AMIGOS VII



Meus amigos são todos assim...
metade loucura, metade santidade.

Escolho-os não pela pele, mas pela pupila...
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

Fico com aqueles que fazem de mim "louco" e "santo".

Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Coisa de louco...
Louco que senta, horas e horas, de conversa ou de silêncio, e espera a chegada da lua cheia.

Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Não quero deles só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria...
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim:
metade bobeira, metade seriedade.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem.
Mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância, metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto. E velhos, para que nunca tenham pressa.

Preciso deles para saber quem eu sou, pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei que a normalidade é uma ilusão...estéril!






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