenas o medo de enfraquecer-me diante do
outro.
Porque não escrever a poesia sem rimas que está em minha cabeça, com
as palavras de amor que precisam ser ditas?
Por que não cantar ao seu
ouvido, fazê-la sorrir?
Por que não convidá-la para dançar? Por que não
falar dos meus sentimentos?
Certamente porque somos egoístas demais para fazer alguém muito
feliz e consequentemente, medrosos, temerosos da opinião alheia.
E assim, todas as vezes que nos omitimos diante de nossos
desejos mais íntimos, ou nos omitimos em demonstrar nossos sentimentos,
estamos criando pedras dentro de nós.
Amarguras que vão desaguar em algum
tipo de doença.
Estamos deixando de ser felizes e fazer as pessoas felizes,
estamos sendo maus e injustos.
É tão bom sorrir, gargalhar...
É tão necessário chorar!
É tão
bom viver, assobiar, tomar banho de chuva, caminhar de pés descalços, dançar
descompassado, abrir a janela e cantarolar ...
É tão bom ser a gente mesmo,
desnudos, sem máscaras e preconceitos.
É tão bom ser "gente" podendo imitar
Deus, sendo feliz naturalmente, em pleno gozo do nosso direito de viver!
É tão bom me permitir ser feliz!!!!!
Leni W. Saviscki